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Por motivos pessoais e profissionais, eu estou completamente por fora do mercado videogamístico. Mas continuo com meus RSS feeds, e me informo sobre as coisas que acontecem – ainda que não tenha mais tanto tempo como antes, e tenha que selecionar mais as notícias que leio (e gaste quase todo este tempo com os lançamentos de DLC de Rock Band).

Mas é que fiquei sabendo de uma notícia tão bizarra que eu tinha que gastar uns minutinhos e escrever um libelo aqui no Gamerview. Todo mundo sabe que, para as softhouses (para algumas, pelo menos), quem compra jogo usado é tão delinquente quanto quem pirateia – porque, seguindo a mesma tabuada idiota da indústria musical, acham que todo mundo que compra um jogo usado compraria esse jogo novo, logo um jogo usado é uma venda a menos para eles. O mais engraçado é que isso não era um problema faz cinco, dez anos, mas agora é. Vai entender…

E toca medidas anti-segunda-mão, como os infames “online pass”: para jogar online com um título, é necessário um código de uso único. O jogo novo vem com um, mas quem comprar um usado precisa passar outra vez pelo caixa e comprar um código novo. Uma medida que é uma sacanagem sem tamanho com o comprador, já que diminui o valor do jogo de segunda mão. Afinal, o comprador vai ter um jogo sem online, a não ser que pague 10 dólares extras. Mas, comparada com a medida que a Capcom usou com seu novo jogo de 3DS, isso aí é quase que um carinho pro comprador…

A Capcom lançou para o 3DS nesta semana o Resident Evil: The Mercenaries 3D, um spin-off da franquia. Não vou entrar em detalhes sobre o jogo porque a verdade é que a série pra mim nem fede nem cheira, então não vi nada. A verdade é que, até anteontem, nem sabia que esse jogo ia sair… Bem, como todo mundo que tem um 3DS sabe, os saves dos jogos ficam, como no Wii, na memória interna do console.

Muito bem… Pois a Capcom descobriu um hack (ou pediu um para a Nintendo) que permite a gravação de dados no cartucho por parte do console. Com isso, ela podia gravar os saves no cartucho, em vez de na memória do console, e controlar o gerenciamento desses saves. E ela fez isso mesmo, ah como fez! Tanto que tem uma bonita mensagem no manual do jogo – “Note: Saved data on this software cannot be reset.”

Sim, você leu direito. Os saves no novo jogo da Capcom não podem ser apagados nem resetados. O que você fez no jogo, depois de salvar, está feito e nunca poderá ser desfeito. É quase uma metáfora da vida. E também significa uma coisa: quem comprar o jogo, achar ele hiper-mega-foda e quer jogar de novo desde o começo para desbloquear tudo vai ter que ir na loja e comprar um jogo novo. Quem comprar ou ganhar o jogo usado de um amigo vai ter que continuar o jogo do amigo e jogar com tudo que ele já desbloqueou.

E o mais engraçado é que a Capcom afirma, com a maior cara de pau do mundo, que o objetivo de ter metido o hack no jogo para salvar o jogo no cartucho e não no console não foi esse:

“Vendas de segunda mão não foram um fator nessa nossa decisão de desenvolvimento, então esperamos que nossos consumidores sejam capazes de apreciar por inteiro as experiências de survival-action que o nosso jogo pode oferecer. (…) A natureza do game traz altos níveis de rejogabilidade, para melhorar as pontuações das missões. Além disso, esse conteúdo não retira nenhum conteúdo disponível para os usuários.”

Só a capacidade de atingir outra vez objetivos que já haviam sido atingidos, né? Só a capacidade de eu jogar outra vez desde o zero um jogo que eu paguei bem caro, né? Aliás, eu não, porque eu não quero esse jogo nem de graça.

A propósito, quando o blog do Destructoid perguntou na lata pro representante da Capcom “se impedir as vendas de segunda mão não era um objetivo quando vocês fizeram isso, então qual foi o objetivo?”, a entrevista foi subitamente encerrada.

Os online pass são uma coisa, mas pelo menos não estragam o jogo para quem compra de primeira mão. Nessa, para ferrar a compra de jogos de segunda mão, a Capcom conseguiu ferrar quem compra o jogo na loja. Isso é uma demonstração de, vamos usar a palavra clara, filhadaputice. A Capcom foi uma escrota, pensando apenas em seus lucros e demonstrando que seu respeito pelo consumidor é zero.

Depois dessa, a Capcom não vai mais ver meu dinheiro na vida. Se quiser jogar algo da Capcom piratearei, e com muito gosto. Quero mais que esses japoneses vão pros quintos dos infernos.