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Tive a honra e prazer de testar um dos jogos mais esperados por mim e também por milhares de gamers que, desde seu primeiro anúncio e após três longos anos de atrasos e angústia, finalmente foi lançado. Lembro de ver ao vivo durante a minha visita à E3 2014 e surtar com a proposta de levar o estilo dos cartoons da década de 30 como algo interativo e, principalmente, jogável como um título de aventura. Nada era mais incrível do que poder voltar para a minha infância e ter o controle de um personagem que me fazia lembrar daqueles desenhos que tanto assistia após chegar da escola.

O trabalho do Studio MDHR não é só simplesmente mais um jogo indie muito bem feito e acabado, indo além na entrega de uma experiência que sobrepõe qualquer expectativa. Talvez desacreditado, após tantos atrasos, Cuphead consegue surpreender e agradar, ao mesmo tempo que foge da tendência, quebrando paradigmas dessa nova geração. Com uma ideia inovadora, não na jogabilidade, mas sim na apresentação e proposta da obra como um todo, ele consegue agradar o grande público, além de ser um respiro para o XBox One como um console que sofre há mais de um ano com pouquíssimos exclusivos de peso.

Ousadia certeira

Encare Cuphead não apenas como um jogo, mas sim um conjunto bem executado de corajosas escolhas. Seja no design, na trilha sonora ou na direção de arte, esse é um jogo que depende de você para completá-lo e conseguir aproveitar a experiência preparada para os gamers. Não pense que tudo virá pronto, com tutoriais, curva de aprendizado e batalhas balanceadas, pois desde o começo você será testado e, com certeza, fracassará muitas vezes. Nada de negativo em morrer dezenas de vezes, como aconteceu comigo apenas no primeiro mundo do jogo, mas triunfar terá um gosto ainda melhor e o jogo recompensa de maneira muito gratificante a cada “Knockout” que você ouve ao vencer um chefe. A alegria é imensa por sobreviver a um desafio que não informa visualmente o HP do seu inimigo, tempo, habilidades ou seja lá quais outras informações possam inundar a HUD como Horizon Zero Dawn fez. Com isso, o equilíbrio entre recompensa e desafio acaba favorecendo para o fator diversão ser ainda maior a cada conquista e menos frustrante a cada derrota.

Criatividade e ousadia na criação dos chefões

Você terá em sua TV um desenho acontecendo em tempo real às suas escolhas e, para isso acontecer, todas essas informações tradicionais citadas acima não serão mostradas para você. Em compensação, a direção de arte se esbalda no estilo Rubber Hose Animation (como comentei nesse texto) e resgata a era de ouro da animação, que vai do período novaiorquino ao hollywoodiano, com influências de Gregory La Cava, Frank Moser, Bill Nolan e Walter Lantz. Você encontrará O Jardim do Mickey, em Inkwell Isle, o primeiro mundo de três, com diversas referências ao desenho da Disney, além de chefes que lembram Popeye, Pica-Pau e Tom & Jerry.

É impressionante a capacidade criativa que os desenvolvedores empregaram para aproveitar ao máximo e criar ações a partir do design de cada chefe. Quando você entra em uma luta, não tem como saber o que esperar e somente após morrer muitas vezes (afinal, só começamos com três corações), será possível entender a movimentação, timing, ataques e tempo de ataque ou defesa existente para cada um dos principais inimigos.

Nada como uma excelente direção de arte, com influências da Rubber Hose Cartoon

Aliado à qualidade artística e visual, a trilha sonora também surge como um dos pontos fortes desse título. O trabalho de Kristofer Maddigan consegue ganhar peso e se torna memorável desde o primeiro momento em que a música sobe de fundo, acompanhando a ação de Cuphead e inundando as fases, contribuindo para a imersão e a ação frenética. É como se as batidas mais graves dos baixos e as notas mais estridentes dos trompetes acompanhassem a quantidade de acontecimentos na tela, guiando a sequência insana de movimentos. Para sobreviver, você precisa pular, desviar, atirar e ainda aprender como os inimigos se movimentam, pois esse é mais um game com a proposta de dificuldade bastante elevada, mas que não é gratuita e sim capaz de ser vencida a partir do seu comprometimento e aprendizado.

