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Sempre que anunciam um novo jogo, torna-se cada vez mais difícil enxergar algo de bom nele. A internet está sempre a postos para inserir mil defeitos e empurrar o ódio gratuito para cima das desenvolvedoras e fabricantes. Óbvio que, quando não vemos um material de qualidade, devemos opinar. Mas, ultimamente, muitos nem chegaram a ver ou a analisar com bom senso antes de usar as redes sociais para disseminar suas reclamações. O mais recente caso é o do jogo mais odiado da E3 2019: Pokémon Sword & Shield.

As reclamações sobre Sword & Shield são pontuais, incluindo hashtags. Querem as mega-evoluções de volta. Querem os Z-Moves de volta. #bringbackthenationaldex pede o retorno da Pokédex com os quase mil monstros de bolso. Independente do que tenham mostrado de interessante, o público está caindo em cima da Game Freak por isso.

Imagem do jogo Pokémon Sword & Shield
Sobble chora a cada reclamação que fazem sem tê-lo visto em ação.

Mas vamos analisar, primeiramente, o que todos os jogos passam e a experiência que proporcionam. E não digo apenas de Pokémon. Alguém lembra das reclamações de God of War? Sim, o aclamado Jogo do Ano 2018. Quando lançaram o primeiro trailer e vieram as declarações, veio o sarro e o famoso “mimimi”. Por qual razão? Kratos não pulava. Li em vários dos comentários alguns como “o cara é um deus e não pode pular? LIXO”. “Esperei tanto tempo pra me empurrarem um jogo que o Kratos precisa de uma criança? Desnecessário”. Entre vários outros. Sucesso de vendas, de críticas e de premiações, nem preciso dizer mais nada, certo?

Errado. Quem acompanha as redes sociais pode se lembrar perfeitamente das reclamações das poças de água que invadiram a net antes do lançamento de Marvel’s Spider-Man. Ou Detroit: Become Human ser chamado de “outro jogo de filminho”. The Legend of Zelda: Breath of the Wild, do qual disseram que era impossível o jogo ter algum impacto com desenho numa geração 4k. Já Overwatch, jogo de FPS com personagens que “saíram das animações Disney”.

A Insomniac até entrou na brincadeira sobre as poças de água em Spider-Man.

Sim, estou citando alguns dos melhores jogos dos últimos anos, que ganharam toneladas de premiações para vermos o quanto isso se mostrou errado. É da natureza do ser humano reclamar, mas temos de confessar que andamos passando de todos os limites. Sendo sincero, mal esperamos o game lançar para abrir a boca e reclamar do quanto ele “é ruim”. Como ele pode ser, se ainda só temos uma demonstração e poucas informações?

Voltando ao exemplo de Sword e Shield, vamos dar um passo para trás no tempo e lembrar de Let’s GO. “Onde já se viu você não poder lutar com os Pokémon selvagens?” era a principal arma dos haters. Eu joguei e confesso que isso chegou a me incomodar em certos trechos. Porém, minha experiência por completo foi de pura diversão. É um jogo que você pode abrir mão de certas regras e aproveitar uma nova visão para a jornada iniciada no GameBoy.

A Game Freak ainda assim prosseguiu e entregou dois games que tiveram um bom apelo, divertidos até para os fãs de longa data e que nos trouxeram pela primeira vez Pokémon andando pelo mapa. Não daria uma nota 10 a eles, porém em momento algum da gameplay o julguei ruim ou não-merecedor do nome que carregava. Ainda conheço muita gente que fecha os olhos para esses fatores simples, mas videogame serve para isso, para você se divertir.

Imagem do jogo Pokémon Let's GO
Os Pokémon te acompanham pelo mapa em Let’s GO.

Os novos títulos trarão uma área mundo-aberto, Pokémon caminhando pelos mapas, personagens simpáticos, monstros com um design muito agradável (Wooloo e Corviknight, por exemplo) entre outros recursos bacanas. Retomando as reclamações, Mega-evoluções e Z-Moves. Antes dos lançamentos, também foram reclamados de ambos. Gastavam slot de itens. Não teria esses recursos para todos. Fãs da série sabem disso. Dynamax surgiu para corrigir justamente essas críticas. Sem gasto de itens e todos monstros poderiam ficar gigantes.

