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Nem só da franquia principal vive Final Fantasy (e olha que só aqui já temos jogos de sobra). Já são mais de 30 anos de história com as mais diversas séries spin-offs ambientadas neste universo de fantasia, mas os últimos anos não foram tão generosos com esse lado paralelo. Em uma década marcada por remakes e remasterizações de jogos da linha principal, já era hora da Square Enix sair da zona de conforto e ousar lançar um projeto grande de algo novo, não é mesmo?

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é a aposta da vez. Apesar do título ser facilmente confundido com aquela velha coletânea lançada para o PS1, não se trata da mesma coisa – mas existe sim uma relação entre ambos, mesmo que não seja intencional. Novamente sob os cuidados do Team Ninja, que já fez um bom trabalho com Dissidia Final Fantasy NT, agora Final Fantasy seguirá uma trajetória até então inexplorada na série: o fantástico – e cruel – universo dos soulslike.

O Team Ninja também foi o responsável pelo desenvolvimento da série Nioh, então ao menos já sabemos que este título está em boas mãos. Agora com uma pegada totalmente diferente e consideravelmente mais sombria, o pouco que nos foi apresentado na E3 mostrou um castelo 100% inspirado na série Souls, com três guerreiros bem esquisitos enfrentando o que parecia ser um cosplay de Garland (o vilão do primeiro Final Fantasy).

Olha para esse trio!

Imediatamente após o trailer de anúncio, fomos agraciados com uma demo disponibilizada por tempo limitado, exclusivamente no PlayStation 5. A princípio não deu muito certo, já que algum estagiário subiu arquivos corrompidos na PlayStation Store e ninguém estava conseguindo jogar, mas após alguns dias a situação foi controlada.

Essa demo claramente foi algo construído com o único intuito de gerar hype no público, pois é meio obvio que nada do que vimos ali estará no produto final – o que é um alívio, porque tem MUITA coisa para melhorar. Começando pelo mais clichê, Final Fantasy sempre foi referência em gráficos e a Square Enix nunca decepcionou em lançar um jogo mais bonito que outro. Ainda que seja uma demo, Stranger of Paradise foi o primeiro FF que entortei o nariz logo de cara; tendo a opção de escolher entre gráficos ou desempenho, o modo em 60fps traz texturas de baixa qualidade e muito serrilhado (o que fica mais nítido na vegetação do mapa do tutorial, que é um campo sem fim).

Outra coisa que me incomodou bastante foi a saturação das cores, que estavam exageradamente escuras. Fui forçado a aumentar o brilho do jogo e, mesmo assim, não conseguia enxergar absolutamente nada em certos cenários. Eu entendo que esse título é mais trevoso, mas não precisa exagerar! O lado bom é que acredito com todas as forças que esses problemas serão corrigidos na versão final… eu acho.

Alguém precisa mesmo corrigir a saturação desse jogo…

Agora vamos ao que interessa: Stranger of Paradise convence como soulslike? É claro que o combate remeteria pelo menos um pouco a Nioh, afinal é a mesma engine e os mesmos moldes, então os devs só precisaram trocar as sprites. Felizmente, existem particularidades o bastante para transmitir a sensação de que esse é, de fato, um Final Fantasy soulslike e não mais um clone qualquer do gênero.

Existem dois fatores da franquia que foram adaptados de uma forma brilhante dentro das mecânicas do gênero. O primeiro é a stamina, o combustível para qualquer ação dentro de um soulslike; aqui não temos uma barra de fôlego, mas toda a função dela foi aplicada na nossa barrinha de MP. Sendo assim, você não perde stamina com ataques comuns ou esquivas, mas perde MP ao usar magias e ataques mais fortes. A diferença é que o que foi perdido não é recuperado automaticamente e precisamos fazer bom uso das habilidades do personagem para não passar sufoco.

Outra coisa legal foi o modo como implementaram as classes dentro do jogo. Assim como em Final Fantasy, nosso personagem pode ter diversas classes que alteram radicalmente seus poderes e estilo de luta. O que define nossa classe em Stranger of Paradise é a arma que estamos usando, sendo que cada uma possui seus próprios equipamentos, habilidades e uma árvore de skills separada. Você pode equipar até duas classes simultâneas e alternar entre elas com o simples apertar de um botão, o que é excelente!

A adaptação no combate é uma das principais qualidades do jogo.

A demo é curta e pode ser concluída em cerca de uma hora, mas no geral o jogo já se provou bastante divertido. No final enfrentamos o cavaleiro que aparece no trailer e descobrimos que ele realmente é o Garland, assim como os três protagonistas são os Guerreiros da Luz da profecia. Aí eu já achei um pouco estranho, já que a profecia sempre disse que eram quatro cristais para quatro Guerreiros da Luz, mas vai ver ainda não criaram o quarto herói do grupo.

Sendo assim, fica a dúvida: Stranger of Paradise será uma espécie de remake do primeiro Final Fantasy? Se for, espero mesmo que melhorem aquele time de protagonistas porque fazia tempo que eu não via personagens com tanta falta de carisma. Não demorou nada para o líder deles, que se chama Jack, virar meme na internet por dois motivos: o cara usa camisetinha polo em um jogo de fantasia (enquanto seus companheiros usam armaduras mega espalhafatosas) e o próprio diretor do jogo, o bom e velho Tetsuya Nomura, descreveu o game como “a história de um homem bravo que quer matar o Caos”… é para levar isso a sério?

Para quem se incomodou demais com as roupas do Jack, pode ficar tranquilo. O jogo também funciona a base do velho esquema de loot, então conforme derrotamos inimigos, vamos dropando novos equipamentos, incluindo uns panos mais maneiros. O problema é que mudar de roupa não é o suficiente para salvar a falta de carisma desses carinhas, então por favor Square Enix/Team Ninja, façam alguma coisa!

“Eu vô matá o Garland!”

Quanto ao restante do pacote, não pude deixar de notar leves semelhanças com Code Vein – isso mesmo, não é só de Dark Souls que é feito este jogo! Jack pode finalizar os inimigos os transformando em cristais vermelhos e aquela abundância de cinza com vermelho na tela só me fazia pensar em Code Vein. Esse é apenas um dos poderes do protagonista, mas como ainda é a primeira build do jogo, obviamente não temos nenhuma explicação sobre esses cristais, por enquanto.

Do mais, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin definitivamente tem potencial, mas precisa melhorar muito. Digamos que ainda é um diamante a ser lapidado, mas se fizerem tudo direitinho, definitivamente será um dos melhores spin-offs da franquia lançado nos últimos anos. Como ele sequer tem uma data de lançamento, é bom saber que os desenvolvedores terão um bom tempo para cuidar dessas melhorias.