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Por anos, o tema de horror foi utilizado em incontáveis obras. Como acontece no mundo da mágica e ilusionismo, somos atraídos por este fantasioso universo amedrontador e desconhecido, afinal, é da natureza humana o ato da curiosidade. Do nosso lado do globo terrestre, conhecemos um terror um tanto quanto mais imediato e baseado em medos “comuns” para a época. Em busca de uma representação visual para nossos temores, temos zumbis como uma representação da sociedade, a peste negra como a mão inevitável da morte pairando por um continente todo ou até mesmo o terrível  conde Drácula, que surgiu do medo em volta da anemia e do Anticristo.

Diferentemente de nós, o Japão e muitas outras culturas orientais possuem um folclore de terror um tanto quanto mais abundante nesse quesito, contando com criaturas e monstros que existem pelo simples fato de aterrorizar crianças e adultos. Hoje iremos falar destas lendas e o jogo que acredito melhor implementar este universo no mundo dos games, ou seja, a série Fatal Frame. Baseada nos contos de fantasmas japoneses e uma suposta história real, a série se tornou icônica na época do Playstation 2, porém acabou se tornando apenas uma mancha nos registros de jogos de horror.

Um retrato eterno da alma imortal

Durante a infância, é normal sentirmos medo ou considerarmos lugares assombrados como predominantes, afinal de contas ainda somos novos e nossos pequenos cérebros são incapazes de assimilar informações referentes a desgastes ou depredações naturais do tempo, fazendo com que atribuamos o termo “assombrado” a lugares desolados. A falta de vida ou cuidado com lugares servem para fomentar a ideia de terror, seja por nossos pais, crianças mais velhas ou apenas gente velha espalhando de boca a boca as famosas lendas urbanas.

Fatal Frame, conhecido no Japão como Zero e na Europa como Project Zero, é um dos maiores clássicos do horror da época do Playstation 2. O título traz uma história em que a jovem Miku Hinasaki deve adentrar a dilapidada mansão Himuro em busca de seu irmão Mafuyu, que desapareceu ali junto de outras três pessoas. A história é razoavelmente simples, porém o fato do sucesso de vendas do primeiro jogo no Ocidente está em um detalhe na capa, que afirmava que a trama retratada no jogo era baseada em uma história real.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Desde a antiguidade, máscaras sempre foram utilizadas para representar ligação com o desconhecido.

Supostamente, nos arredores de Tokyo, há uma misteriosa mansão antiga onde sete pessoas foram brutalmente assassinadas. Essa mansão exalaria uma terrível aura de agouro e o local todo aparentaria estar sob o controle de algo maligno. A área possuiria inúmeros túneis subterrâneos que se ligam a outras três distintas localidades e o espírito de uma jovem garota poderia ser visto em fotos de uma das janelas da propriedade. Entretanto, ninguém habitou a casa por anos e todos aqueles que ousam pisar no local são encontrados com marcas de cordas ao redor de seus pescoços.

Makoto Shibata, criador da série, diz que a lenda apenas serviu de inspiração para o jogo, mas que nada dos acontecimentos é real ou algo do tipo, porém o fato da história ser tão abstrata e assustadora para a população foi um pontapé inicial para a produção do game. A diferença desta vez é que mesmo sendo um jogo em que os inimigos são espíritos ao invés de monstros disformes, ou criaturas com bocarras enormes e membros desproporcionais, Fatal Frame apela para algo comum para o terror japonês, ou seja, sua aleatoriedade e cultura.

Diferente de outros jogos de terror como Silent Hill, Resident Evil ou Clock Tower, aqui os inimigos são sempre espíritos ou manifestações dos mesmos através de objetos, o que pode acabar gerando imagens perturbadoras e desconfortantes. Unindo isso a cultura japonesa e seu dia a dia, podemos ver a formação da psiquê atrás da obra. A cultura japonesa sempre contou com rituais, ou práticas mortuárias estranhas para o Ocidente, sem falar do alto índice de suicídios que rondam a população japonesa, tema que serviu de inspiração para o quinto jogo da franquia.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Desta vez não há como fechar os olhos para evitar ver as criaturas.

