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A THQ Nordic, em parceria com o estúdio alemão King Art Games, resolveu desenterrar uma clássica trilogia que não chegou a fazer fama, mas conseguiu seu espacinho no hall dos games cult. The Black Mirror foi um adventure point and click lançado em 2003, exclusivamente para PC, produzido pelo falecido estúdio tcheco Future Games. O game aborda um enredo repleto de mistérios e misticismo, e traz consigo uma boa pitada de terror gótico, onde tudo isso se desenrolou até 2011 com a conclusão da trilogia. Poucos conhecem a marca, mas esses dois estúdios resolveram rebootar tudo e começar do zero, para que assim uma série de novos jogadores possam conhecer essa história de um modo totalmente novo.

Quando foi feito o anúncio do game, em agosto deste ano, a THQ prometeu toda uma re-imaginação do gênero point and click, de uma forma que apenas este título pode nos oferecer, além de gráficos avançados e muito terror psicológico. Entre agosto e o fim de novembro, tudo que nos foi mostrado a respeito desse reboot foi um trailer cinemático, que consegue chamar a atenção e intrigar quem não conhece a franquia, além de alimentar a hype dos veteranos que jogaram os antigos. Será que o reboot de The Black Mirror atingiu nossas expectativas?

Imagem do jogo Black Mirror
Os Gordon carregam uma maldição em seu sangue.

Old school até demais

O enredo do game segue muito semelhante ao do clássico. Tomaremos o controle de David Gordon, que recebe o dever de ir até o castelo de sua família tomar posse de sua herança, após a misteriosa morte de seu pai, tal qual David nunca conheceu muito bem. Chegando na Escócia, local onde fica o castelo, David logo percebe que as pessoas que moram naquela casa não são nem um pouco amigáveis e escondem muitas coisas, inclusive os reais motivos que levaram ao falecimento de seu pai. Cabe a ele então investigar por conta própria e descobrir que a maldição dos Gordon não é só uma historinha para assustar crianças.

Se tratando de um jogo point and click, ele é totalmente focado na exploração e investigação do ambiente ao seu redor, onde temos de procurar por itens, resolver puzzles e participar de diálogos interativos. Logo de cara já notamos que a promessa dos gráficos avançados era lorota, pois o visual do jogo não é nem um pouquinho condizente com a atual geração de consoles, e ainda por cima consegue ser feio, mesmo com o jogo não tendo foco em gráficos realistas. Os produtores tentaram ofuscar os gráficos precários com muito tempo de gameplay no escuro, mas há vários momentos em que jogamos durante o dia, e nesses trechos o visual ultrapassado fica nítido. Quem jogou os antigos até ficará com a impressão de que Black Mirror III possui gráficos semelhantes ou até melhores, o que é uma coisa difícil de aceitar considerando que o mesmo foi lançado em 2011.

Imagem do jogo Black Mirror
Podemos explorar tanto dentro como fora da mansão.

O game se passa 90% do tempo dentro da mansão. Basicamente, todos os puzzles e mistérios que você terá de resolver se limitarão apenas em ir e vir de um cômodo a outro, o que não é muito difícil considerando que existem poucos cômodos disponíveis, e por conta disso é bem fácil decorar o mapa da casa. O que realmente incomoda nisso tudo é o excesso de loadings, que não condiz nem um pouco com a realidade. Existe loading pra tudo: a cada porta que você entra, a cada cutscene iniciada ou concluída; e pra piorar, cada um deles leva no mínimo 10 segundos para terminar, o que é um completo absurdo considerando que em certos casos você mal ficará 5 segundos dentro do próximo cômodo e já terá de encarar outro loading demorado.

