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Para os que não sabem, eu não moro no Brasil, moro na Europa, e além disso atualmente estou trabalhando num projeto nos EUA (mais especificamente no Alabama). E, se vocês acompanham as notícias, sabem que tanto os EUA como a Europa estão em crise. A Grécia está à beira de uma falência que tem o potencial para destruir o euro. Portugal e Irlanda já tiveram que receber ajudas bilionárias, e Itália, Bélgica e Espanha estão na mira dos investidores por seus problemas. E com isso, arrastam a Europa para o abismo. Já os EUA estão com problemas de déficit que estão lastrando a economia.

A quebra dos bancos há uns dois anos atrás, que criou essa crise monstruosa (a tal da “marolinha” do Lula), foi causada por uma falta de supervisão do que os bancos faziam. As falências ou quase-falências dos Estados europeus só aconteceram porque esses Estados se financiaram bestamente com dinheiro barato, sem se preocupar em como pagar depois. E os EUA… Bem, são um caso à parte, porque estão em déficit desde o tempo do guaraná com rolha, mas agora as brigas políticas entre democratas e republicanos por conseguir o poder estão dificultando o financiamento desse déficit.

Como o problema dessa crise é político, os políticos estão brigando para resolver. Mas, estranhamente, não existe uma maldita união. Na Europa, todo mundo só se preocupa com o seu próprio quintal, e se para isso o vizinho for pras picas, tanto melhor. Já nos EUA, já estão em campanha eleitoral e a única coisa que fazem é se acusar mutuamente e propor soluções midiáticas sem conteúdo nenhum.

É impressionante como as propostas que aparecem por todos os lados são cada vez mais de tiro curto; todo mundo pensa em resolver o agora, com planos bestas de criação de emprego em dois anos, com empréstimos que só servem pra resolver o agora. Ninguém tem colhões de subir no palco e falar “pessoal, se a gente fizer isso, vamos ficar na merda por uns anos mas no final vai ser melhor pra todo mundo”. Não existe mais um maldito estadista, um líder que nos leve para o futuro, só administradores do presente e consertadores do passado.

E eu digo que a culpa de tudo isso é dos videogames. Culpa dessa maioria de pessoas jovens de 18, 20, 30, 40 anos que cresceram jogando Atari, Nintendo, Super Nintendo, Playstation. Que estão acostumadas à recompensa instantânea da vitória – ou do achievement saltando na tela. Esse pessoal que está acostumado a chamar o outro de “burro” porque não gosta das mesmas coisas que eles, que chama o colunista de cretino porque deu uma nota 8 para Gears of War 3 ou Uncharted 3. Esse pessoal que, inconscientemente, não aprendeu que muitas vezes é importante sofrer um pouco agora para viver melhor depois, e que não entende que o contraditório não só deve ser respeitado, como deve ser estimulado.

A resposta é simples assim? Claro que não. Os videogames não são a causa de tudo isso – apesar de que o fato de os países periféricos, onde os videogames não são tão comuns, estarem melhor do que os desenvolvidos, faz pensar… Mas com certeza eles são um sintoma importante de uma mudança na sociedade; hoje em dia a sociedade cada vez mais quer a resposta imediatista. E os videogames são um meio de comunicação que dá esse tipo de recompensa, por menor que seja. Porque são um reflexo da nossa sociedade.

Mas não sei… Da maneira como vejo (pessimista, admito) tudo caminhando para o abismo, e todo mundo alegremente indo para lá – e ignorando, ou pior, ofendendo e fazendo piada com os únicos corajosos que estão ousando se levantar, meter o dedo na ferida e dizer que tudo está errado – eliminaria os videogames se soubesse que isso melhoraria o mundo. Mas aí acho que esses viciados em Farmville destruiriam a civilização ocidental se não tivessem sua dose diária da droga.