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Há duas semanas, Chris Chapman (dono de um excelente canal de YouTube sobre retrogaming) escreveu um tweet que terminou semi-viralizando. Segue o texto traduzido:

Há oito anos, a Edge publicou seu top 50 de games para iOS: os grandes sucessos, as revelações indie, as ideias mais inovadoras da primeira onda de desenvolvimento de apps. Quantos desses jogos que ainda podemos encontrar na App Store hoje? 10 de 50.

Nas respostas, além do próprio Chapman, outras pessoas (incluindo alguns dos desenvolvedores originais) indicaram alguns dos motivos pelos quais esses jogos desapareceram:

  • Falta de tempo/interesse (afinal, vários são desenvolvedores indie e conseguiram outros projetos, ou entraram/voltaram ao mercado de trabalho);
  • Daria prejuízo manter o jogo atualizado (um desenvolvedor disse literalmente em um tweet, “para que manter o jogo atualizado com updates progressivamente mais difíceis, e seguir pagando a taxa da App Store, para conseguir uma venda por semana?”);
  • Mudança de mercado (de outro tweet: “A primeira onda de jogos era pura criatividade. Agora, você precisa um publisher, estratégia de marketing, uma marca estabelecida e uma infraestrutura F2P para não afundar.”)

Eu resumiria isso com outra afirmação: a culpa é da Apple. Mais especificamente, do que a Apple representa.

A App Store foi uma mudança de paradigma na distribuição de software. Não foi o primeiro repositório online de distribuição de software, pois isso já existia em Linux há muito tempo. Mesmo se nos limitamos a videogames, a Atari e a Mattel já tinham serviços de distribuição de software por modem para o Atari 2600 e o Intellivision. Mas a maneira como a Apple fez com que toda a distribuição de software de seus aparelhos estivesse centrada na App Store fez com que hoje pareça uma coisa normal comprar software com alguns cliques. Toda a distribuição de software da Apple é feita por aí. Nos PCs a coisa já está mais ou menos igual. E nos videogames, vamos pelo mesmo caminho. E isso é um ENORME problema.

A dura realidade: os jogos que você comprou podem não estar mais disponíveis daqui uns anos.

Se você tem o jogo físico, você pode continuar jogando com ele indefinidamente; mesmo que o seu hardware quebre, você ainda terá a alternativa de comprar outro hardware e seguir jogando. No caso de um jogo comprado em uma App Store da vida, não é que a coisa seja diferente, é que começaram a aparecer complicações por todos lados.

Primeiro, você não possui o jogo, você possui uma LICENÇA. Se o dono do jogo ou da plataforma decidir que aquela licença deixa de valer, pelo motivo que seja, você perdeu o jogo e o dinheiro que você pagou por ele. Se a Apple decidir que um jogo não pode mais ser executado em seu hardware (como já fez no ano passado, com a história dos 64 bits serem obrigatórios para iOS 11), você também pode esquecer de jogar aquele jogo que você gostava tanto.

No momento em que o dono da plataforma decidir desligar o suporte para aquela plataforma, você só poderá jogar esses jogos até o momento em que o seu hardware quebrar. E isso não é ficção, a Nintendo já fechou a DSi Shop no ano passado. Ainda está aberta para que os usuários possam baixar jogos que tenham comprado, más já disseram aos usuários que eles devem fazer a transferência dos jogos para um 3DS “enquanto o serviço continua disponível”. E já anunciaram o fechamento da Wii Shop para o ano que vem.

No caso das plataformas abertas (PC e Android), você ainda pode ser um pirata, baixar o software e instalá-lo sem problemas. Mas nas plataformas fechadas isso é impossível sem um hacking / jailbreak. E mesmo assim, se o jogo depende de uma infraestrutura online por trás e o desenvolvedor decide desligar os servidores, você também pode esquecer.

Por isso que continuo apoiando o hacking / jailbreak / root de consoles e telefones, e faço isso sempre que possível nos meus aparelhos. Assim como a emulação de hardware e o dump de software.

Não é para piratear (gasto dinheiro, e MUITO dinheiro, em jogos), é para poder manter no futuro o acesso a várias obras que se perderão quando seus autores ou “curadores” percam o interesse em mantê-las. Sem isso, aqueles 40 excelentes jogos que desapareceram da App Store (e todos os grandes jogos do WiiWare e outros que virão) não seriam mais que uma foto na Edge.