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Estamos vivendo em uma era de remakes, isso é fato. Enquanto muitos criticam o fato da indústria de games estar saturada e com “pouca criatividade”, vivendo somente da glória do passado, outros enxergam isso como algo positivo, pois estamos tendo a oportunidade de reviver títulos com todo seu potencial e que, em sua época, foram prejudicados pelas limitações tecnológicas.

De todos os remakes lançados nos últimos anos, sem sombra de dúvidas o de Final Fantasy VII foi o que causou mais alvoroço, pois era um que os fãs vinham pedindo há muito tempo – e quando eu digo fãs eu incluo gente que nem sequer gosta de RPGs, mas adora este título em específico. Esse é o poder de FFVII, um jogo muito a frente de seu tempo que revolucionou os videogames e cativou gerações.

Na maioria das vezes, a ideia de um remake “dos sonhos” seria recriar o mesmo jogo de cabo a rabo com gráficos surreais e uma modernização nas mecânicas, e em partes é o que vemos aqui. Porém, a Square Enix ousou ir mais além e trouxe mudanças significativas para o enredo como um todo, o que não demorou muito para gerar uma série de teorias a respeito do que exatamente é este jogo e o que ele nos reserva no futuro.

O tempo voa…

O fato de estar sendo produzido de maneira episódica fez muita gente entortar o nariz, mas é compreensível após jogarmos essa primeira parte, que é focada em Midgar. São as primeiras sete ou 10 horas de jogo estendidas para mais de 40 horas de conteúdo. Isso abriu espaço para enriquecer a profundidade e o relacionamento entre os personagens, mas também para radicalizar muito o enredo.

Este artigo trará SPOILERS pesados sobre toda a história do remake, então mesmo que você tenha jogado o clássico, caso não tenha jogado o remake, recomendo que deixe a leitura para depois. Se você jogou e não entendeu lhufas do final, vamos tentar raciocinar juntos.

Murmúrios do destino

Antes de mais nada, vamos falar sobre os Murmúrios (ou Whispers), a primeira grande mudança desta versão que deixou muita gente confusa. Essas criaturas (que são parentes distantes dos Dementadores, diga-se de passagem) aparecem logo no começo do jogo, no primeiro encontro de Cloud e Aerith, e continuam aparecendo em diversos momentos.

A explicação do que diabos são esses bichos só vem perto do final do jogo, quando Red XIII explica que são criaturas que surgem para se certificar que o destino seja cumprido. Basicamente, caso alguém tente alterar o curso da história, eles não deixam. Logo em seguida vemos isso na prática, quando testemunhamos Sephiroth matando o Presidente Shinra e depois ferindo Barret mortalmente. No jogo original, o Presidente Shinra morria exatamente nesse momento, mas Barrett não morre. Isso faz com que os Murmúrios apareçam e o curem, salvando sua vida.

Cloud rodeado de Dementadores… quer dizer, Murmúrios.

É aí que passamos a ligar os pontos de tudo que acontece no jogo original e neste. Na primeira aparição dos Murmúrios, eles separam Aerith de Cloud logo após a explosão do primeiro reator, o que colocou Cloud no caminho de vários soldados da Shinra e manteve os acontecimentos do original. Depois, eles aparecem aos montes no final do Capítulo 4, onde o motivo não foi explicado, mas pela primeira vez nós os enfrentamos. Após uma longa luta, eles desaparecem e o curso da história é alterado: Jessie se machuca na batalha e não vai para a próxima missão da Avalanche. No original, o trio Jessie, Wedge e Biggs está presente nessa missão, mas no remake somente Biggs foi.

No Capítulo 8 eles retornam durante o reencontro de Cloud e Aerith na igreja, mas dessa vez nós não lutamos contra eles. Em um certo momento, eles até salvam a vida de Aerith, que ia cair de uma boa altura – mas novamente, não é aqui que ela morre. O resultado: tudo se saiu exatamente como antes, com Cloud e Aerith escapando pelo telhado.

