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Existem diversos exemplos de continuações em que a simples menção de seus aspectos técnicos, alterados em relação ao seu predecessor, servem como descrição precisa do que aquele jogo tem a oferecer. No caso de Uncharted 2: Among Thieves, deter-me apenas em tais aspectos seria uma grande injustiça. Sua mescla de jogabilidade, narrativa e cinematografia é feita com tal maestria que é difícil não o vermos como um novo patamar alcançado, apresentando algo que apenas videogames podem fazer. Este é um daqueles jogos tão bem executados que simplesmente mudam o que é considerado padrão – qualquer um que deseje de agora em diante contribuir ao meio terá de olhar para Uncharted 2, e com ele aprender algumas lições.

O jogo continua com as histórias de Nathan Drake. Desta vez, o explorador/ladrão está atrás das frotas perdidas de Marco Polo, mas este é apenas o pretexto inicial, que rapidamente amplia-se e o leva a diferentes partes do mundo. Você pode esperar encontrar alguns rostos conhecidos durante a aventura, mas novos personagens de grande importância aparecem em igual proporção. Algo que continua excelente, e não deve surpreender aqueles que jogaram o primeiro título, é o fato das personagens serem bastante humanas e não agirem como estivessem atuando para uma câmera.

Os diálogos que permeiam não apenas as cutscenes mas também boa parte da ação, são proferidos de maneira bastante natural, dando a impressão de que não estão lá apenas para causar impacto ou colorir a cena, mas sim porque aquelas personagens acharam natural dizer aquilo naquele momento. Até mesmo o novo vilão, Lazarevic, que possui traços impossíveis de não serem considerados inerentemente maus, age de maneira crível, sem possuir nenhum dos clichês que normalmente são associados a antagonistas. É fato que grande parte dessa qualidade se deve aos excelentes atores que dão vida a esses personagens, mas os diálogos bem escritos, entrelaçados de maneira perfeita com os outros aspectos do jogo, também contribuem imensamente.

Uncharted 2

Apesar do primeiro Uncharted ter sido, em geral, bastante aplaudido, havia um consenso sobre alguns dos problemas que ele apresentava. A Naughty Dog parece ter ouvido as reclamações feitas com bastante atenção, pois esses pontos não foram apenas corrigidos, como também melhorados à enésima potência. Os inimigos tiveram sua inteligência artificial bastante incrementada e agora são derrotados com uma quantidade realística (para o mundo dos videogames) de balas; a situação de descarregar um pente inteiro de uma metralhadora em uma pessoa e perceber que ela continua viva – desde que você não tenha problemas motores e saiba mirar – desapareceu completamente. As armas, por sua vez, apresentam uma sensação de potência que indica melhor a sua eficiência, além de existirem em maior variedade. A única peculiaridade está no fato de que flechas são mais eficiente do que a maior parte das balas, mas essa parece ser uma estranha lei universal que rege diversos jogos.

A maior mudança, porém, fica por conta do combate corpo a corpo. Ele foi inteiramente modificado, e está mais funcional e útil. De certa maneira, ele poderia ser descrito como um quick time event no qual os comandos são invisíveis. Você usará um botão para atacar e, ao perceber que vai receber um golpe, aperta outro botão para se esquivar e contra-atacar. Ele é bastante simples, mas ágil, e por isso funciona muito bem no meio das cenas de ação intensa.

Além disso, existe agora um elemento de stealth implementado ao jogo. Ao chegar em uma área sem que tenha sido percebido, é possível derrotar todos os inimigos presentes com ataques silenciosos. Isso não é de maneira nenhuma um requisito – se entrar correndo e atirando for o seu estilo, você poderá agir dessa maneira sem nenhuma penalidade. Ainda assim, vale ressaltar que inimigos derrotados através do stealth derrubam itens diferentes, como granadas e armas mais difíceis de serem encontradas. O mais interessante aqui é que essa mecânica não existe de maneira descolada do resto da jogabilidade. Ela interage e complementa a ação de maneira perfeita, sendo um caminho absolutamente viável de encarar situações.

Uncharted 2

A única mecânica que permanece quase inalterada é o elemento de plataforma, que na verdade nem deveria ser chamado assim. Como no primeiro jogo, não existe realmente um desafio nessas partes. Tudo que você está fazendo é encontrar o caminho correto para prosseguir, sendo quase impossível errar um pulo. Isso não quer dizer que eles sejam entediantes, pois, se qualquer coisa, eles ao menos garantem uma tensão, fazendo-o esperar ansiosamente pelo próximo grande acontecimento. Além disso, esses são os melhores momentos para aproveitar e ver a beleza dos cenários, que é de cair o queixo.

Uncharted 2 é facilmente um dos jogos mais bonitos – se não for o mais bonito – que já tive o prazer de experienciar. Não existe nada em seu visual que não seja admirável. Houve vários momentos em que me encontrei parado, movendo lentamente a câmera para poder apreciar melhor seus detalhes.

Mas, como disse no primeiro parágrafo, seria injusto dizer que apenas esses aspectos técnicos que mencionei acima são o que constroem a grandeza de Uncharted 2. É o fato de que ele realiza coisas que só poderiam ser feitas através dessa mídia que o faz ser tão impressionante. Mais de uma vez não consegui conter uma exclamação de entusiasmo, em cenas que me parecia ser inacreditável que ainda tivesse controle sobre Drake. Há uma cadência perfeita no ritmo em que os momentos de ação mais intensa ocorrem e, apesar de serem constantes, não são nunca cansativos. Pelo contrário, você se encontrará ansiando por mais, chegando a ser impossível evitar uma sensação de leve tristeza quando os créditos começarem a rolar. Assim que o jogo voltou para sua tela inicial, minha vontade era a de apertar ‘new game’ e refazer tudo novamente, coisa que não acontece com frequência.

Uncharted 2

E isso tudo é apenas parte do que Uncharted 2 tem a oferecer. Apesar da aventura solo ser a motivação primeira para jogá-lo, o título apresenta um multiplayer surpreendentemente competente e viciante. Ele é dividido em modos cooperativos e competitivos, e ambos apresentam qualidade que o fará querer voltar por mais. E, como é norma desde que Call of Duty 4 foi lançado, ele conta com um sistema de progressão, em que se ganha níveis e dinheiro após partidas, que pode ser usado para comprar melhorias e habilidades.

Não existe algo concreto que eu possa apontar como defeito em Uncharted 2. Trata-se de um jogo que não apenas supera a expectativa do que espera-se de uma continuação, como também eleva o parâmetro do que pode e deve ser feito em videogames. Ele é um dos títulos mais memoráveis dos últimos anos, e é algo que deve ser experienciado por conta própria.

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