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Estava lendo um artigo sobre Bully e toda a palhaçada que envolveu seu lançamento – aliás, essa questão de “literatura sobre videogames” é outra coisa que merecerá um artigo em breve – e, claro, o autor falou muito sobre o sistema de classificação etária europeu, o PEGI. Ao ler isso, me lembrei do artigo publicado aqui mesmo no Gamerview sobre o Rapelay. Houve uma menção na chamada dizendo que “ainda bem” que o jogo foi banido. Bem, tenho que dizer uma coisa: “ainda bem” my ass!

OK, admito que, apesar de eu ter mencionado o PEGI, e de os japoneses terem um sistema similar chamado CERO, o Rapelay não tinha classificação etária. As classificações do CERO eram totalmente voluntárias até o “escândalo” Rapelay; a partir daí, a classificação “adults only” passou a ser mandatória – as demais continuam sendo voluntárias. No entanto, vamos pensar um pouquinho… Se alguém está comprando um jogo hentai, e que tem a palavra “rape” (estupro em inglês) no título, vai esperar o quê? Um simulador de namoro?

O problema é o mesmo de sempre. Ninguém reclama dos filmes pornôs que estão por todos os lados e são vendidos e alugados livremente (ainda que não nos mesmos locais que os filmes “normais”), nem das revistas pornôs que você consegue comprar em qualquer banca (ali do lado dos gibis, olha lá…), mas quando aparece um jogo pornô, ai meu Deus, nossas criancinhas! Vamos deixar uma coisa bem clara, senhores: se vocês deixam as galinhas livres no campo, não reclamem depois que as raposas vierem e paparem todas.

Além do mais, ninguém acha ruim quando um jogo com violência e morte aparece (“UM” jogo? Hahaha!). Aliás, muito pior, todo mundo acha um ato “fascista” quando Manhunt 2 é proibido na Inglaterra, ou Gears of War e Dead Rising são proibidos na Alemanha. Por acaso a violência e o assassinato são socialmente toleráveis?

Pausa para um esclarecimento aqui: não vou dar uma de Maluf e falar “estupra, mas não mata”. Os dois atos são igualmente deploráveis. No entanto, existe muita gente que tem a fantasia da violência sexual – tanto como violador como sendo o violado. Se esse ato for consentido, não há nada de mal nisso, muito pelo contrário. O problema é a violência sexual não-consentida, que deve ser punida exemplarmente nos limites da lei – assim como a violência física e o assassinato.

Todo mundo dentro dessa nossa “comunidade” acha ridículo quando vem algum Jack Thompson da vida falando sobre como aquele assassino jogava Doom ou Counter-Strike, mas ninguém levanta a voz para proteger um jogo sobre sexo (ainda que não consentido), ou mesmo para jogos que são obviamente uma crítica a certos setores da sociedade, como Super Columbine Massacre RPG! e Muslim Massacre: The Game of Modern Religious Genocide. Um conselho para nosso público habitual: vejam isso, pensem um pouco e depois me digam algo.

Explicação para os mais obtusos: esse cartaz foi usado para recrutar voluntários para as Brigadas Internacionais, as tropas multinacionais em defesa da República na Guerra Civil Espanhola. Esse cartaz inspirou uma das melhores canções do grupo britânico Manic Street Preachers, “If You Tolerate This” (assista ao videoclipe).

E se ainda não se sentirem aludidos, leiam um pouco de Bertolt Brecht e depois venham discutir.

E, como pai, mando também um conselho para os pais e moralistas de plantão que podem estar lendo isso aqui (que devem ser bem poucos, porque esse tipo de gente acha que ver o Jornal Nacional e ler o UOL é toda a informação que eles precisam): se querem controlar o que seus filhos vêem, usem os sistemas de classificação etária. Todos os jogos lançados no Ocidente têm uma classificação etária sugerida na capa: ESRB (americano), PEGI (europeu), BBFC (inglês). Além disso, nos respectivos sites, existe uma explicação individual para cada jogo classificado, indicando quais os motivos para o jogo ter ganho sua respectiva classificação.

No entanto, não controlem o que as outras pessoas querem ver! Eu quero… Não, desculpem, deixem-me fazer uma correção: eu EXIJO o direito de tomar minhas próprias decisões, e EXIJO que todos tenham esse direito. Eu não quero jogar Rapelay, mas defendo até a morte que outras pessoas queiram fazê-lo. Mesmo que o jogo seja ofensivo ou, pior, uma merda.