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Nos últimos tempos, um monte de gente começou a prever a morte dos consoles por causa da concorrência dos celulares (especialmente do celular superstar da Apple) e dos jogos “casuais” em Flash, em redes sociais como Facebook e similares. Nunca dei bola. Sempre achei que era sempre gente interessada. Até que, no mês passado, o Quentin Tarantino dos games, Hideo Kojima, falou a seguinte frase:

Em um futuro próximo teremos jogos que não vão depender de nenhuma plataforma. Os fãs deveriam poder levar a experiência que vivem em sua casa com seus jogos de viagem, onde quer que estejam e quando queiram jogar. Deveria ser o mesmo software e a mesma experiência.

Detalhe: baixou a Mãe Dinah no Kojima justo no evento de lançamento de seu último jogo, Metal Gear Solid: Peace Walker – um jogo para PSP, e num evento promovido pela própria Sony.

Olha, eu posso não gostar do Kojima, mas tenho que reconhecer que das duas uma: pra falar “os consoles vão morrer” numa festa patrocinada por um fabricante de consoles, ou ele é louco ou tem colhões. E tenho que admirar o cara por isso, seja ele um louco que chegou onde ele está ou um cara com uns testículos como bolas de boliche.

Mas será que ele está certo? Aparentemente está. Se a gente for colocar os números preto no branco, a gente vai ver que a venda de consoles e jogos está caindo, enquanto o negócio de jogos para celulares está crescendo quase que na mesma proporção. Além disso, cada vez mais os jogos em Flash ou “embutidos” em sites, como o Farmville, vão ganhando cada vez mais dinheiro. Seria essa uma prova de que o celular vai matar o console?

Devagar, amiguinhos. Sim, o negócio de consoles está caindo, as três grandes tiveram queda de faturamento neste ano fiscal em relação ao ano anterior. Mas nós estavamos no meio de uma crise mundial. É claro que isso ia afetar a venda de consoles, que são algo supérfluo. E um celular não é algo supérfluo, no mundo de hoje todo mundo precisa ter um. E com as enormes vantagens que as companhias telefônicas dão aos seus clientes, com celulares “de graça” em troca de contratos abusivos, acaba sendo muito mais fácil ter um celular do que um console. A Microsoft e a Sony também “subsidiam” seus consoles, mas não na proporção das companhias telefônicas.

Ainda existe mercado para o console. Só que, como a Nintendo provou com sua fórmula diferenciada, não existe tanto mercado para o console hardcore. Como falei na minha última coluna, existe um ponto onde as pessoas deixam de ter paciência para jogos grandes, complicados e difíceis, e preferem jogos simples. Aí, com jogos cada vez mais caros para fazer e com vendas menores, claro que as companhias acabam migrando para os jogos simples – ou mesmo para os não-jogos. O Shigeru Miyamoto já falou numa entrevista: a Nintendo vê o DS menos como um videogame e mais como um “ajudante”, então temos culinária, exercícios, livros de verdade… Já o Wii é um centro de entretenimento e ajuda para a família, aí aparecem aplicações de fitness, canais de venda de comida (no Japão)…

Com isso quero dizer que “o futuro é casual”, a única das três grandes que vai sobreviver é a Nintendo, e que o Steve Jobs e o Facebook irão dominar o mundo? Claro que não. Também diziam que o PC ia matar o console, e olha aí. O mercado é grande o suficiente para que todo mundo possa seguir. Mas existirão os diversos nichos de mercado – e quando uso “nichos”, leia-se “fatias”. Não existirão guetos, porque o mercado é tão grande que mesmo um nicho minoritário terá milhões de usuários. O “console gaming” seguirá, assim como o “PC gaming” segue, e o “mobile gaming” e o “flash gaming” seguirão mesmo depois que apareça a próxima grande novidade.

A única coisa que eu acho certa é que a Nintendo seguirá aí. Pelo menos, até o Miyamoto esticar as canelas.