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Os shooters de navinhas, que outrora fizeram muito sucesso na década de 90, foram perdendo força e seus títulos foram ficando cada vez mais escassos conforme a indústria de games foi evoluindo e o gosto dos jogadores mudando. Hoje, com o gênero suplicando por novos jogos, apenas os desenvolvedores indies se arriscam a lançar algo do tipo. Quem resolveu apostar no gênero Shmup dessa vez foi o estúdio francês Persistant Studios, que com o seu mais novo jogo, Boiling Bolt, tenta resgatar um pouco desse estilo de jogo bastante desafiador.

Boiling Bolt é um daqueles jogos simples que, ao seu próprio modo, consegue te prender de alguma forma. O conceito não apresenta novidade alguma, afinal todo mundo já sabe como funciona um shooter de naves, mas ele possui algumas particularidades que, em conjunto com a sua dificuldade mais do que exagerada, conseguirá pôr em jogo todo o seu orgulho gamer e não te deixará descansar enquanto não terminar o game. Pode acreditar, terminar este jogo não é tão simples quanto parece.

Imagem do jogo Boiling Bolt
As cutscenes em forma de anime são muito bem feitas.

Um final que poucos verão

O game conta com um enredo, onde nos adentraremos em uma Terra completamente devastada pela guerra. Nessa Terra pós-apocalíptica, tudo que restou foram pequenas ilhas sustentadas por cristais, que fornecem energia para as mesmas. Mil anos após essa catástrofe, uma estranha figura começa a atacar as ilhas visando drenar a energia dos cristais que as sustém, e cabe então a June, nossa protagonista, encarar as tropas do inimigo e salvar o mundo em sua nave.

Temos vários modos a nossa disposição, onde a história é contada no modo Arcade. Apesar do foco ser totalmente no tiroteio frenético que o jogo oferece, o enredo, mesmo em segundo plano e com pouca profundidade, é contado em diálogos no meio das fases e pequenas cutscenes em forma de anime, que apesar de simples são impressionantes e bem agradáveis de assistir. A história superficial não chega a incomodar, afinal esse é um jogo de navinha, então já é um ponto muito positivo ele ter esse adicional que apesar de não ter muito peso, é um adendo bem legal para um jogo do gênero. A única coisa que os desenvolvedores ficaram devendo foi uma dublagem, pois todos os diálogos são transmitidos apenas por texto, e muitas vezes isso acontece no meio da ação, nos impossibilitando de prestar atenção no que os personagens estão falando.

Imagem do jogo Boiling Bolt
Os diálogos não possuem dublagem e passam batido durante o jogo.

A campanha possui apenas 5 fases, mas é o bastante pra conseguir te tirar do sério muitas vezes. Isso se deve ao fato de que não possui saves entre uma fase e outra; você deverá terminar todas as cinco de uma vez. As fases seguem um padrão, onde você avançará até se deparar com trechos onde você fica preso em um lugar só, enfrentando ondas de inimigos e, enfim, o chefe no final da fase. A dificuldade nisso tudo é que você só conta com três continues por fase, onde cada um te dá a chance de morrer cinco vezes – e o game é “one hit kill”, então se qualquer coisa te acertar, já era. Considerando que esse tipo de jogo sempre tem um exagero de inimigos e tiros pra todo lado, pode se preparar pra passar raiva, pois você vai morrer muito e muitas vezes nem vai saber o que te matou.

Nossa nave conta com quatro poderes especiais, que podem facilitar um bocado em certos momentos ou atrapalhar muito mais em outros. É essencial saber as vantagens de cada poder e saber o momento certo de usá-los, pois um é totalmente diferente do outro e quando é usado em hora errada, pode acabar em um total desastre. Também contamos com um dash que além de desviar dos projéteis da maneira mais estilosa possível, também ativa um trigger em slow motion caso a esquiva seja feita de última hora, possibilitando ao jogador aprimorar ainda mais o seu combo e desviar de outros tiros fatais antes de voltar para o fogo cruzado.

