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Estes dias, num dos vários momentos mortos no trabalho, eu encontrei duas entrevistas interessantes para ler.

Primeiro, Warren Spector (System Shock, Deus Ex), que havia deixado o mercado depois que a Disney fechou o seu estúdio Junction Point e foi dar aulas, mas que voltou no ano passado e está trabalhando em System Shock 3.

Depois, o crítico musical espanhol Diego Manrique. Uma entrevista com muitos pontos interessantes sobre música, política, crítica e mídia. E uma frase da entrevista me deixou pensando:

É evidente que você não faz a mesma música aos vinte anos que aos quarenta ou sessenta, mas precisamos revisar as categorias de idade e reescrever o que é o rock. Não se trata apenas de uma música de uns jovens para outros jovens, mas também de uns velhos para uns jovens ou outros velhos.

É muito interessante a divisão que Manrique propõe. A música dos velhos é para os velhos e alguns jovens… Mas a música dos jovens é apenas para os jovens.

E aí me veio à cabeça a entrevista de Spector. 61 anos, está no negócio desde 1989 (depois de seis anos desenhando RPGs de mesa). É um dos mais respeitados designers / diretores do mercado, que trabalhou em vários grandes jogos como Ultima Underworld, Wing Commander, os já mencionados System Shock e Deus Ex, o tremendamente subestimado Epic Mickey. Mas a informação sobre sua volta foi bastante escassa e os comentários foram bastante pessimistas, como se o tempo de Spector já tivesse passado.

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Warren Spector na Gamescom 2012, promovendo Epic Mickey 2: The Power of Two

Então resolvi procurar outros designers contemporâneos de Spector e me deparei com algo impressionante: quase todos estão na periferia do mercado (John Romero, Peter Molyneux, Ron Gilbert), são autores de nicho (Tim Schafer, Sid Meier, David Braben) ou estão aposentados ou semi-aposentados do negócio de videogames (Roberta e Ken Williams, Richard Garriott, David Perry, Eric Chahi, Jordan Mechner, Will Wright). Pouquíssimos continuam na ativa em uma posição de destaque em estúdios de ponta. De cabeça, só consigo lembrar do Ed Boon (Mortal Kombat X) e do Michel Ancel (Rayman Legends).

Será que a divisão de Manrique também vale para os videogames? Videogames de velhos são só para velhos e alguns jovens? Sinceramente, não sei se tenho uma resposta. Mas é curioso como a gente vê do outro lado do mundo… e é quase que o contrário. Os designers japoneses são uma exceção a essa regra. Miyamoto, Tezuka, Kojima, os japas da Platinum, todos na crista da onda. Só na Nintendo deve ter uns vinte contemporâneos do Spector.

Talvez seja o contraste entre o maior respeito pelos mais veteranos no Japão em contraste com a filosofia “fora com o velho, viva o novo” do Ocidente. E tampouco ajuda que os videogames ainda são um meio cultural quase que exclusivamente para adolescentes e adultos jovens, até os 30 anos aproximadamente.

Como o rock nos anos 70, até que apareceu o punk rock.

Talvez no futuro GTA seja o novo God Save The Queen.