Skip to main content

Como nós noticiamos ontem, a Walt Disney Company comprou a Marvel Entertainment por uma quantia equivalente a 4 bilhões de dólares. Pra quem morou em Marte nos últimos 40 anos, a Marvel é dona do Homem-Aranha, dos X-Men, Hulk, Homem de Ferro e outros super-heróis (e de metade da marca registrada “super-herói”).

Obviamente, o motivo principal para essa compra não foram os quadrinhos, e sim os direitos para outras mídias, especialmente cinema. Tanto que provavelmente esse foi um dos principais motivos para a Disney ter pago menos pela Marvel do que pagou pela Pixar. Afinal, as duas marcas mais “quentes” da Marvel para o cinema – Homem-Aranha e X-men – não estão nas mãos da Marvel Studios, braço cinematográfico da Marvel, e sim de outros estúdios – Sony e Fox, respectivamente.

No entanto, o que nos diz respeito são os videogames, então vamos analisar a situação. As marcas da Marvel estão muito espalhadas por vários estúdios:

– A Activision tem um acordo de 50 milhões de dólares para jogos do Homem-Aranha e dos X-Men, válido até 2017. Ela também tem os direitos sobre a série Marvel Ultimate Alliance, que cobre todo o universo Marvel – apesar desse acordo não ser exclusivo, e de não haver informações sobre o prazo desse acordo.

– A Sega tem os direitos para games dos Vingadores (Hulk, Homem de Ferro, Capitão América e Thor). Não foi divulgada a duração, mas o press-release indica um acordo “multi-year”.

– A Gazillion Entertainment tem direitos para MMO’s cobrindo todos os personagens da Marvel até 2019.

– A THQ tem direitos sobre a série de animação Marvel Super Hero Squad, também num acordo “multi-year”.

As declarações de Robert Iger sobre videogames na entrevista coletiva onde foi anunciado o acordo Disney Marvel foram as seguintes:

“No campo dos videogames, a Marvel tem ótimos acordos de licenciamento com alguns dos melhores produtores de videogames do mercado. Apesar de nós estarmos indo na direção de integrar videogames (no negócio), não descartamos uma mistura entre licenciar e produzir nós mesmos (nossos videogames). Assim que esses acordos de licenciamento expirarem, temos o luxo de poder considerar o que for melhor para a companhia e nossos produtos.”

Isso faz crer que os acordos atuais serão mantidos. Mas claro, Iger é conhecido por tomar algumas decisões ousadas – só precisamos ver o que aconteceu no processo de compra da Pixar; as condições foram tão favoráveis à Pixar (preço alto, Steve Jobs virou o maior acionista individual da WDC, John Lasseter virou o chefe do departamento de animação e de parques da Disney) que teve muita gente dizendo que na verdade foi a Pixar que absorveu a Disney. Então não seria de se estranhar que a Disney pagasse algumas multas rescisórias bastante gordas para pegar de volta as licenças e repassá-las à Disney Interactive Studios. Por exemplo, eu não ficaria nada surpreso se isso acontecesse com o acordo com a Sega, já que o “projeto Vingadores” no cinema está bastante avançado. O último filme do Hulk não foi tão mal quanto o primeiro, e o filme do Homem de Ferro deu bastante lucro, tanto que a continuação já está praticamente pronta. Afinal de contas, eles com certeza estão cientes de que um jogo do Batman baseado exclusivamente nos quadrinhos – apesar de ter uma marca muito forte no cinema – foi um grande sucesso de público e crítica faz apenas alguns dias.

Além disso, existem outras marcas não mencionadas:

– O Quarteto Fantástico provavelmente está livre. O jogo do primeiro filme foi feito pela Activision, enquanto o segundo foi da 2K Games.

– A franquia do Demolidor (incluindo Elektra) está livre. Não houve jogo dos primeiros filmes, se não contamos um jogo para GBA do Demolidor e um jogo para celulares da Elektra, e os direitos para o cinema devem reverter em breve para a Marvel, assim como os do Hulk reverteram por conta da falta de interesse da Universal.

– Blade está livre. O único jogo feito foi para Playstation, na época do primeiro filme.

– Motoqueiro Fantasma deve cair no mesmo caso do Quarteto Fantástico. O jogo do filme (PS2, GBA e PSP) foi da 2K Games, mas não há planos de continuações, depois do relativo fracasso do primeiro filme.

– O Justiceiro teve The Punisher: No Mercy lançado recentemente para PSN. Como a recepção foi ruim e o estúdio (Zen Studios) é independente, o personagem provavelmente está livre.

– Um novo Marvel vs. Capcom provavelmente está descartado. Já deve ter sido um parto o lançamento desse jogo, lembrando que esse jogo é exatamente o jogo de Dreamcast, para evitar longos processos de verificação de personagens (o que causa uma porrada de falhas gráficas em televisões widescreen). Para lançar outros jogos agora, com a Disney Interactive como destino preferencial das licenças será mais difícil.

Também existe o lado da Distinta Concorrência. A DC é propriedade da Time-Warner há anos. As licenças dos personagens DC já são tratadas pela Warner Bros. Interactive Entertainment faz tempo, mas normalmente os games são derivados dos filmes e desenhos – Batman: Arkham Asylum foi baseado diretamente nos quadrinhos, mas além dele só me lembro das bombas Justice League Heroes e Mortal Kombat vs. DC. Esse processo de fortalecimento da Disney Interactive Studios via licenças deve provocar um movimento da Warner no sentido de fortalecer ainda mais as marcas da DC em outras mídias. E, considerando o sucesso de público e crítica de Batman: AA, seria de se esperar mais games baseados em quadrinhos.

De qualquer forma, tudo nesse ponto é especulação. Levará alguns meses para que o processo de “absorção” da Marvel pela Disney termine (e para que as autoridades antitruste americanas aprovem o negócio), e até lá tudo deve se manter igual. Depois veremos quais os movimentos dos jogadores.