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Com tamanha abundância e variedade de jogos indie atualmente, fica difícil de administrar nosso tempo com tantos títulos interessantes e ainda conciliar com os eventuais AAA que dão as caras. Muitas desenvolvedoras independentes buscam fazer sua fama com jogos inovadores, saudosistas e, em alguns casos, até revolucionários. Criar um game realmente não é fácil e nem barato, e quanto menor o time criativo, mais desafios surgem no caminho desses ambiciosos desenvolvedores que só querem que seus projetos ganhem vida algum dia.

O jogo que falaremos aqui hoje é só mais um exemplo de como apenas meia dúzia de pessoas conseguem transformar uma boa ideia em algo magnífico. A GUTS Department é um estúdio sediado em Los Angeles, que foi fundado em 2013 na USC (University of Southern California). A empresa surgiu após alguns alunos do curso de desenvolvimento de jogos produzirem uma demo muito promissora para um trabalho de conclusão de semestre. O diretor do projeto, Bryce Kho, havia pensado no conceito do título há anos, mas só então ele teve a oportunidade de tirar do papel e transformar aquela ideia em um protótipo, e este protótipo foi o bastante para que o game arrecadasse mais de $140 mil dólares em um campanha no Kickstarter em 2014, e assim nascia oficialmente Aegis Defenders.

Uma mistura que deu muito certo

Aegis Defenders se passa em um futuro distópico, onde uma era de escuridão caiu sobre a humanidade após uma grande calamidade, e hoje um imperador maligno reina sobre toda a civilização existente. Nesse mundo, o homem cobiça o controle de tecnologias antigas que já foram perdidas, essas que são quase uma lenda e podem ser usadas como armas de destruição em massa, e por conta disso não devem cair em mãos erradas. As pessoas adoram robôs humanoides como se esses fossem deuses de verdade, chamados de Deathless, aqueles que não morrem. Mas um dia um certo mortal conseguiu provar o contrário e trazer uma nova era para a humanidade.

Cada personagem possui sua própria função nos puzzles e nos combates

Dentro de tudo isso temos a dupla que protagoniza o jogo, os exploradores Bart e sua neta Clu, que juntos moram em um pequeno vilarejo e nunca foram muito longe por medo dos perigos que as terras mais distantes guardavam. Após darem de cara com um pequeno robô chamado Kobo, a dupla encontra uma esperança para salvar seu povo do perverso imperador: uma arma lendária chamada Aegis. Então eles partem em uma jornada em busca dessa arma, onde nela conhecerão alguns aliados muito interessantes e farão inimigos muito perigosos. O enredo é muito profundo e consegue ficar mais interessante a cada capítulo que passamos; aos poucos descobriremos mais sobre o Aegis e o passado daquele povo ao longo de 18 fases. Então sim, pode esperar que seu tempo de jogatina ultrapasse as 10 horas, pois essas fases não são tão rápidas de serem concluídas.

O jogo é uma mistura de Metroidvania com plataforma e Tower Defense que deu muito certo, o que dá toda uma identidade própria. Retirando algumas exceções, as fases seguem um padrão onde temos todo um trecho de plataforma e exploração seguindo o já citado estilo Metroidvania, onde vamos pulando de lá pra cá, matando inimigos, caçando relíquias e resolvendo puzzles para continuar. A fase sempre será concluída com um trecho Tower Defense, e aqui teremos que defender algo sendo atacado por 5 ondas de inimigos com dificuldade crescente. Nessas horas Aegis Defender toma um rumo totalmente diferente do que estávamos vendo, o raciocínio estratégico entra em cena e o game te obriga a pensar em tudo muito rápido. A única parte ruim disso tudo é que esses trechos geralmente consomem bastante tempo e como as fases sempre seguem esse padrão, é bem capaz que o jogador não consiga manter uma jogatina constante por enjoar rápido demais, mas nada que um pequeno descanso não acenda de novo a chama que te atrai à aventura.

Eu sempre preferia jogar os trechos plataforma, por ser um gênero que me agrada mais, mas as partes Tower Defense conseguem te passar uma tensão que poucos jogos já tiveram a proeza de me transmitir. Os personagens contam com um sistema de crafting e cada um usa um tipo de item para criar alguma armadilha para os monstros que atacam o que você irá defender. Por exemplo: Clu usa flores para criar bombas, Bart usa minérios para criar torretas, e ainda haverão outros personagens que desbloqueamos posteriormente com outros tipos de habilidades e que usam outro tipo de item. Antes de cada onda de inimigos aparecer, o jogo te dá exatos 60 segundos para coletar o máximo de materiais que conseguir e montar armadilhas ao redor dos pontos de Spawn dos monstros, e é essencial saber que tipo de armadilha usar em cada portal e qual personagem deixar parado lá para enfrentar os monstros, pois enquanto você controla um a CPU comanda os outros de acordo com o que você ordenar.

