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Desde o lançamento de Pokémon Red e Pokémon Green, em 1996, a franquia já presenciou vários vilões que traziam naturezas distintas. Indo um pouco além do desenho animado e dos planos mirabolantes, Jesse e James são mamão com açúcar perto de tudo que foi enfrentado dentro dos jogos. Se capturar o seu Pikachu fosse o principal objetivo de todos eles, estaríamos bem.

Porém, não é assim que o mundo dos monstros de bolso funciona. Apesar da Equipe Rocket desejar obter criaturas raras e usar seu poder para provocar o caos e o medo, outros têm planos mais ambiciosos. O que dizer dos vilões que desejaram extinguir a humanidade da face da Terra? E daqueles que quase resetaram a criação do universo? Pois é, se não fosse uma criança de 10 anos no lugar certo e na hora certa, estes planos maléficos teriam se concretizado.

Jesse e James aparecem em Pokémon Yellow e em Let’s GO.

Giovanni é, de longe, um dos vilões mais temidos da série, mas eu diria que as pessoas superestimam demais a sua importância. Ele comandava um esquema criminoso em Kanto e Johto, porém ao perder para Red no jogo original cumpriu com a sua promessa e desapareceu do mapa. Tirando a sua parte do multiverso que criou o Rainbow Rocket e tentou dominar todas as realidades, o original realmente nunca retornou e segue até os dias atuais sem dar o ar da graça.

Seu ginásio foi abandonado e depois entregue ao Blue, seus membros tentaram retornar as forças da equipe e falharam, seu filho Silver nunca conseguiu se reencontrar com ele e desde então não tivemos notícias do que houve com o seu reinado maligno. Considerando que Red e Blue adolescentes estão viajando pelo mundo, como vimos em Pokémon Sun e Moon, ficando ainda mais experientes e poderosos, se eu fosse Giovanni continuava sumido mesmo.

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Giovanni aparece pela última vez no ginásio de Viridian.

Em contrapartida, o que veio depois em sua maioria teve uma linha mais megalomaníaca nos seus planos. Pensando em questão macro, o Time Aqua e o Time Magma eram ainda mais ameaçadores. Dominar a região de Hoenn através das terras e dos mares é uma ameaça mais complicada de se enfrentar. Você lidaria com um monstrinho roubado, mas não com a escassez da água ou de uma inundação completa do seu continente.

“Nossa Diego, que frio”. Concordo em termos, imagine a calamidade climática e todas as vidas perdidas no processo e chegaríamos a um senso comum. As equipes de Pokémon Ruby e Sapphire tiveram seu arco de redenção quando viram o desastre que causariam, mas se não fosse por Rayquaza impedindo a catástrofe, toda a região teria sucumbido ao confronto de Kyogre e Groudon.

Groudon e Kyogre poderiam ter causado um cataclismo.

Já em Pokémon Diamond e Pearl, quais inclusive terão um remake lançado em 2021, o Team Galactic possuía ambições ainda mais insanas. Cyrus, o temido líder da equipe, queria usar o poder de Dialga e Palkia para recriar toda a existência do universo. Óbvio que nessa brincadeira os deuses do tempo e espaço se depararam com Giratina, Arceus e as forças divinas que preenchem Sinnoh.

Ainda que você tenha impedido os planos deles nos games originais, vale se atentar que uma equipe esteve muito próxima de concluir o seu objetivo. E, além de criar perigo para toda a região, eles teriam conseguido apresentar um grande problema que nem mesmo os alienígenas teriam se safado. Caso esteja se perguntando, sim, há aliens no mundo dos monstros de bolso.

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Cyrus queria usar os poderes dos Pokémon lendários.

Com a promessa de botar mais os pés no chão, depois de tanta loucura neste universo, os títulos Black e White voltaram a franquia às raízes e apresentaram N e o Team Plasma. O jovem desejava que os Pokémon fossem libertos de seus treinadores e escapassem deste ciclo de serem capturados apenas para serem usados em combates ou tarefas mundanas. Uma razão nobre.

Toda a jornada apresenta o questionamento do que estávamos no lado errado desde o seu início. Sendo muito sincero com vocês, penso sobre o assunto até hoje. N fazia o jogador refletir do modo certo, porém seu pai, Ghetsis, apenas queria que o filho obtivesse os poderes de Reshiram e Zekrom para instaurar um domínio sobre Unova. Mesmo sob a razão, N admitiu que foi controlado pelas maquinações do seu progenitor e acaba até cedendo sua fera lendária em Black 2 e White 2, tentando se redimir por tudo que causou.