O Capítulo 12 traz o trágico momento em que a Shinra ataca o Setor 7, o que no original resultou na morte de Jessie, Biggs e Wedge. Somos atacados por um grupo de Murmúrios logo no começo e, após derrotá-los em combate, eles fogem. O resultado: Wedge sobrevive à queda e durante as cenas finais vemos que Biggs também foi salvo. Aparentemente, apenas Jessie morreu, mas pelo jeito nada os impede de a trazerem de volta, pois o destino foi alterado.

O que podemos tirar de tudo isso? Que esses Murmúrios estão ali para garantir que a história se desenrole exatamente do modo como aconteceu no jogo original e é só nos últimos momentos do game que finalmente entendemos que esse remake não pretende seguir os passos do título de 1997.

Enfrentando o destino

Quando nós finalmente concluímos a perseguição de moto após a invasão ao QG da Shinra, todos esperamos a conclusão dessa parte do jogo, afinal é nesse ponto da história que os personagens saem de Midgar. Porém, somos surpreendidos com um diálogo entre os protagonistas, que concluem que se não alterarem o curso da história, tudo será em vão. Desse modo, eles decidem enfrentar o destino.

O Arauto do Destino.

O que vem a seguir é uma grande batalha contra o Arauto do Destino, que seria uma personificação física do próprio destino. Durante a luta, os personagens vão tendo visões de cenas do clássico, como a morte de Aerith, por exemplo. Em um certo momento, Cloud enxerga a última cena do jogo (aquela em que vemos Red XIII e seus filhotes em uma Midgar de 500 anos depois) e Red explica que aquele é o futuro caso eles FALHEM.

Após derrotá-lo de uma vez por todas, a criatura desaparece, dando a entender que não existe mais nenhuma barreira para impedir os heróis de seguirem seu próprio caminho. Tudo que vimos no jogo original a partir dali como a morte de Aerith, o ataque das Weapons, o meteoro ou até mesmo a destruição de Sephiroth pode não existir mais. Como Red enfatizou, aquele era o destino caso eles falhassem, mas ao vencerem a batalha contra o destino, tudo pode acontecer.

Sete segundos para o fim

As coisas ficam ainda mais estranhas quando o jogo nos coloca em uma batalha direta contra Sephiroth, logo após derrotarmos o destino. No clássico, ao longo de todo o jogo, nós só enfrentamos Sephiroth na batalha final, então é um baque e tanto vê-lo agora.

Após derrotá-lo, ele transporta Cloud para um local chamado Edge of Creation (algo como o começo da criação), que é muito similar ao lugar onde Cloud dá o golpe final e o elimina de uma vez por todas no clássico. Lá, Sephiroth tenta convencer Cloud a se unir a ele para finalmente ter sucesso em seu plano, o que nos leva a crer que ele já sabe que será derrotado no final, caso a história seguisse seu curso predestinado.

Após ser rejeitado, ele diz uma frase um tanto curiosa para Cloud: “Sete segundos para o fim. É tempo o bastante para você. Talvez… vamos ver o que você fará com ele”. Isso gerou um bocado de teorias, mas como é muito enigmático, é difícil saber com precisão o que ele realmente quis dizer.

Na tela do mapa, você também pode acessar diversos arquivos de texto que explicam a história do jogo. Na sinopse do Capítulo 18, podemos ver o seguinte trecho: “Cloud recebe de Sephiroth uma visão do planeta sete segundos antes de sua destruição”. Na cena em questão, Cloud vê o mundo sendo consumido pelas chamas do meteoro invocado por Sephiroth no jogo original. Essa é uma das hipóteses.

Outras pessoas estão apostando no fato de que Sephiroth levou exatamente sete segundos para descer do céu e atravessar sua espada em Aerith – e atesto que é verdade, eu mesmo não acreditei quando li. Poderia muito bem ser uma referência à morte de Aerith, pois ela é a única que pode invocar a magia Holy para impedir o meteoro de Sephiroth. Ela é assassinada no exato momento em que está fazendo isso, deixando o grupo sem esperanças. O papel dela é fundamental na história, então faz sentido.

Sendo assim, isso pode significar muitas coisas. Talvez jogaremos uma realidade em que Aerith não foi assassinada e continuará viva até o final da história. Porém, talvez isso signifique que outro personagem importante pode morrer em seu lugar. Vindo de Tetsuya Nomura, um cara que adora viajar na maionese (vide a saga Kingdom Hearts), qualquer coisa pode acontecer.