Assim, a história do primeiro jogo da franquia Fatal Frame conta sobre a família Himura e sua misteriosa e reclusa mansão, mas também nos apresenta o casal de irmãos Hinasaki, órfãos depois da morte do pai e do suicídio de sua mãe. Abaixo da mansão, em seus intricados tuneis subterrâneos, existem os Portões do Inferno. Estes portões ameaçam se abrir a cada dez anos e, caso se abram, irão espalhar uma onda de malícia por 150 anos na região, matando e aprisionando a alma de todos no local. Para que os portões se mantenham fechados, é necessário realizar o Ritual de Estrangulamento seguido da Cerimonia de Cordas.

Para se realizar o ritual, é necessária a presença de uma Sacerdotisa do Santuário de Cordas, uma jovem que será sacrificada para se manter o Portão do Inferno fechado por outros dez anos. Para que se escolha quem será a sacerdotisa, as jovens garotas devem jogar um jogo chamado Pega Pega Demoníaco, que ocorre junto do Ritual Cegante. Uma vez escolhida, a jovem deve passar anos em isolamento, a fim de cortar toda e quaisquer amarras com a vida.

Durante o ritual, a moça se deita em uma mesa, onde totens rotatórios se encontram próximos a sua cabeça, braços e pernas. Enquanto deitada, cordas são amarradas em seus pulsos, tornozelos e pescoço. Após isto, os totens começam a ser torcidos pelos membros da família até que as cordas se manchem de sangue, os membros sejam descolados do corpo e a jovem morra. Assim com o sangue virgem e puro da jovem, o portão se mantem “saciado” e fechado por outros dez anos, quando o ritual irá se repetir uma vez mais, no mesmo dia e hora, dando um tempo finito para que as jovens possam se preparar. Porém, na ultima tentativa de se realizar o Ritual de Estrangulamento, algo muito puro e inocente aconteceu e isso ocasionou a morte de inúmeras pessoas e o tormento infindável de diversas almas.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Quarto escuro, apenas a luz da TV iluminando o local, apenas as vozes quebram o silêncio ensurdecedor.

Durante sua adolescência, a jovem Kirie Himuro acabou conhecendo um rapaz que vivia na mansão e ajudava a família Himuro e ambos se apaixonaram perdidamente. Eles pensaram que poderiam viver juntos. O patriarca da família e sacerdote supremo do ritual ordenou que o jovem fosse executado sem que a jovem Kirie soubesse, mas falhou e a jovem descobriu sobre a morte do jovem. Desa forma, o esforço máximo de proteger a garota de ter alguma ligação com este mundo durante o ritual teve o efeito contrário. Kirie não pôde cortar seu amor pelo jovem rapaz e sua culpa por ter feito com que ele morresse e isso fez com que os portões se abrissem, despejando uma calamidade em todos os habitantes e ocupantes do local, que agora serviam a Kirie em uma tormento sem fim.

O local se tornou abandonado e, com o tempo, lendas começaram a rondar a tenebrosa mansão Himuro. Como aqueles que iam desbrava-lá jamais voltavam, isso atraiu a curiosidade do escritor Junsei Takamine, que foi para a mansão, acompanhado de seus assistentes Koji Ogata e Tomoe Hirasaki. Lá os visitantes tombam diante da angustia e das maldições dos espíritos inquietos do local e se tornam servos de Kirie. Em busca de respostas para o desaparecimento deles, Mafuyu Hinasaki – irmão mais velho da protagonista, Miku Hinasaki. – parte para investigar o local com um tesouro deixado por sua mãe, uma máquina chamada Camera Obscura.

No local, o jovem Mafuyu se depara com Kirie, que vê nele o seu antigo amor, tendo em vista que ambos são incrivelmente semelhantes. Com isso, ela não o transforma em escravo nem o amaldiçoa, mas o mantem preso na mansão.

