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2020 foi um ano que ninguém gostaria lembrar, portanto parece um exercício fútil vir aqui e recordar minha relação com esse fatídico pedaço de tempo morto. Tempo este que foi ocupado em grande parte por joguinhos, mas que logo conseguiu enveredar por caminhos que também afetaram profundamente a maneira com que consumo e analiso games – e qualquer coisa, na verdade.

Antes redator e revisor no Gamerview, ganhando keys de jogos grandes e pequenos para devorá-los enquanto anotava cada resquício de pensamento analítico para desenvolver reviews, passei a ser uma figura quase fantasmagórica neste site por conta de ene motivos, entre eles um quadro de depressão profunda que tornou minha saúde mental instável demais para poder me comprometer com o papel antes ocupado aqui.

“Se um dia eu te perder…”

Quem te viu…

Vejam esta possível coluna Diário Gamer como uma espécie de desabafo mas também um pedido de desculpas pela ausência neste veículo que sempre considerei tanto.  Além disso, é uma desculpa para retomar o hobby da escrita e também trazer aos leitores alguns dos games que tenho curtido (ou tentado curtir) enquanto recupero minhas forças, física e mental, para encarar toda uma nova geração de títulos que vem por aí.

Na primeira metade de 2020, a sensação era de que o tempo não passava, mesmo sendo agraciado por algumas das grandes obras virtuais dessa última década, mais especificamente Final Fantasy VII Remake e The Last of Us Part II. De repente, lá pela metade do ano, o jogo virou e tudo passou voando conforme eu sofria minhas primeiras grandes crises de ansiedade do período de isolamento.

Um futuro desconhecido nos aguarda.

Essa série de crises culminou em um sujeito desconversado com uma das mídias que tanto amava, mais recentemente tendo efeito notável sobre a minha capacidade de sentar e apreciar qualquer joguinho que fosse. Para detalhar um pouco mais, a semana de lançamento de Cyberpunk 2077, que tinha tudo para ser um respiro de ar fresco, acabou saindo pela culatra, e não pelos motivos que tantos acham.

Uma crise de insônia que me manteve quatro dias e meio aceso, sem pregar os olhos, quase me concretizou um destino infeliz, algo que pôde ser evitado com a ajuda da minha amável família, uma namorada guerreira, dois profissionais de saúde esforçados e alguns grandes amigos. Mas mesmo estabilizando a situação, era difícil simplesmente ficar sentado, de tanta que era a inquietação física deixada por este longo período insone.

Quem vê, até pensa que Cyberpunk 2077 é um frenesi puro…

Falando um pouco de Cyberpunk 2077, acho que falo por muitos quando digo que é um jogo bem diferente do que o esperado, sendo não um GTA de roupagem Cyberpunk, mas sim um título RPG extremamente metódico e que envolve muito, muito falatório. Apesar da excelente escrita que o jogo proporciona, foi quase impossível absorver boa parte do que me foi apresentado, o que é uma pena.

Mais algum tempo passou e essa inquietação foi passando, e pude começar a curtir a sós alguns joguinhos como o próprio Cyberpunk 2077 e outros dois que gostaria de destacar aqui: Dirt 5 e Devil May Cry 5 Special Edition. Com eles, pude finalmente apreciar de novo o sentimento de querer colocar mais e mais horas em um ambiente virtual, mas em condições muito específicas.

Dirt 5 é um delicioso exagero de partículas de lama, neve e confete.

Dirt 5, por sua natureza compartimentada e de fases breves, foi um excelente pedido para voltar a treinar minha capacidade de concentração. Exigindo o olho fixo no horizonte com suas pistas tortuosas e cheias de terrenos desnivelados, houve um certo prazer único em simplesmente deslizar pela lama e saltar por rampas enquanto meu controle registrava toda e qualquer vibração.

Por outro lado, Dirt 5 é (e não posso ressaltar o suficiente) um jogo extremamente fácil, então o prazer de vencer quase todas suas corridas pode ter sido uma gratificação bastante ilusória. No entanto, será que isso realmente importa quando a transe causada pelo gameplay simples do título da Codemasters levou a uma catarse quase terapêutica? Algo que, aliás, também experimentei com Devil May Cry 5.

Não, Nero, você não é peso morto.

… quem te vê

Não tenho vergonha de admitir que joguei o título da Capcom inteiramente focado em sua história, e não nos desafios. Selecionando a dificuldade Humano, tive uma experiência decente de hack and slash mas não fui a fundo para espremer as possibilidades de seu sistema de combate, baseado em rankings de estilo e combinações de botões mais próximas dos jogos de luta em perspectiva bidimensional.

Mas tirar esse título do backlog foi, ainda assim, uma vitória imensa já que o fiz ainda afetado por um período de stress imenso. Abrindo o jogo com vocês aqui: não vejo problema algum em pedir arrego e selecionar o easy mode de vez em quando, por mais que eu enxergue a dificuldade Normal como a experiência intencionada pelos desenvolvedores na maior parte do tempo.

Dando aquela ajudinha.

O que me fez voltar de vez aos games, contudo, foi a singela funcionalidade de multiplayer local que tantos joguinhos estão nos oferecendo. A meu ver, é a verdadeira arma secreta de uma série de títulos que, caso jogados solo, não são remotamente satisfatórios. Não posso agradecer o suficiente à minha namorada por ter proporcionado essa experiência recentemente.

De Snipperclips a Scribblenauts Showdown e até o recém-relançado Scott Pilgrim VS The World Complete Edition, dividir a tela com outro indivíduo, neste caso alguém que eu amo tanto, foi um daqueles prazeres que só são possíveis quando um grupo de desenvolvedores apaixonados procuram proporcionar essas pequenas catarses – e tô de olho em você com seu novo game It Takes Two, Josef Fares.

Segurando a vela ou não, uma companhia sempre vai bem.

Os chamados “jogos de festa” podem muito bem aposentar este termo, já que são uma distração fenomenal até em períodos de isolamento como este que vivemos – Among Us que o diga. Jogar, ou mesmo brincar, está no âmago de todos nós; é só saber preservar este espírito de brincadeira nos tempos mais difíceis, e também saber quando contar com as pessoas que nos cercam.

Em conclusão, o que tenho a dizer com isso tudo? Posso estar soando genérico e bastante formulaico, mas enquanto não estamos sozinhos, tudo pode melhorar. Tudo pode ser 100% mais divertido, envolvente, catártico. Não tenho uma grande frase para encerrar este primeiro capítulo do Diário Gamer, mas desejo a todos que continuem sãos, salvos e juntos para que se percam em aventuras, qualquer que seja a plataforma de opção.