Cada fase conta com 4 relíquias nem tão escondidas

A estratégia toda não para por aí, pois cada personagem tem sua especialidade e cada tipo de monstro possui fraqueza para um tipo de personagem, representados pela sua cor, onde monstros azuis são fracos aos tiros da Clu, monstros amarelos são fracos as marretadas do Bart, e por aí vai. Cada detalhezinho desse jogo é puramente estratégico, e a dificuldade desses momentos de defesa conseguem se destacar de longe se comparado aos momentos Metroidvania, já que a cada onda a coisa vai piorando mais, e na última o desespero toma conta de tudo. A dificuldade vai do Normal até o Insano, e mesmo jogando no menor nível, em diversos momentos me perguntava se eu realmente estava jogando no Normal, pois a coisa apertava de um jeito que chegava a ser inacreditável, sem contar com o fato de exigir muitas e muitas mortes para ter um domínio da fase e conseguir concluí-la. O jogo recompensa os bons jogadores, pois concluir a fase sem perder nenhum coração e coletando todas as relíquias te garante bons lucros.

Esses lucros podem ser gastos no acampamento, lá é possível comprar upgrades para suas armadilhas, para seus personagens e você pode até barganhar com os comerciantes para garantir uns descontos bem gordos. O jogo possui diálogos interativos, onde em alguns momentos poderemos escolher a resposta de Clu, mas isso não influencia na história, apenas no bônus que esse diálogo gera, pois dentre as três opções de conversas disponíveis, uma delas te dará +3 pontos de reputação, usados para dar upgrades nas suas armadilhas, então escolher a resposta certa pode ser bem vantajoso. Todos os diálogos são transmitidos no estilo velha guarda, com balões de falas e figuras dos personagens ao lado, e fora algumas palavrinhas que os personagens soltam vez ou outra, o game não conta com dublagem. Não que isso seja um problema, pois esse sistema de diálogos dispensa a necessidade de uma dublagem e ainda não tira o brilho do game.

Os trechos Tower Defense sempre são muito intensos e desesperadores

Belíssimo apenas em ser simples

Como tantos outros indies, Aegis Defenders possui uma arte pixelada, muito colorida e muito bem feita. Visitaremos diversos ambientes diferentes ao longo do jogo, nas mais variadas fases, e tudo é bonito demais. Não só os personagens mas também todos os monstros e inimigos que habitam as fases são muito bem animados, a variedade de criaturas é muito grande, instigando até a curiosidade do jogador de encontrar espécies novas em cada lugar. A trilha sonora consegue ser tão incrível quanto os gráficos, pois além das músicas se encaixarem perfeitamente com o ambiente, elas tem um fator nostálgico inexplicável. Algumas faixas me lembraram bastante as músicas de Mega Man Legends, o Adventure em 3D do Mega Man lançado para o primeiro PlayStation, o que é ótimo, pois a franquia sempre foi e sempre será referência em trilhas sonoras de qualidade.

Uma fase onde atiramos gatinhos explosivos de um meca… MELHOR JOGO EVER!

Se você ainda acha que não tem como melhorar, acredite, dá sim. Ainda há a possibilidade de jogar em coop local com mais um amigo e assim ir dividindo as responsabilidades e o uso de cada personagem, pois cada personagem tem sua função específica e duas cabeças pensam melhor do que uma. A boa notícia é que o jogo consegue ser divertido tanto jogado sozinho quanto em dupla, pois a história dele é tão rica e o gameplay tão viciante que apenas isso já consegue se garantir por si só. Independente de como você jogar Aegis Defenders, vai se divertir muito.

Agora se você é daqueles que curtem pegar troféus ou conquistas, pode se preparar porque esse aqui é osso duro de roer. Além de ter que terminar o jogo na dificuldade Insane, também terá que zerar sem morrer! Pois é, esse é um feito para poucos, mas que isso sirva de desculpa para que você continue o jogando por muito tempo. É esse tipo de game que mantém o mercado indie tão brilhante e atraente, ele é tudo que a indústria de games precisa: bonito, inovador, divertido, viciante, único. Aegis Defenders é uma jóia rara que deve ser jogado por todo mundo, de crianças até adultos. Tomara que o pessoal do estúdio GUTS receba todo o mérito que eles tanto merecem por criarem essa obra de arte.

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