Pacto com o diabo

De início, assim como os desenhos mais antigos, boa parte da história começa e termina com um livro contando a história passo a passo. Cuphead e Mugman vivem em Inkwell Isle e acabam sendo seduzidos para dentro de um casino. Depois de perderem suas almas em um jogo de dados, com King Dice e o próprio Diabo, eles fazem um pacto e se comprometeram em retornar com todos os contratos de 21 outras almas. A partir de então você terá a missão de enfrentar todos esses inimigos e somente após vencer todos eles é que, por um plot twist já esperado, você terá a chance de enfrentar o chefão.

Detalhe importantíssimo, principalmente para quem reclama da dificuldade do jogo: não adianta jogar no “Simple”, pois somente no “Regular” que você terá direito ao contrato da alma dos chefões e, consequentemente, permissão para prosseguir de um mundo para o outro. O modo mais simples de jogo permite apenas jogar contra o seu inimigo, porém nada disso adianta, já que a real batalha é muito mais difícil e com ataques diferentes entre os dois modos.

Quando o jogo é difícil, não adianta tentar burlar as regras do King Dice e do Diabo

Mesmo sem co-op online, você pode chamar um segundo jogador para controlar Mugman e tentar vencer qualquer um dos chefões – ênfase no “tentar”, pois a batalha também fica ainda mais difícil quando existem dois heróis em tela. Como não existe barra de energia do inimigo, só sabemos do nosso progresso quando somos derrotados, inclusive com algumas marcações que indicam “fases” das mecânicas dos chefes. Na nossa próxima tentativa a gente consegue sacar, de maneira muito intuitiva, qual o nosso nível de progresso na batalha. Já que todos os chefões possuem transformações, você precisará enfrentar pelo menos duas ou três etapas de cada um, em batalhas de um a três minutos.

Como disse anteriormente, o jogo é mais frenético do que parece. Porém, todas essas lutas são como danças em que você precisa aprender a coreografia para saber como se movimentar pelo cenário. Em alguns casos os chefes apresentam ataques ou situações randômicas como, por exemplo, Baroness Von Bon Bon, que libera seus algozes de maneira aleatória, fazendo você enfrentar um waflle, uma máquina de balas, balas quebra-queixo, cupcakes ou milhos açucarados. Já em outros casos, apenas algumas variações de itens aparecem, como Phantom Express e os fantasmas ou abóboras. Em casos raros, quando mais próximo do final, você precisará cumprir algumas condições para chegar ao combate final, mas até lá cada erro pode trazer um novo desafio e complicar ainda mais a sua vida.

Querem diversos estilos de gameplay? Então aqui estão diversas mecânicas num mesmo jogo

Como se não bastasse, para otimizar a experiência proporcionada, os desenvolvedores pensaram em criar mecânicas diferenciadas para auxiliar na progressão e também diferenciar o gameplay entre um cenário e outro. Próximo à primeira data de lançamento, Cuphead foi muito criticado por disponibilizar apenas combates direto contra os chefes e pela ausência de fases diversas. Ouvindo a comunidade, o Studio MDHR atendeu aos pedidos criando fases no estilo plataforma, tower defense e até mesmo shmup, com os personagens sendo transformados em aviões e com jogabilidade estilo jogos de navinha. Isso mesmo! Você tem uma boa variedade no formato e maneira de jogar, sempre com o mesmo objetivo, além de executar parrys e coletar moedas para comprar upgrades que, com certeza, vão ajudar e muito na segunda metade e final do jogo.

Melhor é impossível?

Enquanto escuto a trilha sonora para escrever essa análise, fiquei me perguntando em que ponto poderia existir algo negativo ou errado. Com muito esforço, acredito que um dos pecados foi não localizar o jogo para o Brasil, já que um título com poucos textos e com tanto apoio da Microsoft em nosso país, os jogadores aguardavam por isso. Da mesma forma negativa, as notas e pontuações ao final de cada batalha acabam sendo um pouco injustas, mas também podem ser encaradas como um desafio extra. E falando em extras, depois que você terminar o jogo pela primeira vez, o modo “Expert” é desbloqueado e, sinto muito, mas só os masoquistas irão curtir essa dificuldade elevada.

Para encerrar, nada melhor do seu o seu “boletim” de notas

No geral, Cuphead consegue surpreender e agradar, pelo menos na primeira metade, até mesmo os mais inexperientes nesse estilo de jogos mais exigentes e difíceis. Esse é mais um daqueles títulos que você pode jogar e as pessoas ao seu redor ficarão boquiabertas pela qualidade no visual e trilha sonora. Com certeza uma compra obrigatória para os donos do Xbox One.

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