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Primeiro de Abril é o Dia da Mentira em todos os cantos do mundo e, nessa data, dezenas de portais, desenvolvedoras e produtoras vão tentar criar peças e brincadeiras sobre produtos que não existem e talvez nunca existirão, tudo em nome do bom humor. É um dia muito especial onde a indústria de jogos pode mentir para todos nós e nós iremos apenas rir em uma grande camaradagem, mas a verdade é que, nos outros 364 dias do ano, essa mesma indústria de jogos também vai mentir descaradamente e de olho na sua, na minha, na nossa carteira.

Pensando nesses momentos nada agradáveis ou divertidos, listamos aqui 7 grandes mentiras que não eram primeiro de abril, mas com certeza ludibriaram você e ficaram por isso mesmo:

1) Killzone 2

O mítico vídeo de apresentação do jogo durante a E3 de 2005 tirou o fôlego da audiência que acreditou estar diante de uma demonstração real do poder do vindouro PlayStation 3. Ninguém menos que Ken Kutaragi, todo-poderoso da Sony na época, introduziu o trailer assegurando que ele havia sido gravado “em tempo real” usando o console. Apresentando efeitos de explosão e fumaça volumétrica que seriam complexos de se reproduzir na geração de hoje, era óbvio que o vídeo era bom demais para ser verdade 13 anos atrás.

A verdade demorou para aparecer, mas apareceu: o vídeo havia sido criado internamente pela desenvolvedora Guerrilla como uma visão do futuro da franquia e do que poderia se tornar possível um dia e, de forma alguma, deveria ser exibido como uma demonstração real. O jogo chegaria às lojas somente em 2009 e ainda assim não era capaz de gerar as cenas vistas no tal “trailer”.

Isso me lembra de: Cada tela solta de cada jogo lançada para cada plataforma e que não parece em nada com o resultado final do jogo (Ubisoft é a campeã nisso!)

2) Peter Molyneux

Você compraria um carro usado desse homem? E se ele jurasse que o carro voa?

O simpático desenvolvedor viu sua imagem de gênio promissor dos anos 90 com clássicos como Populous, Syndicate e Dungeon Keeper em seu currículo, ser lenta, mas inexoravelmente convertida na imagem de um farsante. Seu mal é prometer demais e nunca cumprir, mas ainda pesa sobre ele a dúvida: ingênuo sonhador ou astuto vendedor de ilusões?

Desde o início dos anos 2000, Molyneux prometeu uma Inteligência Artificial sem igual em Black & White, interagir com uma criança virtual usando o Kinect em Project Milo, ter filhos em Fable, uma grande recompensa em Curiosity, o poder divino em Godus e outros pequenos milagres em seus jogos. Nada disso se concretizou. Ele também prometeu em 2015 que nunca mais daria entrevistas porque supostamente viveria soltando declarações mal-interpretadas ou que não se concretizam. E… adivinhem? Ele continua falando com a imprensa e dando pistas de seu próximo jogo, Legacy.

Isso me lembra de: David Cage, da Quantic Dream, e suas promessas mirabolantes e a clássica frase de John Romero, antes do lançamento de Daikatana…

3) Alien: Colonial Marines

O que os jornalistas viram versus o que chegou nas lojas…

Durante a E3 de 2011, Randy Pitchford e sua Gearbox Software exibiram uma demo em uma sala fechada para jornalistas. Era Aliens: Colonial Marines, não apenas um capítulo canônico na franquia dos xenomorfos mas também uma promessa de jogo para a próxima geração. A demonstração impressionou a platéia com batalhas épicas, inteligência artificial avançada, efeitos de iluminação de cair o queixo e gráficos de ponta. Nas palavras do próprio Pitchford e gravadas para a posteridade, a exibição era composta por “jogabilidade em tempo real”.

A produtora Sega levantou um embargo para os analistas não soltarem as reviews antes da hora porque sabia o que estava realmente vindo… O que foi entregue para o público não era nem mesmo uma pálida sombra do que foi apresentado. O resultado ficou tão ruim que acabou parando nos tribunais em uma ação coletiva que quase custou mais de um milhão de dólares aos cofres da produtora.

Isso me lembra de: Watch Dogs e The Division, ambos da Ubisoft e ambos vítimas de um severo downgrade no lançamento.

4) Infinium Labs Phantom

“Fantasma”… nunca o nome de um console foi tão apropriado.