Entra em cena finalmente a protagonista: Miku, em busca de seu irmão, terá de enfrentar espíritos e fantasmas a fim de trazer seu irmão de volta para casa. Ou então terá de se juntar às fileiras de espíritos controlados por Kirie por anos a fio, sofrendo e se lamentando.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Sempre espere até o ultimo momento para poder infligir o máximo de dano.

Se ouvir o seu nome, não olhe para trás

Olhando dessa maneira superficial, pode parecer que o jogo seja tolo e pouco amedrontador, entretanto, Makoto Shibata originalmente nomeou o projeto como “Zero”, pois sua ideia inicial era  começar um novo patamar nos jogos de horror, algo inovador, algo que seria gravado na mente, como uma imagem. Assim nasceu a ideia de encarar o horror literalmente “cara a cara” em Fatal Frame. Na época, os arcades de rail-shooters de horror como House of the Dead já existiam, mas a sua ação frenética e desenfreada deixava pouco espaço para o horror.

Silent Hill 2 havia sido lançado havia pouco tempo e seguia a estética tradicional de horror em que o protagonista utiliza armas de fogo para matar as criaturas, como em Resident Evil, Alone in the Dark e outros. A partir da antiga superstição sobre fotografias, Makoto retirou o seu ás da manga e trouxe para o mundo dos games algo nunca visto antes (e que na realidade é algo que vem sendo tratado há anos pela humanidade): o reflexo da imagem humana.

Desde antigamente, a Humanidade sempre teve espelhos como objetos místicos, portais para diferentes dimensões e planos. Os antigos gregos e egípcios temiam a quebra de espelhos e superfícies refletoras por medo do ato representar a destruição da própria alma. Com o passar dos anos, mais precisamente durante os primeiros anos do mundo fotográfico, alguns povos acreditavam que as câmeras possuíam a capacidade de absorver a alma daqueles fotografados por elas. Tal ideia se enraizou tanto na mente da população em relação ao ato de se prender almas em fotografias que, durante a era vitoriana, fotos pós-mortem eram um simbolo de status e riqueza. O ato de tirar uma foto do corpo morto de falecidos queridos tinha por objetivo manter suas almas neste plano.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Seria Mufuyu a reencarnação do amor de Kirie?

Assim nasceu a Camera Obscura, a sua unica defesa em Fatal Frame. Com ela, o jogador deverá olhar diretamente para as aparições com o objetivo de poder absorver a energia espiritual das aparições e as prender eternamente no negativo dos filmes. Essa mecânica faz com que o jogador tenha de sair de sua zona de conforto, ao ter de encarar os espíritos olho no olho a fim de poder carregar completamente a energia da câmera e poder infligir mais dano.

Fantasmas são (e, ao mesmo tempo, não são) os mais aterrorizantes seres anormais. Tudo depende da maneira como são apresentados. No cinema atual, muito tem se falado em filmes de possessão fantasmagórica ou espiritual, mas muitos dependem do fator “jump scare” para deixar o espectador atônito e afoito. O que acontece não é medo e sim uma descarga hormonal inusitada no corpo, gerando uma sensação de urgência e ansiedade, fazendo com que o corpo haja como se estivesse com medo. Entretanto, não é isso o que ocorre e, no final, a obra acaba sendo bem falada por um tempo mas logo cai no esquecimento (estou olhando para vocês, Invocação do Mal e Annabele).

Porém, muito do horror japonês vem da aleatoriedade de seu folclore e de toda a construção ao redor do universo em que se adentra ao experimentar algo vindo de lá. Tomemos como exemplo a série Yami-Shibai, uma série de animação baseada nos contos de horror japoneses: cada episódio dura em média de 4 a 5 minutos, porém as histórias e a maneira como a arte é produzida geram uma sensação de desconforto no espectador. Através do ato de alimentar a curiosidade do espectador ao redor do que irá ocorrer ou sobre o que está havendo, e porque tudo é tão bizarramente simples ao invés de ser complicadamente assustador, gera-se medo sobre o que irá acontecer a seguir ou sobre como a criatura irá aparecer. Em especial neste ultimo caso, pois o bestiário de horror japonês conta com criaturas tão bizarramente repugnantes ao se bater o olho que é impossível não sentir um calafrio.