E aí, o que fazemos? Pedimos os recursos que tanto reclamamos no passado de volta, reclamando do novo por cima. Imagina a reação dos desenvolvedores da Game Freak que sentaram um dia para analisar as respostas da comunidade e criar algo funcional para alterar isso, vendo tudo se repetindo. Ok, gastamos dinheiro e, principalmente no Brasil, jogos não são baratos. Mas temos de compreender que nem tudo sai como queremos e isso pode ser ótimo. Do contrário, não há espaço para inovação, surpresas, não há experiências maiores nem nos proporciona um titulo épico como tanto pedimos.

Imagem do jogo Pokémon Sword & Shield
Wooloo e Corviknight são um dos melhores designs dos monstros.

Quanto à National Dex, é uma discussão um pouco mais delicada. Principalmente por me identificar com o público que traz os Pokémon desde Ruby/Sapphire/Emerald até a geração atual. Óbvio que compreendo essa reclamação, afinal foram vários jogos transferindo os monstrinhos e capturando todos. Não era “Gotta catch ‘em all”? O que, por um lado, me atingiu profundamente, com um tempo de análise foi se tornando cada vez mais crível vendo as vertentes que eles optaram nesta nova aventura.

Uma delas é o fato de estarmos próximos, isso se não já passarmos, dos mil monstros. Convenhamos, imagina equilibrar essa quantia em relação a stats, 18 tipos distintos, combinações, os diferentes estilos de Pokémon (comuns, super, lendários, guardiões etc.) entre vários outras distinções inclusas nisso. Se me disser que isso pode ser simples, desculpa, mas nunca tocou no Sun & Moon. Não são games ruins, mas são ridiculamente fáceis. Nem mesmo a adição das Ultra Beasts abalaram meu time. X e Y também não são jogos difíceis.

Realmente, Pokémon não é um jogo que te desafia de verdade. Os últimos títulos deixaram isso muito claro, havia um desequilíbrio e isso não seria facilmente removível. Se encontraram a fórmula de deixar o jogo mais competitivo e trazerem certo balanceamento, é um preço alto, mas que pode valer ainda mais a pena. Outro fator que não está nas declarações, mas com certeza deve ter pautado debates, foi o fato de evitar que pudesse levar seu Deoxys lv.100 shiny com IVs perfeitos para os novos títulos. Quem nunca se deparou com isso que atire a primeira pedra. Os hacks são bem populares e a Nintendo sabe que as competições online eram prejudicadas com isso.

Imagem do jogo Pokémon Sword & Shield
A Nintendo sabe do seu shiny apelão…

Eles ainda nem afirmaram quais Pokémon serão transferíveis ou não, enquanto a internet se comove e afirma quais monstros não estão. O site Serebii faz um sério acompanhamento do que é oficialmente afirmado e mostrado, sendo que até o momento não fizeram uma afirmação de quais não estariam. Como li numa tirinha, Digimon tem mais de mil monstros que não usam e os fãs não falam um A. Outros caem matando só de saber que alguns não estarão no novo Pokémon, mesmo sem saber quais estarão ausentes. Voltamos ao ponto em que, com uma informação, sem complementos nem dados adicionais, estamos criando uma tempestade.

Infelizmente é um ciclo que esteve se repetindo numa frequência absurda, e não apenas com Pokémon. Todos os títulos AAA não andam escapando das críticas. O Marvel’s Avengers tem um character design feio, CONCORDO – eu esperava algo épico e ri no anúncio oficial. Vamos ser sinceros, foi a minha reação. Mas o pessoal que o jogou na cabine da Square Enix explicou que a gameplay é fluída e o jogo é incrível. Ali sim me retraí e pensei que valeria a pena dar uma chance ao game. Porque não damos novas chances?

Marvel’s Avengers passa longe de ser só um rostinho bonito.

Todos estes exemplos só são um alerta, não para deixarmos de sermos críticos, mas para podermos avaliar o quanto é preferência pessoal e o quanto não são elementos que beneficiam o jogo. A própria Nintendo, na Treehouse, afirmou que teria uma demo que viria em breve de Pokémon Sword e Shield para verificarmos em nossas mãos o andamento do projeto.

Pratiquemos o exercício de aguardar e analisar o conteúdo que a desenvolvedora se propôs a fazer. Pré-julgamento só abre mais incidência para propagar ainda mais hate pelas redes sociais, disseminar informações falsas e não ver o lado bom que pode superar as adversidades, mesmo nos piores casos. E não falo apenas de Pokémon, mas de todos os títulos que recebem ódio demais e informação de menos. Às vezes, isso te separa de uma grande experiência com o controle em suas mãos.