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Na última quarta-feira (dia 17), a Nintendo soltou o vídeo do seu novo produto. Nintendo Labo será um conjunto de kits de cartão para montar e brincar em conjunto com um software rodando no Switch.

Olhando com uma visão neutra, é um projeto de engenharia admirável. O piano e o robô são simplesmente geniais, especialmente com a maneira simples como se integram com o hardware do Switch. Mas, claro, assim que acabou o vídeo os psicopatas da internet começaram a gritar, porque a Nintendo não fez o que eles queriam. Depois, veio a fase dos memes e piadinhas, mas a gritaria não terminou, com todo mundo falando que a Nintendo estava querendo vender papelão a preço de ouro.

Não preciso falar como isso só prova outra vez que, na internet, todo mundo é idiota.

Nem vou listar aqui os argumentos lógicos sobre como o papelão é uma tendência hoje em dia. É barato, resistente e reduz enormemente os custos. Além disso, a Nintendo não foi a primeira a criar coisas feitas de papelão; a Google soltou há mais de três anos Google Cardboard, um óculos VR feito de papelão. E no ano passado a mesma Google, em conjunto com a Raspberry Pi Foundation, revelou o projeto AIY, com kits feitos de papelão para usar o Google Assistant com os computadores low-cost Raspberry Pi.

O principal argumento é de negócio. Todos esses bobos gritando na internet esquecem que quem fabrica videogames de verdade são a Sony e a Microsoft.

A Nintendo é uma fabricante de brinquedos.

Quem compra um produto dos concorrentes não quer só brincar, quer uma peça de tecnologia com design moderno, que não destoe na sua sala, que ele não tenha vergonha de mostrar pros amigos. A mesma filosofia de quem compra um iPhone; cores neutras ou neon, brilho, tudo suave e definido ainda que cause um uso ineficiente, sensação de durabilidade (ainda que não seja real). E números, benchmarks.

Mas, desde o Wii, a Nintendo não vai por esse caminho. Designs mais práticos que modernos, cantos redondos antes que retos, e tecnologias já testadas e amortizadas. Mesmo o Switch, que a Nintendo vendeu no seu vídeo de apresentação como um produto “moderno”, tem os Joy-Cons arredondados, mais parecendo brinquedos.

É importante aqui fazer um paralelo com o Wii Music. Sim, foi um fiasco, piorado por aquela apresentação ridícula na E3 de 2008, mas a filosofia é a mesma do Labo; nenhum dos dois são videogames, são brinquedos. Que são usados por crianças. Para brincar, sem objetivo.

Um adulto joga para vencer. Uma criança joga para se divertir. E o Labo é isso, diversão. Mas não é para quem está escrevendo isso, do alto dos seus 43 anos. Nem para os leitores. Mas comprarei para os meus filhos, porque eles vão passar horas se divertindo, montando e brincando. E, ao final, é isso o que a Nintendo vende. Diversão, não vitória. Satisfação, não afirmação.