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O hype por Cuphead só aumenta desde o seu anúncio em 2014 e muito se deve pela proposta diferenciada do Studio MDHR e o estilo visual criado por Jared Moldenhauer. Chegou a hora de falarmos um pouco sobre o estilo visual e as referências artísticas por trás desse lançamento.

Em meio aos anúncios, trailers, gameplay e pouco do que foi revelado sobre a história, o principal chamariz desse título indie é o visual e como ele resgata antigos cartoons, com seus personagens caricatos e cores desgastadas. Um estilo artístico vintage já perdido no tempo e totalmente contrário ao padrão da nova geração, que mantém o foco em gráficos realistas.

Esta influência artística tem um nome: Rubber Hose Animation. Um estilo muito característico em desenhos dos primeiros dias da animação desenhada a mão na década de 1920. Ao contrário dos que muitos imaginam, esse estilo nasceu em Nova York e não Hollywood, com a crescente novidade em meio à falta de animadores profissionais e experientes. Os ilustradores e artistas que trabalhavam em tirinhas para jornais, algo relativamente novo na época, passaram a trabalhar com os desenhos animados.

A limitação técnica dos desenhistas, que vinham de trabalhos com ausência de tridimensionalidade, perspectivas e outros elementos básicos da animação quadro a quadro, transformaram a simplicidade dos traços em papel num estilo conhecido basicamente pelos membros da mangueira de borracha (rubber hose), com braços e pernas sem articulação pulsos ou cotovelos, simplificando a movimentação.

Além disso, os desenhos não precisavam ser produzidos em massa para criarem a ilusão de movimento, mas sim uma forma em que os personagens nasciam menos detalhados, porém eram vivos e complexos o suficiente. À medida que os animadores adquiriram experiência através de tentativas, erros e colaborações, os cartoons se tornaram mais profissionais e dominados por regras específicas sobre como fazê-los.

O estilo visual de Cuphead carrega muitas influências de Gregory La Cava, Frank Moser, Bill Nolan e Walter Lantz. Todos artistas do início do século e que apostaram na tendência de transportar tirinhas e quadrinhos para uma nova mídia. Paul Terry, da J. R. Bray Studios e, futuramente, seu próprio estúdio, conhecido como Fables Studios e ainda mais para frente Terrytoons Studios, é um dos nomes mais importantes desse período histórico, sendo um dos responsáveis diretos por Steamboat Willie, da Disney, além de outras animações famosas como, por exemplo, Super Mouse, Farmer Alfalfa e Faísca e Fumaça.

Outros grandes títulos americanos, que nasceram no cinema, como Gato Félix e Betty Boop, ou até mesmo desenhos que fazem parte da nossa infância, com Popeye e Gasparzinho, foram alguns dos vários títulos que influenciaram e causaram o início desse mercado incrível que nos surpreende até hoje.

Infelizmente a Disney, que também teve seus momentos áureos com Steamboat Willie, Mickey e Oswald, foi uma das responsáveis pelo declínio desse estilo de animação ao introduzir seu estilo mais realistas e seus longa-metragens que misturavam desenho animado e live action. Logo após essa evolução, a MGM, Paramount e 20th Century Fox e Warner surgem como principais expoentes das animações e competiam com a Disney de igual para igual, ganhando espaço e fãs a cada novo personagem lançado.

Cuphead é o primeiro e grande expoente dessa mudança ao trazer, por meio do cenário indie, uma quebra no estilo visual que brinca com aquarelas, cores pastéis, pixels e todas as outras direções de artes que normalmente nos surpreendem em jogos independentes e de baixo orçamento. Dia 29 de Setembro descobriremos se o estilo clássico de animação e criação sonora vai compensar pela espera de mais de três anos!