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[miptheme_alert type=”warning” close=”false”]Atenção! Esta coluna reflete apenas a opinião do autor e não necessariamente a dos outros membros do Gamerview.[/miptheme_alert]

Acho que vai ser difícil não pensar que 2016 foi um ano de merda. No Brasil, recessão, crise econômica e a deposição da presidente eleita, que OBVIAMENTE não melhorou nada a crise política do país. No mundo, a crise humanitária dos refugiados sírios, Brexit, Trump. Sem contar os mortos: David Bowie, Prince, Alan Rickman, Muhammad Ali, Leonard Cohen, Carrie Fisher, George Michael.

No nosso sub-mundo, as coisas não foram tão ruins. Algum estúdio fechado, algum jogo cancelado, “business as usual”. Agora… ainda que o ano não tenha sido ruim para os videogames, o motivo das coisas terem sido tão ruins no mundo existe no nosso meio. E faz tempo.

Pode parecer um pouco arrogante, mas só consigo ver um motivo para termos tido essas coisas ruins (sem contar as mortes, claro): o povo é estúpido. Uma pessoa, duas, três, são inteligentes. Mas ao juntar 100, 200, um milhar, as pessoas parecem diluir sua inteligência e desligar o cérebro. Passam a decidir com o coração. E o coração gosta de soluções fáceis, de gente que venda ilusões… e inimigos. E isso existe muito no mundo dos videogames.

Muita gente já não deve nem se lembrar do GamerGate. Foi um movimento de “gamers” que supostamente lutavam “pela ética nos videogames”, mas que eram só um bando de fascistas misóginos nojentos ridículos. Parece que faz séculos, mas o auge do movimento aconteceu faz só dois anos, em 2014. E provavelmente menos gente ainda se lembre, mas em 2016 mesmo, em março, a Nintendo demitiu Alison Rapp após uma campanha de assédio… dirigida contra ela. Parabéns, Nintendo!

A ligação que estou fazendo do GamerGate com os acontecimentos do mundo pode parecer tênue, mas outro dia o Kotaku soltou uma matéria interessante, explicitando os laços de Steve Bannon e Michael Flynn, respectivamente assessor-chefe de estratégia e assessor de segurança nacional do novo governo Trump, com o GamerGate.

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Antes de ser um dos chefes de campanha de Trump, Bannon era conhecido por ser o diretor do Breitbart News, um site “alt-right” (eufemismo norte-americano para “filofascista”). Além de soltar notícias tão interessantes como “o controle de natalidade deixa as mulheres feias e loucas”, o site apoiou abertamente o GamerGate, afirmando que era “uma luz a favor da liberdade de expressão e da ética no meio”, entre outras expressões grandiloquentes. Também deu por válidos os métodos dos crápulas envolvidos no GamerGate – que, lembremos, chegaram a fazer ameaças de morte e estupro contra Zoe Quinn e Anita Sarkeesian, entre outros.

Lembrando os dois casos: supostamente, Zoe Quinn era namorada de Nathan Grayson, colunista do Kotaku, que lhe teria dado reviews favoráveis para seu jogo por causa disso. E Sarkeesian é autora da famosa série “Tropes vs. Women in Video Games”, onde ela discute o sexismo nos videogames. As duas receberam diversas ameaças online; uma conferência de Sarkeesian em Utah teve que ser cancelada por uma ameaça de bomba.

Como parte dessa cobertura, Bannon deu emprego a Milo Yiannopoulos – que ganhou destaque no ano passado por ter sido o líder da campanha de assédio online contra Leslie Jones (a atriz de Caça-Fantasmas). E pouco depois da eleição americana, Yiannopoulos foi elogiado por Flynn como uma pessoa “fenomenal” e “uma das pessoas mais corajosas que já conheci”.

Não parece coincidência. E não é. Não pode ser, não quando vemos como se comportam os fanboys sonystas, xboxistas e nintendistas, e comparamos isso com os direitistas “coxinhas” e os esquerdistas “estudantes de humanas” no Facebook.

E quando vemos o novo presidente dos Estados Unidos da América soltando mentiras abertamente pelo Twitter e depois dizendo que “não tenho tempo para verificar que tudo que vejo na internet é verdade”, como se fosse um moleque ranhento.

Ou quando vemos alguns dos tratamentos pejorativos, misóginos e homofóbicos de alguns deputados brasileiros e pensamos nos tratamentos pejorativos, misóginos e homofóbicos de alguns moleques em jogos online.

Só consigo pensar que o GamerGate não era simplesmente um bando de idiotas. Era uma experiência social. E agora essa experiência social foi implantada em larga escala no mundo.

É preciso lutar contra isso. E podemos fazê-lo, e não só no “mundo real”.

Devemos apoiar ONGs e iniciativas a favor das minorias e da igualdade entre sexos.

Apoiar desenvolvedores que sejam ativos contra o racismo, a homofobia e a misoginia.

Entrar em contato com As Três Grandes para que tomem medidas para punir com dureza qualquer usuário que mostre atitudes preconceituosas no online.

Deixamos 2014 acabar sem tomar medidas, e o monstro só fez crescer. Não podemos fazer a mesma coisa com 2017.