Imagem do artigo de Fatal Frame

Nunca se esqueça de procurar todos itens pela mansão.

Fatal Frame absorve esses tesouros folclóricos e mistura com elementos humanos, como a dor de um amor não vivido, sacrifícios que fazemos em nome dos outros e da família e, infelizmente, suicídio. O Japão é conhecido pela sua alta taxa de suicídios, devido a estressantes jornadas de trabalho e a própria visão cultural do povo. Esse elemento é utilizado no quinto jogo da série, que se passa em uma montanha que representa a floresta Aokigahara. Mais conhecida como a Floresta dos Suicidas, esse é um lugar em que diversas pessoas seguem rumo todos os anos para ceifarem sua própria vida e muitos acreditam que o local seja lar dos espíritos daqueles que lá morreram. Poucos se atrevem a tomar as trilhas que lá existem e que jamais devem ser quebradas, sendo um crime gravíssimo interferir com os cadáveres ou sair da trilha delineada pela polícia.

Todos os espíritos da mansão Himuro incorporam esses aspectos, seus rostos contorcidos de dor e sofrimento, seus “corpos” magros e raquíticos e contorcidos pelos anos a fio de sofrimento, presos a este local maldito. Uma mulher teve sua cabeça decapitada após a Malícia ter escapado dos Portões do Inferno e agora ronda pela mansão em busca do chefe da família Himuro, que, em sua loucura infernal, a matou. Um homem cheio de remorso tentou impedir o ritual e foi morto,  afogado em um poço onde seu corpo e alma apodreceram. Um garoto foi morto atrás de um relógio e seu corpo ocultado. Uma pequena jovem foi brutalmente assassinada no quarto de bonecas da mansão. Ter de encarar esses e outros muitos bizarros espíritos em um ambiente opressivo e claustrofóbico como o do jogo requer nervos de aço, afinal as feições de pavor, horror e sofrimento contínuo podem e irão ficar gravadas nas mentes dos jogadores.

Kirie Himuro habita a mansão como a líder dos espíritos e os comanda, porém sua alma se encontra dividida em duas. Na lenda urbana que deu inicio à produção do jogo, existe a citação do espírito de uma jovem que habita na mansão assombrada e aqui ela surge como a “Garota que aponta”. Essa manifestação é o lado bom de Kirie, que se separou durante a falha do ritual e guia o jogador, a fim de poder se unir novamente com seu espírito e poder descansar. Esses elementos, que são aos poucos introduzidos ao jogador, através de fitas cassete e anotações durante o jogo, são a chave para se criar o horror.

Um dos momentos mais importantes deste aumento de tensão se dá quando o jogador encontra a “Cega”. Ela foi encarregada quando viva de participar do Ritual cegante, em ordem de escolher a Sacerdotisa das Cordas. Para isso ela teve de ter seus olhos abertos forçadamente e utilizar uma máscara com duas laminas voltadas para seus olhos. Uma vez cega pela máscara ela estava pronta para escolher quem seria a próxima Sacerdotisa das Cordas.