Ainda assim, outras coisas nos levam a crer que Aerith também morrerá nesse remake. Caso você tenha tomado escolhas que aumentem o romance entre ela e Cloud, no início do Capítulo 14 vemos uma cena em que ela diz para Cloud não se apaixonar por ela, provavelmente já ciente do seu trágico destino (essa cena é alterada de acordo com suas escolhas, então você pode encontrar Tifa ou Barret no lugar de Aerith). Existe a possibilidade dessa cena ter sido apenas um sonho de Cloud, mas nunca se sabe.

Multiverso

Uma das teorias mais fortes deste remake é a existência de um multiverso. Isso é ainda mais evidente com a existência dos Murmúrios, pois eles claramente estão tentando garantir que os fatos decorram exatamente igual ao universo do original. Isso nos provou que Final Fantasy VII Remake não é uma versão repaginada do clássico, pois eles coexistem!

Como foi muito bem colocado pelo nosso amigo Caio Lopes em seu review do jogo, Final Fantasy VII já possui o seu próprio cânone. O Remake não invalida o original nem seus títulos complementares como Crisis Core, Dirge of Cerberus, Before Crisis e o filme Advent Children, pois na verdade ele faz parte disso tudo, porém em uma realidade alternativa.

A coroação dessa teoria acontece nas cenas finais, quando revivemos a icônica cena da morte de Zack Fair, protagonista do Crisis Core que também teve sua relevância para o enredo, mas não chega a participar do jogo em si. Em seus momentos finais, Zack enfrenta uma horda de soldados da Shinra e acaba morrendo em seguida, o que fez com que Cloud se tornasse o que é. Porém, a cena que nos é mostrada tem um desfecho diferente, onde Zack claramente sobreviveu.

Quando os heróis estão saindo de Midgar, vemos Cloud e Aerith passando por um ponto onde Zack está carregando Cloud, e tudo indica que isso está acontecendo simultaneamente, porém em realidades diferentes. Inclusive, parece que Aerith sentiu a presença dos dois passando por eles, talvez devido aos seus poderes de Cetra. Não fica claro se Zack está na realidade do FFVII clássico, mas tudo indica que, no universo do remake, Zack está vivo e terá um grande papel a desenrolar na segunda parte do jogo.

Os mais atentos também notarão um outro detalhe que reforça a teoria do multiverso. No início da segunda cena de Zack, vemos um pacote de salgadinhos voando pela tela, com um enfoque de aproximadamente dois segundos no desenho estampado nele. Podemos ver que é o mascote da Shinra, um cachorro chamado Stamp (ou Totó na versão em português), porém não é o mesmo cachorro que vemos durante o jogo. No Capítulo 5 devemos seguir os grafites desse cachorro para encontrar nosso caminho através dos túneis de metrô, só que ele é ilustrado como um cão da raça Beagle. Na cena de Zack, ele é um Fox Terrier, mas fica claro que se trata do mesmo mascote por causa da roupinha de militar.

Seria um sonho?

A última teoria que vi circular é de que toda essa realidade do remake se passa em um sonho de Cloud durante sua viagem pelo lifestream, quando ele está a caminho de derrotar Sephiroth de uma vez por todas no original. Particularmente, acho que essa teoria é bobagem. Ela se encaixa no mesmo grupo daquelas teorias preguiçosas que dizem que tudo é um sonho na cabeça do protagonista e que as pessoas insistem em continuar fazendo em basicamente tudo que existe.

O que a segunda parte de Final Fantasy VII Remake nos reserva é um verdadeiro mistério, então não espere muita fidelidade ao original. Com certeza vamos rever rostos conhecidos como o da Yuffie e o do Vincent, assim como revisitar lugares famosos como o Gold Saucer, Cosmo Canyon e Wutai, mas o que vai acontecer nesses lugares é impossível dizer.

A única certeza que temos é de que com certeza vai demorar bastante para essa segunda parte ver a luz do dia, então teremos muito tempo para pensar em tantas outras teorias.