N é o carismático líder do Team Plasma.

Vilania além do Nintendo 3DS de Pokémon

A partir da era 3DS, tenho de admitir que os grandes vilões foram deixados em segundo plano para que o público aproveitasse mais a experiência. Isso tirou um pouco do fator enredo dos games, mas mantiveram sua estrutura do mesmo modo. Em X e Y, por exemplo, o Team Flare é extremamente genérico e não acrescenta muito à franquia. Lysandre, seu líder, apenas queria um mundo mais belo onde os Pokémon pudessem caminhar sem os perigos da guerra e da humanidade.

Já Sun e Moon, temos um misto entre o Team Skull e a Aether Foundation. Enquanto os primeiros são apenas arruaceiros que desejam ir contra o sistema de insígnias e trials do arquipélago de Alola, o segundo estuda as estruturas do multiverso e quer obter poder a partir disso. Nada de novo sob o sol, apesar de valer a pena os plot twists oferecidos pelas intrigas familiares que são apresentadas.

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Lysandre é um vilão completamente genérico, assim como sua equipe.

E, por fim, temos a região de Galar com o Team Yell. Eles nem podem ser considerados vilões, diga-se de passagem, já que o único objetivo deles é torcer por Marnie enquanto tentam resgatar a atenção para a sua cidade abandonada. O verdadeiro inimigo aqui, qual não direi para evitar spoilers, também nem representa seu papel de forma devida, deixando muito a desejar neste quesito. É apenas uma escada para que possa enfrentar a Liga Pokémon e se consagrar Campeão.

Obviamente, não podemos esquecer dos inúmeros spin-offs da franquia. Apesar de não entrar em muitos detalhes para não encher vocês aqui, também citaremos o Time Break, principais vilões de Pokémon Masters EX. Assim como a equipe maléfica de Alola, seu único objetivo é causar o caos e impedir o bom-andamento do campeonato vigente da região. Nada que mereça muita atenção, para ser muito sincero com vocês. E, infelizmente, essa tem se mostrado a tendência nos últimos títulos.

O Team Yell só quer saber de fazer bagunça.

Posso dizer com tranquilidade que até a quinta geração dos jogos, ainda no Nintendo DS, tínhamos algo concreto neste sentido e verdadeiros choques de interesses. O que isso quer dizer? Que estamos quase 10 anos sem ver algo abalar as estruturas deste universo e a mesma estrutura sendo repetida incansavelmente. Vilões genéricos, o destino de milhares dependendo de uma criança, um time arruaceiro ou uma organização maligna que se passava por bons moços agindo.

Como deixar de lado momentos gloriosos, como o fatídico combate entre Red e Giovanni dentro do Ginásio de Viridian. O combate entre as duas feras lendárias em Sootopolis. Subir até o Sky Pillar para encontrar o Pokémon lendário sendo encarado diretamente por Cyrus, do Team Galactic. Ou ver a união completa dos líderes de ginásio contra os vilões que moveram seu castelo inteiro para dentro da própria Liga durante o seu desafio. São coisas inesquecíveis para qualquer jogador.

Ainda não temos uma nona geração confirmada ou algo que evidencie a presença de uma grande força opositora em Pokémon Legends: Arceus. Porém, temos que concordar da importância deste fator para o bom andamento do enredo. Não há história interessante que se segure com um conflito de ideias fraco e sem o menor peso. E adivinha qual foi a maior ponto falho dos últimos games?

Por não seguir um ciclo que retorne às regiões que conhecemos para sequências, também não temos uma segunda chance para as ideias brilharem. Não podemos ver algo mais profundo do Time Flare ou uma trama que aborde a vilania do Aether Institute como um dos pilares da história. Um remake, qual é o mais comum da revisitação dos continentes, não providenciaria isso.

Você, como jogador, deve ter sentido que o ciclo de criança desconhecida que tenta conquistar as oito insígnias enquanto enfrenta uma equipe maligna já cansou. Foram 25 anos da mesma estrutura. Assim como os monstros de bolso mais conhecidos do mundo, está na hora de pegar esse roteiro e evoluir, trazendo uma força narrativa aos Pokémon que cative novamente os jogadores mais antigos e tenha forças para atrair os novatos. E um bom vilão, com uma motivação interessante, já seria um excelente início.