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Atenção! Esta coluna reflete apenas a opinião do autor e não necessariamente a dos outros membros do Gamerview.

Há alguns dias tivemos o anúncio da lista de jogos que concorrem ao prêmio The Game Awards 2017 e para a surpresa de muita gente PUBG apareceu na lista de jogo do ano, causando um certo furor na mídia “especializada” e no Reddit com reações dignas de seguidores de MBL. Este meu texto tenta jogar mais lenha na fogueira, pois sim.

O que é jogo bom?

Quando vi a lista de jogos do ano de 2017 pela primeira vez eu não estava por dentro da polêmica e, honestamente, não senti nada contraditório ao ver o nome PUBG na lista. Aliás, no canal de comunicação do Gamerview que usamos no Slack, nenhum dos nossos editores soltou qualquer comentário a respeito enquanto discutíamos nossos votos.

Gif animado de PUBG

Por isso fiquei surpreso ao ouvir durante este último feriado prolongado a galera do podcast What’s Good Games – que aliás tem sua apresentadora concorrendo também em uma categoria da premiação – serem tão aberta e fortemente contra a indicação do jogo na categoria principal do prêmio. No entanto, minha surpresa não se deu somente pela reação delas, cujo trabalho acompanho e admiro bastante, mas sim por descobrir que a revolta é compartilhada por outros jornalistas de responsa lá fora.

Se você, assim como eu, estava por fora desse frenesi, vou elencar a seguir alguns dos principais pontos levantados por elas e por outros jornalistas e jogadores, com o intuito de desqualificar PUBG como merecedor do título de jogo do ano.

PUBG e Early Access

Um dos argumentos mais utilizados pela galera do contra é o que se refere ao jogo ainda estar em Early Access. Isso quer dizer que o jogo ainda possui bugs e pouco conteúdo para se tornar “um jogo de verdade”. Esse argumento é bem fraco por dois motivos básicos.

Primeiro, o jogo é sim comercializado e consumido como qualquer jogo lançado oficialmente no mercado. O fato de ele ainda estar em desenvolvimento não quer dizer muita coisa. Overwatch vive em desenvolvimento, recebendo novos conteúdos e balanceamentos. Street Fighter V é um jogo bem diferente hoje do que aquele lançado no ano passado. O fato de um jogo estar em constante mudança não o separa dos demais.

Gif animado de PUBG

Segundo, a crítica especializada tem o orgulho ferido ao saber que existe um jogo cujo enorme sucesso não dependeu em nada da sua influência ou de campanhas de marketing milionárias nos grandes outlets de jornalismo, e que este mesmo jogo tenha sido considerado como jogo do ano em uma premiação importante para a indústria. Em sua coluna, a editora de jogos Kat Bailey chega inclusive a usar o argumento de que se o jogo não possui Review da crítica especializada é porque ele ainda não é um jogo de verdade. Wtf!?

“Uma afronta para seus concorrentes”

Agora, voltando ao podcast What’s Good Games dessa semana, os argumentos contra a indicação de PUBG não pararam nos pontos acima que até então são minimamente racionais. Não, infelizmente não.

A partir do minuto 51:00 podemos ouvir coisas como “Eu tenho fé que nenhum canal de jogos irá votar em PUBG como vencedor” ou “O jogo só está lá por ser um fenômeno cultural”, no que outra rebate “Mas League of Legends e Pokemon Go também são e nós nunca vimos eles concorrendo a jogo do ano”, no que eu também rebato com “Pois deveriam ter sido, bem lembrado!”.

Gif animado de PUBG

Os argumentos escabrosos, no entanto, não param por aí. O que parece ter mais sucesso é quando dizem que para avaliar um jogo hoje devemos levar em conta a programação, o level design, a narrativa, a arte, o desenvolvimento de personagens e o nível de polimento do jogo. No que eu concordo 100%. Quando um jogo resolve oferecer uma narrativa e é totalmente refém do seu valor de produção, como é o caso de Horizon Zero Dawn, esses quesitos devem sim ser avaliados.

No entanto, quando um jogo se presta a ser apenas um jogo divertido com um bom design não vejo muito sentido em dizer “falta narrativa nesse jogo”, ou “cadê aquela árvore linda com luz HDR volumétrica entre suas folhas?”, ou “nossa mas eu não estou entendendo a motivação desses personagens”. Caso isso fosse uma regra para a criação de jogos, acredito que os fenômenos Minecraft e Tetris nunca teriam existido, não é mesmo? Precisamos entender que historinha e arte são acessórios em um jogo e não a sua base. A base de qualquer bom jogo continua sendo suas regras e a forma como o jogador aprende e domina essas regras através de mecânicas e sistemas para enfrentar os desafios propostos de forma eficiente e recompensadora, o que é exatamente o que PUBG entrega junto aos demais jogos da categoria.

De olhos bem fechados

Existe uma onda “purista” de jornalistas e jogadores que insiste em julgar jogos “menores” e destacar jogos AAA como as verdadeiras pérolas que a mídia tem a oferecer. Dizer coisas como “Witcher 3 é uma obra prima”, mas nunca ter terminado o jogo porque se está extremamente engajado em Stardew Valley – aquele joguinho bobo que não merece ser indicado em premiações segundo eles -, não faz o menor sentido e demonstra uma visão de mundo bem fechada. Como aquele jogo com que você passa horas se divertindo todos os dias é menos jogo do que aquele que você parou de jogar na metade porque claramente não se sentiu motivado a continuar?

Quando ouvimos “existe um amor e carinho especial colocados em jogos como Zelda e Horizon enquanto que PUBG é uma correria em círculos de um atirando no outro e só” – como foi dito também durante o podcast -, parece que a gente está naqueles cenários de debate em que um pessoal conservador religioso opina sobre algum tema contemporâneo polêmico, criando regras do nada e usando argumentos extremamente subjetivos para justificar um ponto de vista meio preconceituoso.

Gif animado de PUBG

Por que PUBG, Pokemon Go, League of Legends, Hearth Stone e tantos outros jogos são menos jogo do que Last of Us, Halo ou Zelda? Jogadores mais jovens ou casuais não veem mais essa diferença. Para muitos deles, um jogo Free to Play super popular na Twitch é o máximo, pois é o que os seus bolsos e computadores conseguem consumir.

É por essa nova onda de inclusão nos jogos que as grandes empresas estão repensando suas estratégias no lançamento e produção de novos jogos. É por essa grande revolução dos jogos indies inteligentes de baixo custo que vemos cada vez menos jogos Single Player AAA nas prateleiras. E é por essas e outras que veremos cada vez mais jogos como PUBG concorrendo a jogo do ano daqui pra frente.