A direção de arte do game é elogiável, pois mesmo com gráficos simples as fases possuem um visual muito bacana que não se mistura com os projéteis e em momento algum te atrapalha no jogo. A trilha sonora também não deixa a desejar, com músicas futuristas e animadas, se encaixando bem com a ação frenética do game. Muitos jogadores podem não dar a mínima para pontuações, que é uma característica mais que esperada em jogos desse tipo, mas Boiling Bolt conseguiu encontrar uma função para esse monte de pontos que não usamos para nada. Toda vez que você perde suas cinco vidas, você terá que comprar sua próxima tentativa com metade da sua pontuação total, então sempre que você usar seu continue, lá se vai metade dos seus pontos conquistados naquela fase. Isso não influencia no seu limite de continues, que são apenas três por fase, mas isso é um incentivo para aqueles que visam se manter no topo do placar mundial, já que precisam evitar ao máximo a morte nesse jogo (com reflexos de ninja, certamente).

Imagem do jogo Boiling Bolt
Os cenários são simples e ao mesmo tempo muito bonitos.

O Rogue Legacy de navinha

O jogo é bem difícil por natureza, mas ele conta com um sistema de progressão que pode sim facilitar tudo consideravelmente, e esse sistema é muito semelhante ao de Rogue Legacy. Sim, os dois jogos são extremamente opostos um do outro se tratando do gênero, mas em ambos nós progredimos a partir da repetição, onde sempre devemos jogar, jogar e jogar, para que assim consigamos comprar novas skills que nos deixarão mais fortes e mais aptos para enfrentar certos desafios.

Em Boiling Bolt, você pode equipar sua nave com três skills diferentes, compradas usando cristais. Não existe uma grande variedade de skills, onde elas são limitadas apenas a uma pequena melhora nos atributos de ataque, defesa e velocidade, e mais algumas que aprimoram os tiros e outras características. Essas habilidades são compradas com cristais que dropamos dos inimigos ao longo do jogo e ganhamos completando os desafios no modo Challenge. Ainda assim, não é tão simples de acumular uma grande quantia deles, pois não são todos os inimigos que dropam e a minoria que dropa pode acabar passando batido, pois são tantas coisas acontecendo na tela que muitas vezes não notamos o cristal, que tem uma cor quase transparente, no meio daquela confusão.

Imagem do jogo Boiling Bolt
Cada fase conta com um chefe pra te atormentar.

Para finalizar o jogo, você deverá jogar as fases iniciais muitas vezes, decorando seus padrões e dropando cristais, até que sua nave esteja poderosa o bastante para passar por tudo aquilo sem grandes esforços. Ainda há uma alternativa que deixa tudo ainda mais divertido, pois o game pode ser jogado em coop local e, além da diversão ser em dobro, a dificuldade também é reduzida pela metade, pois será o dobro de tiros encima dos inimigos. Mesmo em dupla, será essencial um bom conhecimento das fases e vários upgrades em ambas as naves, pois apesar de Boiling Bolt não ser tão rápido quanto outros jogos do gênero, ele ainda consegue ser muito frenético e conta com abundância de inimigos na tela, exigindo excelentes reflexos do jogador e não te dando tempo nem pra piscar o olho.

Caso você se farte do modo Arcade, o game disponibiliza alguns outros modos para testar suas habilidades, como o modo Challenge, que impõe algumas circunstâncias em batalha para aqueles que acham que o jogo não é difícil o suficiente; o modo Curso Livre, permitindo explorar novamente as fases que você já venceu na ordem que desejar, e o Um Tiro Um Morto, que como o nome já sugere é só mais um pouquinho da raiva e frustração que a campanha já te oferece.

Boiling Bolt não decepciona os fãs de carteirinha dos jogos de navinha da velha guarda, mas também não chega a ser um dos melhores do gênero. Ele é muito desafiador, te garantirá várias horas de jogo considerando o seu sistema de progressão e ainda te permite jogar um coop com um amigo, então tudo que ele pode oferecer ele cumpre com vigor. Para todos aqueles que forem encarar o desafio, já reserve seu amigo com os reflexos mais desumanos para te acompanhar nessa. E prepare um bom estoque de chá de camomila, pois você vai precisar.

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