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As férias são uma oportunidade para a gente ler, colocar algumas idéias em dia, jogar outras no lixo e recomeçar com as pilhas novas e com novos temas. E foi isso que eu fiz: li bastante e consegui alguns temas para as próximas colunas. Aí eu li meu briefing semanal de blogs de videogames e foi tudo pro saco. Tudo cortesia de Ian Barczewski. Quem é esse fulano? Sei lá, um bobo qualquer. Mas ele conseguiu aparecer no Critical Distance (recomendado!) com esta cretinice aqui.

Resumindo a história: o Orange County Register, jornal da Califórnia, tem em seu site alguns blogs da equipe. Um deles é o The Mom Blog, escrito por Marla Jo Fisher com o pseudônimo de “Frumpy Middle-Aged Mom” (mãe de meia-idade fora de forma). No dia 27 de dezembro, Marla Jo publicou um artigo com o título de “Os videogames foram inventados por Satã”, uma crítica ao fato de que as crianças hoje em dia apenas gostam de jogar videogames. Divertidinho, apesar de tentar algumas tiradas “ishpérhtas” que apenas soam ridículas – “se Sir Isaac Newton tivesse um DS, tenho certeza que ele nunca teria notado a maçã caindo da árvore, aí ele nunca teria formulado a teoria da gravidade”.

Seria apenas um texto de um colunista metido a espertinho, como tantos outros que acham que são a última bolacha do pacote. Até a gente ver o número de comentários… O texto teve um total de 748 comentários até o dia 10 de janeiro (fora os que foram apagados). Peguei uma frase num dos primeiros comentários que apareceram e traduzi aqui para dar um exemplo (mantive, na medida do possível, o texto “pitoresco” na tradução):

“Ela não vai escutar a gente, ela e uma velha amargurada, eu acho isso um pouco engraçado, mas eu quase choro quando penso nos seus filhos.”

E também gerou respostas, claro. Além do post do Ian Barczewski, ainda abriram um tópico no fórum do Escapist. Hoje, o tópico tem quase 600 posts…

E o pior? Por mais que o texto original não seja tudo isso, as respostas conseguem ser mais ridículas ainda. Barczewski disse que aprendeu a ler sozinho com três anos graças aos videogames. Sim, é verdade, juro! E ele continua falando, dizendo que já consertava computadores com sete anos e escreveu seu primeiro programa em BASIC com 9. Apesar de que as frases que eu achei mais engraçadas foram quando ele diz que crianças aprendem trabalho em equipe jogando o “capture the flag” no Modern Warfare 2, e que elas desenvolvem sua sociabilidade jogando Left 4 Dead 2. Sorte que ele explica a qualidade do seu texto depois, quando diz que começou a amar o ato de escrever porque queria contar uma história que tivesse tantas idéias paralelas quanto Metal Gear Solid. O pior é que ele não está brincando, o texto não é satírico…

Já escrevi sobre isso várias vezes, mas repito: será que ninguém que gosta desse “maldito” passatempo tem um mínimo de inteligência ou senso de ridículo? Será que os auto-intitulados “gamers” são tão ridículos que não conseguem aguentar uma crítica? Sim, vocês têm razão, o texto não é bom. Mas tem alguns pontos ali que deveriam fazer qualquer um que tenha ou pense em ter filhos pelo menos parar pra pensar um pouco. E, mesmo que não tivesse, mesmo que fosse apenas um texto satírico, as pessoas têm que aprender que todo mundo têm direito a uma opinião, por mais desencontrada e cretina que ela seja.

Aprendam de uma vez, trolls: o mundo não vai acabar se alguém escrever que os videogames fazem cair o cabelo, causam impotência ou atraem pragas de piolhos. Aprendam a conviver com a opinião das outras pessoas. Se vocês simplesmente não conseguirem, pelo menos ignorem tudo que vá contra os seus princípios. Vocês vão continuar sendo tão ridículos quanto antes, mas o mundo vai ser um lugar muito mais tranquilo para os demais.

Para concluir, a resposta de Fisher é bem mais divertida. Eu adorei a parte em que ela diz que não está “impressionada por pessoas que são jogadores tão apaixonados que se tornaram criadores de videogames. É como dizer ‘puxa, eu gostava tanto de crack que fui pra Colômbia, comecei meu próprio negócio e agora sou rico’.”