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Pra quem não conhece, Warpzone (site) é uma iniciativa de fãs das publicações nacionais antigas sobre videogame que começou em 2015 com um fanzine independente e hoje está consolidada publicando 4 livros por mês entre catálogos de “101 Jogos Inesquecíveis” de consoles retrô, biografias de personagens de jogos clássicos, além de livros explorando franquias em todas as suas ramificações.

No último sábado, dia 10 de dezembro, aconteceu o 3º Encontro da Warpzone em São Paulo. Às 13:19, chego à estação Hebraica-Rebouças do trem e aguardo carona para ir ao encontro que começa às 14:00 na Zona Norte. Os caras chegam somente depois das 14:00, mas antes da chuva: tudo bem pra mim.

No carro, já entrego sete ou oito revistas Videogame para meu camarada Leandro Vallina, do canal Filmes & Games, em troca de algumas revistas Old! Gamer da melhor safra, das primeiras, das que mais gosto e que ainda me faltavam. Chegamos ao encontro um pouco depois do que esperávamos, e a escola de natação Acquatile – a sede do encontro – já está cheia de gente. Um carrinho de cachorro-quente logo na entrada climatiza o ambiente, e já vemos rostos conhecidos antes mesmo de pararmos o carro. No asfalto do estacionamento, montes de revistas e games.

Leandro Vallina (canal Filmes & Games); Cleber Marques (sócio da Warpzone); Emerson Fiori (organizador do campeonato de SFII); Rita Chiatta (anfitriã do evento); Celso Affini (canal Defenestrando Jogos)
Da esquerda pra direita: Leandro Vallina (canal Filmes & Games), Cleber Marques (sócio da Warpzone), Emerson Fiori (organizador do campeonato de SFII), Rita Chiatta (anfitriã do evento) e Celso Affini (canal Defenestrando Jogos).

Enquanto eu ainda lutava contra a introversão e tentava cumprimentar as pessoas ativamente, Rafael Marques – um dos redatores da Warpzone – me aponta uma pilha de revistas e diz que duvida que eu vá embora do encontro sem levar pelo menos uma daquelas. Acabo de contar aqui em casa, e saí de lá com dez revistas Videogame (no meu caso, a revista de games mais nostálgica) somente daquela pilha.

Antecipando este gasto com as revistas, levei algumas coisinhas para vender, como um controle de Master System baleado – que já protagonizou uma cena polêmica no Covil -, Dragon Ball Z 1 e 2 de Famicom, Ocarina of Time japonesa, Burgertime, Astrosmash e Beamrider de Intellivision, etc. Até que deu para arrecadar uma quirerinha e minimizar o “investimento” nas revistas.

A certa altura, enquanto conversava com o pessoal e aproveitava para bater aquele dog, o organizador do campeonato convoca Zemo (eu) e Celso Affini (canal Defenestrando Jogos) para competirem no Street Fighter II, logo na primeira rodada, e não é a primeira vez que ocorre isso. O jogo é bem disputado, mas o Celso me derrota por sorte, por ter ficado com um controle melhor, e por fim com um pouquinho de mérito dele também.

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Da esquerda pra direita: Cleber Marques, Leandro Filgueiras e Gilson Lopes da Silva.

Volto para a área externa para afogar a eterna mágoa em mais um dog, e dou um rolê pelas rodinhas de gente conversando e pelas peças expostas para rolos. Para a minha surpresa, Rita Chiatta, a generosíssima anfitriã do encontro, se interessa pela Ocarina japa e diz para eu escolher coisas da banquinha dela: peguei a Videogame #46, com Star Wars e Virtua Racing de 32X na capa, a Old! Gamer #7 dos Arcades de Futebol e um Taz-Mania de Master System. Volto a sorrir.

Aproveito para dar uma olhada geral no que estavam vendendo e pego mais dois jogos para jogar com as crianças: Chameleon Twist de 64 e Forgotten Worlds de Master. Logo após, conversando com o Ivan Battesini – que praticamente dominou o setor da locação de games nos anos 90 com a franquia Progames – desabo que na Progames que havia perto de casa eles só colocavam lançamentos (Playstation e Saturn) e jamais encontrei jogos de NES e SNES naquela locadora. Ele ficou surpreso.

Bom, hora de jogar alguma coisa: convoco um camarada para uma briga no Street, mas o SNES estava dominado, com uma galera enorme jogando Mortal Kombat 3. Master System com crianças brincando com a Light Phaser, Nintendinho com gente jogando Super Mario 3, qual console estaria sem ninguém jogando?

O único console que não estava sendo usado naquele momento era o Zeebo. Sim, eu escrevi isso: Z-E-E-B-O. O único console do local que sequer contava com uma cadeira diante de si para testemunhar sua presença! Bom, como eu jamais havia tocado em um Zeebo, fiquei feliz e me aventurei. O primeiro jogo que testei era de uma espécie de canoagem, que era possível ser jogado em três cenários. Escolho “Santo André”, aperto o botão 1, espero quase um minuto até o “carregando…” terminar, mesmo com o jogo gravado na memória do console. Quando o jogo começa, percebo claramente que estou em uma competição de slalom no esgoto de Santo André, com gráficos poligonais à altura do Playstation, e desfruto da experiência com prazer duplo: por um lado descobrir que há um jogo razoável no Zeebo, por outro pela podreira da ambientação do jogo. O segundo e último jogo que testei era uma espécie de Brain Age totalmente em português, que começa informando ao jogador que todo mundo usa apenas 10% do cérebro. Depois de apanhar muito do controle do Zeebo, para me animar, o jogo me informa que ao contrário da totalidade da raça humana, eu uso apenas 5%.

A turma toda reunida pra registrar o 3º Encontro WarpZone
A turma toda reunida pra registrar o 3º Encontro WarpZone

Depois dessa, vou conversar mais com o pessoal, que a esta altura está quase todo dentro do salão, já que a já tradicional chuva de verão espancava o estacionamento, e noto que nossa anfitriã já está desligando e recolhendo os consoles. Pergunto se posso ajudar e sou incumbido de tirar as pesadas TVs de tubo das mesas, que eram alugadas e já seriam devolvidas. De passagem, ela me diz: – Acredita que nunca roubaram uma coisinha sequer até hoje em nossos encontros? Sorrio e sinto aquela alegria gostosa de ambiente familiar, mas cai a ficha que é hora de ir embora. Corro atrás do Cleber Marques, editor da Warpzone, para adquirir os presentes de Natal para as crianças e cair fora. Pego dois livros da série 101 Games Inesquecíveis, o de Nintendinho e o de Master System, dois catálogos muito bonitos, com cada jogo abordado valorizado pela diagramação, e com um texto acessível e legível, contrariando certa tendência de mostrar seis jogos por página com pouquíssimas palavras e letras miúdas.

Volto para casa pensando – com apenas 5% do cérebro, claro – em tudo que vivi nesta tarde . Constato que este tipo de encontro fomenta o resgate histórico do jornalismo impresso sobre games, o multiplayer local, os rolos honestos e principalmente o encontro de pessoas que gostam de jogar videogame sem a mediação de um computador. Obrigado, Warpzone.