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A Capcom anunciou com pompa e circunstância Mega Man 10. Você poderá jogar com três personagens: Mega Man, outro que não foi anunciado e outro que não lembro. E provavelmente terá “Te Amo, Que Mais Posso Dizer?” como tema de uma das fases, já que deram um grande destaque ao fato de que um dos chefes será o cantor Ovelha.

Acho que deu pra perceber que eu fiquei um pouco nervoso com o que a Capcom está fazendo com o nosso amigo robozinho azul, não? Afinal de contas, enquanto Bionic Commando e Street Fighter ganharam remakes bem-feitos para XBLA e PSN, além de versões novas em “full-feature retail” também para os consoles parrudões, a série Mega Man ganha versões novas full-feature para… XBLA, PSN e Wiiware. E com gráficos de NES.

Vamos ver… Eu sou totalmente a favor do “retrogaming”, e ainda acho que o pixel é superior ao vetor. Um dos jogos de maior rotação no meu Xbox 360 é Arkedo Series Jump, um plataforma 2D com pixelões de cinco milímetros de largura. Tenho todos os jogos da série Bit Trip pro Wiiware. E meu MAME e meus emuladores também têm uma alta taxa de execução, tanto no PC quanto no velho Xbox de guerra.

Só que notem uma coisa: eu estou falando de jogos antigos de verdade e de jogos independentes. Em nenhum momento eu falei de jogos retrô novos de desenvolvedores grandes e que nadam na grana.

Nenhum problema com a estética em si. Se alguém me diz algo como “que absurdo, olha esses gráficos e esse som, é um jogo de NES que roda no Xbox 360, bando de sem-vergonhas” sem mais detalhes, eu diria: e daí? O jogo pode usar essa estética para passar uma certa sensação, mas também ter algumas idéias geniais, reinventar o gênero de plataformas de alguma maneira espetacular, sei lá…

O problema é que Mega Man 9 é – e Mega Man 10 será – um jogo de NES no pior sentido do termo. É um jogo de NES que parece que foi criado para o NES. Parece que o jogo foi feito em 1988, não em 2008. Ele tem EXATAMENTE a mesma jogabilidade, EXATAMENTE os mesmos desafios, EXATAMENTE tudo que Mega Man 2 tinha – e não tem NADA de novo que apareceu na série depois de 1988. Eles apenas pegaram o código de Mega Man 2, um dicionário de substantivos e criaram inimigos novos. Aí jogaram tudo nas mãos dos estagiários e falaram “OK, cambada, podem começar”.

Claro, eles não são burros. O retrô vende. Só tem que ver como Mega Man 9 foi um sucesso. Porque, afinal de contas, todos nós somos amantes assíduos da nostalgia. Qualquer coisa que passou na nossa infância era melhor, afinal de contas nós não tínhamos nenhuma responsabilidade e podíamos passar a tarde toda jogando nossos Phantom System (o NES brasileiro) em nossas TVs CCE de 14 polegadas enquanto tomávamos nosso Toddy e comíamos pão com Amendocrem lambuzando calça, joystick, cartucho, televisão, cara, cabelo e metade do quarto.

Mas essas boas recordações do passado só resistem se o produto original for realmente bom. Todo mundo que teve um NES, um SNES ou um Mega Drive, ou mesmo os mais pirralhos que começaram na era Plêi-istêichon, ficam falando que “aquela época é que era boa, que tinha jogo bom a dar com pau”, mas ninguém que fala isso pegou aqueles jogos de antanho pra revisar. Sim, tinha muito jogo bom. Mas tinha muita merda – e quando digo muita quero dizer MUITA, com maiúsculas, negrito, cor vermelha e pisca-pisca. Sim, existem vários clássicos atemporais: Super Mario, Metroid, a própria série Mega Man, e a lista segue. Mas quando você começa a classificar coisas como Yo Noid! e Adventure Island como “clássicos” é porque chegou a hora de fazer um tratamento de choque, Laranja Mecânica-style.

A Capcom, claro, sabe disso. Ela já tentou “revitalizar” a série, inventando aqueles spin-offs birutas (ZX, Legends, Battle Network, Star Force) e se deu mal. Só que claro, estamos falando da Capcom, não da Nintendo. Então, em vez de reinventar a série, ela tentou encaixar no 3D, na base da marreta, o que funcionava em 2D – e claro, não funcionou. Aí resolveu voltar pro que funcionava, e aproveitou pra usar um argumento a mais. O que ela está vendendo é mais que o jogo, é o mesmo sentimento que os retro-zombies têm da Era do Amendocrem. Até contrataram algum desenhista de estilo vintage pra fazer “capas” promocionais para essas continuações, no mesmo estilo escroto de Mega Man 2.

Mas jogar esse trabalho na nossa frente e dizer que é “um trabalho de amor”, “um tributo” ou sei lá o quê que o Keiji Inafune e a Capcom falaram, na boa, é uma ofensa das grandes. É um trabalho barato feito com o objetivo de ganhar uma grana fácil. New Super Mario Bros. Wii é um jogo retrô da mesma forma (basta pensar: sem contar os gráficos “de última geração”, que conceitos que estão ali que não poderiam estar em Super Mario Bros. 3?), mas pelo menos nota-se que se gastou tempo e dinheiro ali. Existem coisas novas, inovações na jogabilidade e nos inimigos, você não pode simplesmente ligar o “modo Super Mario 3” no seu cérebro e ir no piloto automático.

O que eu tenho mais medo é que esse sucesso que eles eatão conseguindo leve outras empresas a fazer o mesmo. Especialmente a Sega! Afinal de contas, Sonic, assim como Mega Man, “é um personagem que não funciona em 3D”.