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Nessa semana, o assunto no meio videogamístico foi o preview da entrevista do chefe de desenvolvimento da Nintendo, o bonachão e boa-praça Shigeru Miyamoto, para a revista americana Wired. Nessa entrevista, Miyamoto, de acordo com a Wired, afirmou com todas as letras que deixaria sua posição de chefe de desenvolvimento da Nintendo para voltar a trabalhar diretamente no desenvolvimento de games, participando de projetos menores e mais pessoais, inclusive com a possibilidade de alguns jogos feitos inteiramente por ele.

Foi o bastante para a Nintendo tremer, com uma queda de mais de 2% nas ações da companhia na bolsa de Tóquio – o que, claro, motivou desmentidos enfáticos dos dois lados do Pacífico, com a Nintendo negando de todas formas que Miyamoto estivesse deixando sua posição na empresa, que ele foi mal interpretado (apesar de Miyamoto entender inglês perfeitamente, ainda que responda sempre em japonês nas entrevistas, e de o intérprete ser da própria Nintendo). A Wired, posteriormente, manteve sua posição.

Está mais que claro que um dia Miyamoto vai se aposentar – e não vai demorar muito, apesar do jeitão gente-fina, já tem 59 anos – e a Nintendo terá que aprender a viver sem ele. No entanto, o problema da Nintendo é maior do que parece, porque o verdadeiro talento do Miyamoto é artístico, algo que não se pode treinar. Como gerente, a Nintendo não vai sentir a falta dele nem um pouco… porque como executivo ele é péssimo.

É famosa a capacidade do Miyamoto de meter os pés pelas mãos e falar o que não deve em entrevistas. Não é por outro motivo que ele continua fazendo as entrevistas em japonês, porque assim o intérprete pode colocar uma barreira entre o que o Miyamoto fala e o que o jornalista pode ouvir – os meios de comunicação japoneses são muito mais subservientes e nunca publicam nada sem que a companhia revise até o último ideograma. Isso é uma coisa terrível para um executivo de uma empresa em que a opinião e imagem públicos são essenciais para o sucesso.

Além disso, não podemos esquecer os atrasos bestiais nos jogos dirigidos pelo Miyamoto. Todo mundo fala maravilhas de Super Mario 64 e Zelda Ocarina of Time; e sim, claro, são parte de qualquer top 5 de melhores jogos de todos os tempos. Mas, somando os atrasos dos dois jogos, chegamos a quase quatro anos. Essa filosofia de “estará pronto quando estiver pronto” pode funcionar para um artista, mas não para uma empresa de centenas de milhões de dólares. Quanto dinheiro a Nintendo perdeu deixando o mercado livre e solto para a Sony por causa dos atrasos de seus dois jogos estrela do Nintendo 64 (lembrando que Zelda OoT era para ser jogo de lançamento do console).

Aliás, falando no Nintendo 64: aposto qualquer coisa que o Miyamoto foi a cabeça pensante por trás da idéia de jerico que foi o cartucho. Por muito menos, Gumpei Yokoi, o homem responsável pela melhor decisão de mercado da Nintendo (lançar o Game Boy) e por criar a terceira maior franquia da Nintendo (Metroid), foi chutado da empresa sem cerimônia e teve que ir fazer joguinhos pra Bandai.

Óbvio, o Miyamoto é sem dúvida o principal responsável pelo sucesso da Nintendo, ele criou o jogo que fez a Nintendo deixar de trabalhar com hanafuda e criou praticamente todos os produtos que permitiram à empresa japonesa poder competir hoje com Sony e Microsoft de igual pra igual. Mas o homem fala sem pensar, é um gerente permissivo… No final das contas, não é de se estranhar que o velho Yamauchi tenha escolhido como seu sucessor não o gênio criativo, e sim o cara cuja maior contribuição pra empresa foi criar o Kirby.