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Sério que você nunca jogou um jogo da 11 bit ? A série Anomaly, Beat Cop, This War of Mine? Ora, toma jeito! De qualquer forma ano que vem estão surgindo mais algumas belas oportunidades do mundo conhecer o trabalho primoroso deste estúdio/publisher polonês. Moonlighter (do estúdio Digital Sun) e Children of Morta (da Dead Mage) estão sendo publicados pela 11 bit e são ambos dungeon crawlers, mas que distintamente exploram aspectos específicos do gênero. Ambos são muito gostosos de jogar, têm uma belíssima arte e são bem divertidos. Já Frostpunk , este desenvolvido pela própria 11bit, não é de brincadeira… Um serious game, survival de estratégia em que você comanda o que sobrou da civilização humana após uma pesada nevasca ter devastado o planeta. Cabe a você reconstruir a civilização humana tendo como inimigos unicamente o frio e o descontentamento da população. Um dos melhores jogos que joguei na feira.

Children of Morta

Você está no comando dos Bergson, uma família que há muitas gerações tem a missão de cuidar do monte Morta, recentemente ameaçado por forças malignas. Precisamos detê-las! Cada membro da família representa uma classe de personagem, e variam em aspectos como movimentação, tipo de ataque, tipo de especiais, força, defesa etc. Para descer à dungeon você escolhe com qual das personagens vai se aventurar e sai em busca de ítens que poderão ajudar seu personagem individualmente (ou a todos). Toda vez que você morre, retorna à casa (sede) e ali faz a manutenção de itens, transformando os frutos da sua busca em novas habilidades e pontos de experiência. Em seguida escolhe novamente com qual membro (classe) voltará à aventura e parte pro play (as dungeons são sempre diferentes, geradas proceduralmente). A jogabilidade é muito boa, o jogo oferece modo single e multiplayer coop local (para 2 jogadores). O que mais chama mais a atenção no jogo são as maravilhosas animações criadas em pixel arte, com muitos quadros por segundo e que se assemelham a técnica de rotoscopia (Prince of Persia). Veja como já eram lindas na campanha Kickstarter do jogo!

Selecionei um gameplay no youtube pra vocês terem um ideia. Contará com ports para PC, Xbox ONe e PS4 para a primeira metade do ano que vem.

Children of Morta estava disputado pra ser jogado

Moonlighter

Vender itens indesejados que você encontrou numa dungeon é uma mecânica oferecida por boa parte dos dungeon crawlers. Pois este pequeno detalhe – que muitas vezes pode ser essencial – é uma das mecânicas principais de Moonlighter, explorado num nível bastante complexo e único. Você é um menininho, dono de uma loja, e que sonha ser o grande herói do vilarejo. Para isso precisa dividir seu tempo entre a aventura e o trabalho, inclusive interseccionando as duas coisas: você explora a dungeon fora da cidade, e depois vende os itens que conseguiu em sua lojinha. Para tal você estipula um preço para os itens que coletou, e observa a reação que os clientes esboçarão em relação ao preço dos itens; eles podem ficar felizes, ter uma reação neutra ou saírem reclamando sem comprar nada. Tudo fica devidamente anotado no seu caderninho de vendas: cada freguês e reação para cada preço, de cada item. A partir disso você decide se abaixa ou se pode subir os preços…

Cada cidadão tem uma busca maior por um tipo de item e reage de uma maneira diferente aos preços: você deve seguir seus clientes pela cidade, conversar com eles e observar seus hábitos para entender que tipos de itens eles valorizam. Tudo isso serve de motivação para que você mergulhe nas histórias que compõe o universo do jogo. Você também pode “craftar” objetos, e tem que entender se é melhor vender itens manufaturados ou as matéria-primas separadas. Cada novo item que você encontra é sempre uma incógnita sobre que preço colocar, e parte da brincadeira está nesta descoberta. Não se esqueça que além da venda você ainda tem uma dungeon pra enfrentar, e por isso precisa decidir com sabedoria quais itens vende e quais usa para se aprofundar nas dungeons (possibilitando achar itens melhores).

Galera se acumulando em volta do Moonlighter

Com claríssimas referências a Anodyne (cujo personagem também usa uma vassoura), que por sua vez é uma carta de amor a Zelda (e a personagem aqui também recebe a espada de um velho logo no começo do jogo), o combate é um pouco mais complexo e tem algumas variações de golpes (espada, vassoura, carregar, esquivar etc.), apesar de ainda se basear em descobrir o padrão dos inimigos para poder avançar ou recuar no momento certo. É um pouco difícil se acostumar com os botões do controle na hora de aprender a utilizar os livros de anotação, estipular o preço dos itens etc. Certamente fazer todo esse manejamento seria muito mais fácil com teclado e mouse – e espero que o jogo realmente implemente uma interface facilitada para o PC (na feira jogamos em um Xbox One). Separei aqui um gameplay gravado na Pax West, pra você ver melhor como funciona.

O jogo também está prometido para Xbox One, PS4 e PC (Windows, Mac & Linux)… e Nintendo Switch. Também para o primeiro semestre de 2018.

Frostpunk

Você comanda uma humanidade desesperançada, reduzida a pouquíssimos sobreviventes de um apocalipse gelado. Seu objetivo é portanto sobreviver, reconstruindo a civilização ao redor de um gerador de calor do qual depende a existência humana. Como todo jogo de estratégia você coleta recursos (madeira, carvão, aço), para poder fazer construções que permitirão desenvolver outras obras mais evoluídas e continuar a progressão. Seus inimigos são apenas o frio, o descontentamento da sua própria população (assim como em SimCity, por exemplo), e a necessidade de elevar o marcador de esperança. Aqui entra o maior diferencial do jogo: periodicamente você precisa instituir leis, sempre relacionadas a escolhas morais limítrofes, como implementar ou não o trabalho infantil (para angariar recursos mais rapidamente), aumentar ou não a carga horária de trabalho, colocar ou não serragem na alimentação para economizar comida etc.

Tudo isso faz de Frostpunk um serious game genial. Esteticamente ele é arquitetado num formato circular (sua base é circular, construída ao redor do grande gerador), e minha sensação foi de estar reconstruindo a humanidade a partir de um frágil coração mecânico, que precisa constantemente ser alimentado e bombeado (geralmente é um boa ideia diminuir a potência do gerador pela manhã e aumentá-la à noite pra economizar recursos).
Chamou-me a atenção também a solução visual dos trabalhadores abrirem um caminho na neve para irem buscar os recursos apontados: não é só uma solução realista, como te ajuda visualmente a não perder o foco de onde estão seus minions.

– Vocês são os caras do “This War Of Mine”, né?
– Sim!
– Cara, porque vocês fazem jogos assim?
– Assim como? Depressivos?
(risadas)

Foi como comecei o pequeno papo que tive com o dev que me apresentou o jogo. Disse que talvez alguma coisa relacionada à história da Polônia e ao clima de lá os motive a fazer jogos com essas temáticas. Se This War of Mine enfoca especialmente a guerra, Frostpunk enfoca o frio, mas ambos fazem você sentir a angústia de ter que conviver com as próprias escolhas. Ao longo de minha jogatina, que durou uns 30 minutos, não conseguia evitar os elogios. “- Seu jogo é bom cara!”. “- Seu jogo é muito bom, cara!” “- Caramba, já te falei que seu jogo é bom?”. (mais risadas)

Repito gente: um dos melhores jogos que conheci na BGS. Termino deixando pra vocês este trailer maravilhoso. Sai pra PC no primeiro bimestre de 2018.