Por anos o tema de horror foi utilizado em incontáveis obras, como no mundo da magica e ilusionismo, somos atraídos por este fantasioso universo amedrontador e desconhecido, afinal é da natureza humana o ato da curiosidade. Do nosso lado do globo terrestre conhecemos um terror um tanto quanto mais imediato e em questão baseado em medos "comuns" para a época em busca de uma representação visual para nossos temores, zumbis como uma representação da sociedade, a peste negra como a mão inevitável da morte pairando por um continente todo ou até mesmo o terrível  conde Drácula, que surgiu do medo em volta da anemia e do anti-cristo. Diferentemente de nós, o Japão e muitas outras culturas orientais possuem um folclore de terror um tanto quanto mais abundante nesse quesito, contando com criaturas e monstros que existem pelo simples fato de aterrorizar crianças e adultos. Hoje iremos falar destas lendas e o jogo que acredito mais bem implementar este universo no mundo dos games, ou seja, a série Fatal Frame. Baseada nos contos de fantasmas japoneses e uma suposta história real, a série se tornou icônica na época do Playstation 2, porém acabou se tornando apenas uma mancha nos registros de jogos de horror. Um retrato eterno da alma imortal Durante a infância é normal sentirmos medo ou considerarmos lugares assombrados como predominantes, afinal de contas ainda somos novos e nossos pequenos cérebros são incapazes de assimilar informações referentes a desgastes ou depredações naturais do tempo, fazendo com que atribuamos o termo "assombrado" a lugares desolados. A falta de vida ou cuidado com lugares servem para fomentar a ideia de terror, seja por nossos pais, crianças mais velhas ou apenas gente velha espalhando de boca a boca as famosas lendas urbanas. Fatal Frame, conhecido no Japão como Zero e na Europa como Project Zero é um dos maiores clássicos do horror da época do Playstation 2, trazendo uma história aonde a jovem Miku Hinasaki deve adentrar a dilapidada mansão Himuro em busca de seu irmão Mafuyu, que desapareceu dentro da mansão junto de outras três pessoas. A história é razoavelmente simples, porém o fato do sucesso de vendas do primeiro jogo no Ocidente está em um detalhe na capa, que afirmava que a história retratada no jogo era baseada em uma história real. Desde a antiguidade, máscaras sempre foram utilizadas para representar ligação com o desconhecido. Supostamente nos arredores de Tokyo há uma misteriosa mansão antiga aonde sete pessoas foram brutalmente assassinadas, a mansão exala uma terrível aura de agouro e o local todo aparenta estar sob o controle de algo maligno. A área possui inúmeros túneis subterrâneos que se ligam a outras três distintas localidades, o espírito de uma jovem garota pode ser visto em fotos de uma das janelas da propriedade, porém ninguém habita a casa a anos e todos aqueles que ousam pisar no local são encontrados com marcas de cordas ao redor de seus pescoços. Makoto Shibata, criador da série diz que a lenda apenas serviu de inspiração para o jogo, mas que nada dos acontecimentos é real ou algo do tipo, porém o fato da história ser tão abstrata e assustadora para a população foi um pontapé inicial para a produção do game. A diferença desta vez é que mesmo sendo um jogo aonde os inimigos são espíritos ao invés de monstros deformes, ou criaturas com bocarras enormes e membros desproporcionais, Fatal Frame apela para algo comum para o terror japonês, ou seja, sua aleatoriedade e cultura. Diferente de outros jogos de terror como Silent Hill, Resident Evil ou Clock Tower, aqui os inimigos são sempre espíritos ou manifestações dos mesmos através de objetos, o que pode acabar gerando imagens perturbadoras e desconfortantes. Unindo isso a cultura japonesa e seu dia a dia podemos ver a formação da psique atrás da obra, a cultura japonesa sempre contou com rituais, ou práticas mortuárias estranhas para o Ocidente, sem falar do alto índice de suicídios que rondam a população japonesa, tema que serviu de inspiração para o quinto jogo da franquia. Desta vez não há como fechar os olhos para evitar ver as criaturas. A história do primeiro jogo da franquia Fatal Frame conta sobre a família Himura e sua misteriosa e reclusa mansão, mas também nos apresenta o casal de irmãos Hinasaki, órfãos depois da morte do pai e do suicídio de sua mãe. Abaixo da mansão, em seus intricados tuneis subterrâneos existem os Portões do Inferno, estes portões ameaçam de abrir a cada dez anos e caso se abram irão espalhar uma onda de malícia por 150 anos na região, matando e aprisionando a alma de todos no local. Para que os portões se mantenham fechados, é necessário realizar o Ritual de Estrangulamento seguido da Cerimonia de Cordas. Para se realizar o ritual é necessário a presença de uma Sacerdotisa do Santuário de Cordas, uma jovem que será sacrificada em função de se manter o Portão do Inferno fechado por outros dez anos. Para que se escolha quem será a sacerdotisa, as jovens garotas devem jogar um jogo chamado pega Pega Demôniaco, que ocorre junto do Ritual Cegante. Uma vez escolhida a jovem deve passar anos em isolamento, afim de cortar todas e quaisquer amarras com a vida, durante o ritual a mesma se deita em uma mesa, aonde totens rotatórios