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Estamos acostumados a começar o ano e pensar em mudanças ou fazer novos planos. Vide o Gamerview que começou já com o pé direito cumprindo uma promessa que já havia virado lenda: o novo website (uhu!). Logicamente a maioria de nossas metas e promessas não são cumpridas, geralmente porque somos preguiçosos. Entretanto, devemos admitir a existência do ritual do novo de tempos em tempos. E na indústria do entretenimento eletrônico não poderia ser diferente. O ano de 2010 foi recheado de grandes lançamentos e novos dispositivos que, no geral, só colherão seus frutos agora em 2011, como é o caso do Kinect e do PS Move que foram lançados ao final do ano e ainda precisam de um tempo para se estabelecerem como sucesso ou fracasso no mercado.

Curiosamente o ano de 2011 marca algo um pouco peculiar para a indústria dos videogames. A história prova que a cada cinco anos mudamos o ciclo da geração vigente para a geração futura de consoles. Novas tecnologias e hardwares mais modernos são desenvolvidos e os sistemas acabam ficando obsoletos e necessitam de upgrades. Isso é natural no meio tecnológico de qualquer sorte. Logo, seria mais do que justo estarmos esperando pelo novo console da Nintendo ou o novo Playstation 4. Ou que pelo menos já estivéssemos ouvindo fortes especulações na mídia que sempre está de olho na movimentação de executivos e suas novas patentes. Entretanto, nada. Nada de Playstation 4, nada de Wii 2 e nada de novidades pelo lado da Microsoft também. Aliás, a única movimentação que vemos dessas três grandes empresas é justamente causada pelo investimento na atual geração.

Não há também sinal de enfraquecimento ou saturação nem por parte dos desenvolvedores e nem por parte dos jogadores. Muito pelo contrário, o ano de 2011 talvez seja o mais empolgante de todos. Fãs esperam com água na boca por jogos como o novo Mortal Kombat, Marvel vs Capcom 3, Gears of war 3, Dead Space 2, o novo Zelda e por aí vai. A lista parece não acabar. Não temos tempo nem de pensar no próximo grande console já que ainda estamos jogando o último grande lançamento da semana passada. Esta foi a geração que estabeleceu a indústria dos videogames como a mais lucrativa no setor de entretenimento mundial e as três grandes parecem não se preocupar em renovar seu arsenal de consoles tão cedo. Iniciativas como a da Microsoft de lançar uma nova versão slim de seu Xbox 360 provam que seu console têm fôlego para mais dois anos facilmente.

Talvez o único console que gere suspeitas de aposentadoria seja o Wii, por conta de seu hardware mais fraco. Mas se pensarmos bem, o Wii já nasceu mais “fraco” que os outros. Sua proposta era tão diferente que muitos nem consideravam o Wii como concorrente direto na atual geração. E com o lançamento do Nintendo 3DS, que muito provavelmente será um tremendo sucesso de vendas, a Nintendo mostra que seu olhar não está diretamente voltado para um grande lançamento de console antes do segundo semestre de 2012.

Sendo assim as empresas investem em suporte aos desenvolvedores e suas atuais plataformas. E isso nos deixa em um cenário bem interessante. Onde a tecnologia não é mais o centro das atenções. Onde os esforços não estão mais voltados para a máquina, mas sim para o produto que a máquina gera. Onde o conteúdo tem mais valor que a embalagem. Onde os consumidores são mais exigentes e entendidos.

Neste sentido podemos comparar a atual geração dos videogames com o que aconteceu e ainda acontece com o cinema. Os espectadores já têm um repertório vasto em filmes. Não nos surpreende mais os dinossauros gigantes na selva ou naves voadoras atirando no espaço. Isso não nos convence mais. Por isso filmes de grande orçamento sofrem cada vez mais para cumprir suas metas de arrecadação enquanto filmes como Black Swan fazem a festa arrecadando cinco vezes mais o seu valor de produção e tornando-se assim um sucesso do ponto de vista econômico. O que mudou na verdade não foi a forma como se faz filmes, mas sim a forma como nós os vemos.

Pensando nisso, podemos dizer que nós jogadores também ficamos mais críticos ao longo do tempo, pois a própria indústria nos possibilitou um repertório muito vasto e bem desenvolvido. Quanto mais os jogos evoluem em linguagem e flertam com o cinema e outras artes, mais nós exigimos em termos de história, personagens e direção artística. Nós já sabemos que as coisas são possíveis de serem feitas, não nos interessa mais o “como isso é feito”, mas sim o “para que isso foi feito”. Se não é relevante, não nos interessa. Um demo jogável de 15 minutos é mais do que suficiente para o jogador saber se quer ou não embarcar naquele universo.

Jogos como Limbo e Kirby’s Epic Yarn provam que não precisamos de milhões de polígonos em tela ou milhares de efeitos de luz e sombra para convencer os jogadores a comprá-los. Os videogames evoluíram de tal maneira nesta última geração que estilo e narrativa já são motivos decisivos para o sucesso de um jogo. Embora grandes jogos de ação com suas explosões espetaculares sejam divertidos e forneçam boa parte da renda das empresas, há uma grande parcela do público que já pensa em consumir mais conteúdo. Uma prova disso é o grande sucesso de jogos independentes.

É claro que a capacidade tecnológica e gráfica da atual geração possibilita muito mais imersão e desenvolvimento artístico em seus jogos do que jamais possibilitou. Mas o amadurecimento dos criadores de jogos e seu público não se deve apenas ao salto tecnológico. Mesmo que a próxima geração possibilite personagens com 70 bilhões de polígonos e efeitos de luz e sombra ultra-realistas nós ainda daremos preferência para jogos cujo conteúdo (jogabilidade, estilo, história) seja mais relevante. A tendência, aliás, é que cada vez fique mais prático e barato desenvolver gráficos de alta qualidade chegando ao ponto onde esse não será mais um dos fatores determinantes para a qualidade de um jogo. Por que vocês acham que Picasso e o cubismo marcaram história no cenário artístico mundial? E por que a arte se renova de tempos em tempos? O belo ideal da arte romântica e sua perfeição nas representações da figura humana já tiveram sua época e sua função. As pessoas já haviam experimentado a arte figurativa perfeita e precisavam de algo novo que as estimulasse. Ninguém consegue viver sem estímulos.

Mas isso já é muita filosofia para minha cabecinha. Meu ponto é: os videogames chegaram a um momento de transição. Esta geração tem mostrado ótimas iniciativas que apontam para um futuro brilhante. E como sou otimista, acredito que até o final de 2012 teremos um nível ainda melhor de conteúdo e serviços além de uma atenção maior aos jogos independentes.

Talvez o único problema seja justamente para os consoles da próxima geração. Estes sim terão que comer muito arroz com feijão para superar a excelente safra que os antecedeu. Oremos!