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Já se imaginou fazendo parte de uma típica família americana? A idealização perfeita de um pai, mãe e dois filhos (um jovem escoteiro e uma péssima saxofonista) em sua casa. Imagine isso na época da Guerra Fria, com todo o medo das bombas soviéticas. Bunkers e preparação para guerras fazem parte da cultura dos americanos, então nada mais justo do que criar um jogo sobre. Mas e se ele fosse feito por poloneses? Melhor ainda! Este é 60 Seconds! Reatomized.

Desenvolvido e publicado pelo estúdio independente Robot Gentleman, 60 Seconds! Reatomized é um remasterização do cultuado híbrido entre point and click e sobrevivência, chegando desta vez apenas para PC. A versão anterior foi lançada para mobile e Nintendo Switch.

Essa família é muito unida

Começando pelo humor do jogo, que é muito bem escrito. O “Sonho Americano” e todo orgulho patriótico são tratados como uma grande bobeira. Há também muitas piadas sobre o medo exagerado que os norte-americanos tinham do comunismo (característica que tem se aplicado bastante aqui no Brasil) e como eles reagem mal a qualquer sinal de russos na trama. A ironia também é a peça chave de tudo que acontece.

Run, ForesTed!

Como visto no vídeo do começo, jogar é simples: colete o máximo de suprimentos e familiares dentro dos 60 segundos disponíveis – nas três dificuldades, há diferentes tempos extras para se explorar a casa antes do cronômetro girar. Feito isso, o personagem, que pode optar por controlar o pai Ted ou a mãe Dolores, pula pra dentro do bunker.

A bomba explodiu, assim como seu coração conforme o tempo se esgotava e o “tic-tac” ficava mais rápido. Agora “protegido”, administre seus recursos – a escolha de dificuldades também implica se vai haver algo extra lá ou não. A cada dia passado, você será confrontado com diversas situações a cada nascer do sol. Usar item A ou B, ajudar ou não uma pessoa batendo na porta, sair para explorar tem diferentes implicações, e defender seu bunker será preciso.

No caderno, há dicas das melhores decisões a se tomar.

Dentro desta funcionalidade, há vezes em que a escolha é possível, outras não. Não ter um item pode implicar no fim de jogo. Para resolver isso, é preciso sair para explorar e tentar a sorte ajudando os necessitados, que às vezes te recompensam instantaneamente ou no futuro.

Parte das indagações do jogo, acompanhadas por notas em um caderno, são extremamente sarcásticas e passam a verdadeira impressão de loucura que os personagens estão vivendo dentro do bunker ou nas ruas arrasadas pela bomba. Às vezes, até você consegue entrar nela.

Maracatu Atômico

Só deixe seu bunker sozinho em último caso.

Com diferentes jogatinas, algumas situações começam a se repetir. Assim, você saberá o que acontece ao dar ou não comida ao simpático mutante (dica: salvou minha vida). Na lógica de tentativa e erro, você vai avançando e passando os dias, conseguindo itens e chegando mais perto de “vencer”. É ao longo de diversas partidas que você também vai encontrando novos itens e até coletando peças de um novo. Por exemplo, é possível achar um chapéu equipável e, ao longo de três partidas, encontrar novas peças para o tanque.

Tal característica tira um pouco da mesmice em que 60 Seconds! Reatomized pode acabar caindo. Consegue prolongar uma experiência que poderia se tornar monótona. Mas mesmo assim, tem horas em que você só joga no automático, e só lendo a primeira linha do texto já sabe qual decisão deve ser tomada – o que dá uma sensação de repetição que se mantém até que algo de novo finalmente apareça.

Os bichineos não ficam o tempo todo no mesmo lugar.

Nem tudo são flores radioativas. Os personagens estão reféns às consequências que aparecem. Doenças, noites mal dormidas e até mesmo a loucura chegam. Tudo isso tem – adivinhe – mais consequências. Alguém machucado não consegue sair para explorar; um louco consegue, mas provavelmente não irá voltar e assim por diante. Ficar no bunker também não é a resposta pra tudo. Fome, sede e machucados infeccionados levam a morte e a uma linda decoração de ossos do ente querido falecido.

Com a convivência excessiva, vem os problemas de relacionamento. Os irmãos Timmy e Mary Jane brigam entre eles, com os pais e até mesmo com o vento (ficar dias e dias trancado não deve ser muito bacana). Em tais discussões, o jogo vai te dar a opção de escolher quem está certo.

Às vezes, no silêncio da noite, eu perco dois.

Em 60 Seconds! Reatomized, algumas situações possuem resultados negativos e outros positivos – como alguém se machucar ou encontrar uma lata de comida extra. Você também pode não interferir, o que ainda é uma escolha e também terá resultados. O mais legal disso é que elas tem o ótimo tom de realidade: acontecem literalmente do nada. Em alguns momentos eu fui cético nas escolhas, em outros eu só quis ver o circo pegar fogo e me diverti com isso.

As artes do jogo, tanto o 3D da coleta de itens quanto o 2D que dá sequência ao jogo, são bonitas. O traço é bem cartunesco e uma das melhores coisas é como o artista retrata o que está acontecendo. É visível quando o personagem está o pó da rabiola ou no auge da insanidade. Já a música e o som ambiente também são bem colocados. Na hora de pegar os recursos no começo do jogo, o barulho do relógio e a sirene tomam conta do clima – eles ficam mais agitados conforme o tempo chega perto do fim.

Todo item tem um valor, mas você só descobre isso jogando.

Enclausurado, a diversidade de sons aumenta. A cada troca de dia, em que a tela preta ocupa a tela, escuta-se diferentes sons de coisas que aconteceram. A combinação ajuda a manter a tensão, como uma tela preta ao som do ranger de uma porta abrindo e logo em seguida um tiro. O que pode ter acontecido? Isso é quase sempre divertido.

Com idade vem grande responsabilidades

Mesmo tendo sucesso na primeira etapa e levando toda a família para o bunker, isso não é garantia de nada. Como uma forma de controle, caso não tenha o pai e a mãe vivos, o jogo acaba, mesmo que as crianças estejam saudáveis e a base recheada. Isso torna as coisas um pouco frustrantes demais.

Falando nisso, a frustração é algo bem recorrente em 60 Seconds! Reatomized. Um personagem não voltar de uma exploração por ter sido capturado por bandidos e com isso levar bons itens juntos; ser encurralado por invasores e não ter como se defender; entre essas e outras coisas simplesmente acontecem e acabam com todo seu planejamento.

As invasões de bandidos são pior do que pouco alimento.

Em alguns momentos isso estraga a experiência. O jogo poderia continuar rolando mesmo com os pais mortos, nem que tirassem o poder de escolha e isso deixasse as coisas aleatórias. Aliás, quando o único adulto sai, você não consegue gerenciar o bunker e os dias passam mais rápido.

Mas de forma geral, 60 Seconds! Reatomized é um ótimo passatempo. As partidas duram de 20 a 40 minutos, e são sempre um aprendizado. Uma partida nunca será um desperdício; talvez só te deixe desapontado às vezes, quando se está desacompanhado de um adulto responsável.

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