se encontram próximos a sua cabeça, braços e pernas. Enquanto deitada, cordas são amarradas em seus pulsos, tornozelos e pescoço, após isto os totens começam a ser torcidos pelos membros da família até que as cordas se manchem de sangue, os membros sejam descolados do corpo e a jovem morra. Assim com o sangue virgem e puro da jovem, o portão se mantem "saciado" e fechado por outros dez anos, quando o ritual irá se repetir uma vez mais, no mesmo dia e hora, dando um tempo finito para que as jovens possam se preparar. Porém na ultima tentativa de se realizar o Ritual de Estrangulamento, algo muito puro e inocente aconteceu e isso ocasionou na morte de inúmeras pessoas e no tormento infindável de diversas almas. Quarto escuro, apenas a luz da Tv iluminando o local, apenas as vozes quebram o silêncio ensurdecedor. Durante sua adolescência a jovem Kirie Himuro acabou conhecendo um rapaz que vivia na mansão e ajudava a família Himuro, ambos se apaixonaram perdidamente e pensaram que poderiam viver juntos. O patriarca da família e sacerdote supremo do ritual ordenou que o jovem fosse executado sem que a jovem Kirie soubesse, o que falhou e a jovem descobriu sobre a morte do jovem e o esforço máximo proteger a garota de ter alguma ligação com este mundo durante o ritual teve o efeito contrário. Kirie não pode cortar seu amor pelo jovem rapaz e sua culpa por ter feito com que o mesmo morresse e isso fez com que os portões se abrissem, despejando uma calamidade em todos os habitantes e ocupantes do local, que agora serviam a Kirie em uma tormento sem fim. O local se tornou abandonado e com o tempo lendas começaram a rondar a tenebrosa mansão Himuro e como aqueles que iam desbrava-lá jamais voltavam, o que atraiu a curiosidade do escritor Junsei Takamine, que foi para a mansão, acompanhado de seus assistentes Koji Ogata e Tomoe Hirasaki. Lá os visitantes recaem sobre a angustia e maldições dos espíritos inquietos do local e se tornam servos de Kirie, em busca de respostas para o desaparecimento deles Mafuyu Hinasaki - Irmão mais velho da protagonista, Miku Hinasaki. - parte para investigar o local com um tesouro deixado por sua mãe, uma máquina chamada Camera Obscura. No local o jovem Mafuyu se depara com Kirie, que vê nele o seu antigo amor, tendo em vista que ambos são incrivelmente semelhantes, com isso a mesma não o torna um escravo ou o amaldiçoa, mas o mantem preso no local. Miku em busca de seu irmão terá de enfrentar espíritos e fantasmas afim de trazer seu irmão de volta para casa, ou terá de se juntar as fileiras de espíritos controlados por Kirie por anos a fio, sofrendo e se lamentando. Sempre espere até o ultimo momento para poder infligir o máximo de dano. Se ouvir o seu nome, não olhe para trás  Olhando dessa maneira por cima, claro que o jogo parece bobo e pouco amedrontador, entretanto, Makoto Shibata originalmente nomeou o projeto como "Zero", pois sua ideia inicial era esta, começar um novo patamar nos jogos de horror, algo inovador, algo que seria gravado na mente, como uma imagem. Assim nasceu a ideia de encarar o horror literalmente "cara a cara" em Fatal Frame, claro que na época os arcades de rail-shooters de horror como House of the Dead já existiam, mas a sua ação frenética e desenfreada deixava pouco espaço para o horror. Silent Hill 2 havia sido lançado a pouco tempo e seguia a estética tradicional de horror aonde o protagonista utiliza armas de fogo para matar as criaturas, como em Resident Evil, Alone in the Dark e outros. A partir da antiga superstição sobre fotografias, Makoto retirou o seu Ás da manga e trouxe para o mundo dos games algo nunca visto antes e que na realidade é algo que vem sendo tratado a anos pela humanidade, o reflexo da imagem humana. Desdê antigamente a humanidade sempre teve espelhos como objetos místicos, portais para diferentes dimensões e planos. Os antigos gregos e egípcios temiam a quebra de espelhos e superfícies refletoras por medo do ato representar a destruição da própria alma. Com o passar dos anos, mais precisamente durante os primeiros anos do mundo fotográfico, alguns povos acreditavam que as câmeras possuíam a capacidade de absorver a alma daqueles fotografados por elas. Tal ideia se enraizou tanto na mente da população em relação ao ato de se prender almas em fotografias que durante a era vitoriana, fotos pós-mortem eram um simbolo de status e riqueza. O ato de tirar uma foto do corpo morto de falecidos queridos em ordem de manter suas almas neste plano. Seria Mufuyu a reencarnação do amor de Kirie? Assim nasceu a Camera Obscura, a sua unica defesa em Fatal Frame. Com ela o jogador deverá olhar diretamente para as aparições em ordem de poder absorver a energia espiritual das aparições e as prender eternamente no negativo dos filmes. O que faz com que o jogador tenha de sair de sua zona de conforto, ao ter de encarar os espíritos olho no olho a fim de poder carregar completamente a energia da câmera e poder infligir mais dano. Fantasmas são e ao mesmo tempo não são os mais aterrorizantes seres anormais, tudo depende da maneira em como são apresentados. No cinema atual muito tem se falado em filmes de possessão fantasmagórica ou espiritual, mas muitos dependem do fator "Jumpscare" para deixar