Apesar do sistema muito semelhante com os jogos da Telltale, Black Mirror não conta com escolhas. A interação nos diálogos é apenas para decidir o que o protagonista irá perguntar primeiro para o outro personagem, mas independente da ordem, tudo sempre chegará na mesma conclusão. O que é realmente bizarro é que até nesse ponto o jogo consegue ser falho, pois existem bugs inexplicáveis em que você aperta um botão para desencadear um determinado diálogo, e ele inicia outra opção de conversa. Não que isso acabe pesando no seu game, pois como já foi dito, os diálogos não influenciam em nada, mas que é irritante, isso é. Por ser um jogo com foco em narrativa, a expressão facial dos personagens é inexistente e acaba deixando a desejar na hora de transmitir emoção nos diálogos e momentos de tensão. Ao menos a dublagem é boa, e podemos dizer que de longe é a melhor coisa desse jogo, onde a carga emocional das conversas ficou unicamente a cargo dos dubladores.

Imagem do jogo Black Mirror
Mesmo com diálogos interativos, o jogo não possui escolhas.

O jogo tentar construir uma atmosfera de terror muito semelhante aos survival horror da velha guarda. Na maior parte do tempo, você contará apenas com uma vela dentro de uma mansão completamente escura, e o fato de não sabermos o que nos espera ou com o que estamos lidando deveria contribuir para esse terror psicológico. Infelizmente, a intenção foi boa, mas em momento algum o game consegue transmitir esse suspense esperado, pois além do visual não colaborar, os momentos que tentam surpreender o jogador sempre são estragados por algum bug de som ou simplesmente uma falha na construção da cena, como por exemplo a câmera focando repentinamente em algum personagem e o som do “susto” tocando apenas segundos depois. O que era pra ser assustador acaba sendo tosco demais e muitas vezes até engraçado.

Só os fortes sobrevivem… literalmente

Se você leu até aqui, deve estar pensando que alguma coisa de bom esse jogo deve ter, pois não é possível que ele seja uma bomba dessas. Se tratando das mecânicas e jogabilidade, tudo deveria ser o mais simples possível, afinal o jogo é de point and click e não exige uma ação frenética nem reflexos rápidos por parte do jogador. Acreditem se quiser, até no simples ato de andar o game consegue ser bugado. A simples tentativa de virar David 360 graus acaba se tornando um desafio, pois a movimentação do personagem é travada e pesada, e olha que os controles nem são de “tanque”, como na velha guarda. Pra piorar a situação, David enrosca em tudo; se você estiver perto de um objeto, pode ter certeza que ele vai ficar preso, e em certos momentos ele consegue ficar preso no nada, ele simplesmente enrosca no ar!

Imagem do jogo Black Mirror
Mesmo com um padrão old school de survival horror, o jogo não convence no terror.

Se já não bastasse todos os problemas de jogabilidade e bugs em excesso, Black Mirror ainda conta com uma boa quantia de problemas de performance nos consoles, o que vai conseguir tirar muita gente do sério. Queda de framerate constante e engasgadas que duram de 1 a 2 segundos é o menor dos problemas, pois ele também dá crashs com frequência, pondo em risca o seu save, que pode acabar se corrompendo dependendo do momento que o jogo crashar. Por conta disso, é mais que recomendado salvar por conta própria o tempo inteiro.

Resumindo tudo até aqui, podemos concluir que Black Mirror é um jogo que peca em todo aspecto de performance possível, e tudo que pode te motivar a jogar ele é a sua história. O mistério e a investigação é o que ele tem de melhor a oferecer, e mesmo nisso ele ainda pode ser classificado como mediano, pois tudo nele é muito fácil e o jogo deixa sempre na cara seus objetivos, então é impossível se perder nele. Agora o verdadeiro mistério é se a THQ realmente espera transformar esse reboot em uma nova trilogia, e caso pretenda, tomara que o jogo consiga arrecadar dinheiro o bastante para sua sequência evoluir em todo aspecto possível.

Se você for muito corajoso e quiser mesmo encarar esse desafio, o melhor é esperar que os desenvolvedores lancem muitos e muitos patches de correção, e como já era de se esperar, obviamente ele não está sendo vendido ao preço que realmente vale. Saindo por R$114 reais na PlayStation Store, R$ 63 reais na Live e R$55 reais na Steam, o melhor a fazer é esperar uma promoção das boas antes de querer gastar dinheiro nisso aqui. Até lá, recomendamos que você procure jogar a trilogia antiga, que continua valendo muito a pena, ou simplesmente se contente com o Black Mirror do Netflix.

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