É preciso muita coragem para competir no mercado de consoles contra gigantes como Sony, Nintendo e Microsoft. Outros tentaram e pularam fora, mas ninguém tentou com tanta fanfarra quanto a Infininum Labs. A fabricante de teclados prometeu que lançaria um sistema capaz de rodar jogos de PC e conectá-los com a televisão, sem precisar de discos, usando a internet como fonte de download.

Se a ideia parece perfeitamente factível hoje (e estão aí algumas Steam Machines para provar isso), é preciso entender que a ideia original era lançar o console Phantom em 2004, quando nem o próprio Steam tinha um futuro garantido. Embora um protótipo tenha sido exibido na E3 de 2004, há indícios de que ele era falso. Por dois anos, a empresa atraiu investidores e torrou mais de 60 milhões de dólares para tornar o console um produto real, enquanto muitos suspeitavam que era tudo armação.

Isso me lembra de: Ouya, que chegou a levantar 8.5 milhões de dólares em financiamento coletivo, apenas para naufragar nas prateleiras por falta de suporte das produtoras.

5) No Man’s Sky

Tem um Diplodocus na sala e a gente precisa falar dele

Bilhões de mundos para serem explorados do espaço sideral até a superfície? Conteúdo gerado proceduralmente, incluindo miríades de espécies, minérios e paisagens alienígenas? Literalmente o maior jogo de todos os tempos? Tudo isso desenvolvido por uma equipe mínima de profissionais independentes com poucos recursos, mas com a tutela da Sony? Se tudo isso parece bom demais para ser verdade, é porque era mesmo.

No Man’s Sky acabou decepcionando muita gente ao não entregar no lançamento a maior parte das promessas realizadas antes: gráficos inferiores ao esperado, batalhas espaciais ausentes, outros jogadores ausentes, criaturas desinteressantes e um universo praticamente vazio. Atualizações posteriores acabaram introduzindo muito do que estava faltando, mas o estrago já estava feito e agora os jogadores de Xbox One poderão conferir se o jogo está redondo ou continua aquém do alardeado.

Isso me lembra de: Spore, também no espaço, também prometendo ser maior que a vida.

6) Xbox One

Microsoft, sua danadinha!

O Xbox One aparece na nossa lista não por um único motivo, mas por dois. Inicialmente, a Microsoft pretendia inserir um regime draconiano de DRM que faria com que um jogo comprado rodasse somente em um console e não poderia ser emprestado. Os fãs chiaram, a Sony fez troça e a Microsoft bateu pé, declarando que a “funcionalidade” estava embutida no console e não poderia ser alterada como um apertar de botão. Mais uma semana de paus e tochas na internet e a Microsoft removeu o recurso que não podia ser removido, como um apertar de botão.

A empresa ainda seria pega com a boca na botija, pagando jabá para YouTubers falarem bem do novo console e seus jogos, incluindo hashtag e tudo mais através da rede Machinima. Teve gente que faturou 30 mil dólares na brincadeira e ficou quieta sobre o patrocínio, mas o caso repercutiu muito mal.

Isso me lembra de: todas as empresas que também colocaram DRM hostil em seus jogos, apenas para removê-lo depois de protestos, assim como outras empresas que pagaram (e ainda pagam) para YouTubers elogiarem seus produtos.

7) Star Citizen?

Quando ainda é muito cedo para acusar? O simulador espacial Star Citizen já custou US$ 175 milhões arrecadados através de financiamento coletivo e ainda não está pronto. Para colocar isso em perspectiva, basta dizer que o título em 2016 conseguiu juntar mais do que todos os projetos de jogos no Kickstarter somados. E repetiu a façanha em 2017. E para quê? Para um título em estado alpha sem previsão de lançamento e um protótipo single-player também sem previsão de lançamento.

Com essa grana, a desenvolvedora já contratou os talentos de dublagem de nomes como Mark Hamill, Gary Oldman e Gillian Anderson. Mas também recebeu acusações de estar usando o motor gráfico da Crytek sem pagar e pesadas críticas de que é um esquema de fraude. Entre seus dois milhões de investidores, jogadores como eu e você, tem gente que defende com unhas e dentes as decisões da empresa e jura de pé junto que o jogo vai sair. Depois de sete anos de desenvolvimento, ter perdido sua data inicial de lançamento em 2014 e ter perdido cada meta no seu desenvolvimento, o título periga virar conversa para boi dormir.

Isso me lembra de: TelexFree! Voa Star Citizen!