o espectador atônito e afoito. O que acontece não é medo e sim uma descarga hormonal inusitada no corpo, gerando uma sensação de urgência e ansiedade, fazendo com que o corpo aja como se estivesse com medo, mas não é o que ocorre e no final a obra acaba sendo bem falada por um tempo mas logo cai no esquecimento. (Estou olhando para você Invocação do Mal e Annabele.) Porém muito do horror japonês vem da aleatoriedade de seu folclore e de toda a construção ao redor do universo no qual se adentra ao experimentar algo vindo de lá. Tomemos como exemplo a série Yami-Shibai, uma série de animação baseada nos contos de horror japoneses, cada episódio dura em média de 4 a 5 minutos, porém as histórias e a maneira como a arte é produzida geram uma sensação de desconforto no espectador. Através do ato de alimentar a curiosidade do espectador ao redor do que irá ocorrer, ou sobre o que está havendo e porque tudo é tão bizarramente simples ao invés de ser complicadamente assustador geram medo sobre o que irá acontecer a seguir ou sobre como a criatura irá aparecer. Em especial neste ultimo caso, pois o bestiário de horror japonês conta com criaturas tão bizarramente desconfortantes ao se bater o olho que é impossível não sentir um calafrio. Fatal Frame absorve esses tesouros folclóricos e mistura com elementos humanos como a dor de um amor não vivido, sacrifícios que fazemos em nome dos outros e da família e infelizmente suicídio. O japão é conhecido pela sua alta taxa de suicídios, devido a estressante jornadas de trabalho e a própria visão cultural do povo, o que é utilizado no quinto jogo da série que se passa em uma montanha que representa a floresta Aokigahara, mais conhecida como a Floresta dos Suicidas. Um lugar aonde diversas pessoas seguem rumo todos os anos para ceifarem sua própria vida, muitos acreditam que o local seja lar dos espíritos daqueles que lá morreram e poucos atrevem a tomar as trilhas que lá existem e que jamais devem ser quebradas, sendo um crime gravíssimo interferir com os cadáveres ou sair da trilha delineada pela polícia. Todos os espíritos da mansão Himuro encorporam esses aspectos, seus rostos contorcidos de dor e sofrimento, seus "corpos" magros e raquíticos e contorcidos pelos anos a fio de sofrimento, presos a este local maldito. Uma mulher teve sua cabeça decapitada após a Malicia ter escapado dos Portões do Inferno e agora ronda pela mansão em busca do chefe da família Himuro, que em sua loucura infernal a matou. Um homem cheio de remorso tentou impedir o ritual e foi morto, em sua vingança afogou em poço aonde seu corpo e alma apodreceram, um garoto foi morto atrás de um relógio e seu corpo ocultado e uma pequena jovem foi brutalmente assassinada no quarto de bonecas da mansão. Ter de encarar esses e outros muitos bizarros espíritos em um ambiente opressivo e claustrofóbico como o do jogo requer nervos de aço, afinal as feições de pavor, horror e sofrimento contínuo podem e irão ficar gravadas nas mentes dos jogadores. Kirie Himuro habita a mansão como a líder dos espíritos e os comanda, porém sua alma fora divida em duas. Na lenda urbana que deu inicio a produção do jogo existe a citação do espírito de uma jovem que habita na mansão assombrada, aqui ela surge como a "Garota que aponta", ela é o lado bom de Kirie, que se separou durante a falha do ritual e guia o jogador, afim de poder se unir novamente com seu espírito e poder descansar. Esses elementos que são aos poucos introduzidos ao jogador através de fitas cassete e anotações durante o jogo são a chave para se criar o horror. Um dos momentos mais importantes deste aumento de tensão se dá quando o jogador encontra a "Cega", ela foi encarregada quando viva de participar do Ritual cegante, em ordem de escolher a Sacerdotisa das Cordas. Para isso ela teve de ter seus olhos abertos forçadamente e utilizar uma máscara com duas laminas voltadas para seus olhos, uma vez cega pela máscara ela estava pronta para escolher quem seria a próxima Sacerdotisa das Cordas. Fatal Frame foi o primeiro grande jogo de horror que nos permitiu mergulhar pela primeira vez no universo dos espíritos japoneses, diferente dos próximos títulos o primeiro jogo é bem simples, contando a história de como Kirie desejava que os outros sofressem sua dor, independente de quem fosse. O final canônico da história mostra que Mafuyu se nega abandonar Kirie durante o sacrifício da mesma de manter os portões fechados para sempre, enquanto a mansão desmorona, ambos ficam no subsolo, enquanto Miku foge. A Camera Obscura se tornou um item comum da série, porém no primeiro jogo é mostrado que um espelho que impedia que a Malicia escapasse, se partiu durante a falha do ritual e se dividiu em cinco partes, que são encontradas durante o jogo, sendo a quinta parte a própria lente da câmera. Com o espelho montado uma vez mais, Kirie se viu refletida na janela da alma, seus olhos através do espelho e escolheu se sacrificar definitivamente e sem amarras a este mundo. Espelhos, fotografias e reflexos, talvez sejam apenas objetos que difratam a luz, talvez sejam porta retratos para outros mundos ou quem sabe aquela "imagem" que etá do outro lado, não esteja apenas esperando que você de as costas ao sair do banheiro.

Através da perda da visão, a escolha da Sacerdotisa se torna pura e incorruptível.

Fatal Frame foi o primeiro grande jogo de horror que nos permitiu mergulhar no universo dos espíritos japoneses. Diferente dos próximos títulos, o jogo que dá início à franquia é bem simples, contando a história de como Kirie desejava que os outros sofressem sua dor, independente de quem fosse.

A Camera Obscura acabaria se tornando um item comum da série. Entretanto, nesse primeiro jogo, é mostrado que um espelho, que impedia que a Malícia escapasse, se partiu durante a falha do ritual e se dividiu em cinco partes, que são encontradas durante a aventura, sendo a quinta parte a própria lente da câmera. Com o espelho montado uma vez mais, Kirie se viu refletida na janela da alma, contemplou seus olhos através do espelho e escolheu se sacrificar definitivamente e sem amarras a este mundo. O final canônico da história mostra que Mafuyu se nega a abandonar Kirie durante o sacrifício da mesma de manter os portões fechados para sempre, enquanto a mansão desmorona. Desta forma, o casal fica no subsolo, enquanto a protagonista Miku foge.

Espelhos, fotografias e reflexos talvez sejam apenas objetos que refletem a luz. Talvez sejam porta-retratos para outros mundos. Quem sabe aquela “imagem” que está do outro lado não esteja apenas esperando que você dê as costas ao sair do banheiro?