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Tudo começou com uma campanha no site de financiamento coletivo Catarse, em 2015. Conhecidos pelo podcast de mesmo nome e amparados por uma grande comunidade de fãs, o 99Vidas iniciava seu projeto ao lado do estúdio brasileiro QUByte Interactive após bater a meta de arrecadações. Porém a produção do game não foi nada fácil: o jogo sofreu grandes alterações, o lançamento atrasou em 6 meses e o custo praticamente dobrou. Pro alívio do quarteto – formado por Izzy Nobre, Jurandir Filho, Evandro de Freitas e Bruno Carvalho – a QUByte abraçou a causa, concluiu o desenvolvimento e o sonho finalmente foi realizado.

Um ouvinte das antigas

Do quarteto eu tenho mais amizade com o Evandro, que até já participou de alguns podcasts do Gamerview. Mas não foi ele quem me apresentou o 99Vidas. Descobri através de um dos criadores, o Jurandir, que antes já produzia podcasts para seu outro site, o Cinema Com Rapadura. Como fã de cinema, foi ouvindo o RapaduraCast que fiquei sabendo do seu novo projeto envolvendo games.

Como puderam notar, ouço o 99Vidas desde o início. Gosto particularmente dos podcasts com tema retrô, como jogos e consoles antigos. Papos sobre locadoras, emuladores e fliperamas também estão entre os meus favoritos, mas o assunto do podcast sempre foi bastante variado. Cheguei até a participar da gravação do 99Vidas #58 sobre Silent Hill 1 (ouça aqui), um dos meus games favoritos do PlayStation. Naquele ano (2012) o Gamerview estava em hiato e eu trabalhava na PlayTv, onde o Evandro e o Bruno participaram do extinto programa Combo: Fala + Joga. Trombamos também em eventos e na Brasil Game Show, onde demonstraram o jogo do 99Vidas rodando num Xbox One no estande da Microsoft, nas duas últimas edições.

Joguei a aventura toda com o Bruno, guardião que mais gostei.

A escolha mais comum para se produzir jogos no Brasil costuma pender para o lado retrô, fazendo uso de pixel art e gêneros como Plataforma e Beat ‘em up. Foi assim com os dois últimos jogos dos Irmãos Piologo, por exemplo, e o game do 99Vidas não foge à regra. Mas antes mesmo de iniciar a campanha para angariar fundos, a escolha do quarteto já estava definida: um Beat ‘em up cujo personagens são eles mesmos, inseridos no universo do podcast.

Com uma pegada visual que lembra um mistura de Street of Rage com Scott Pilgrim vs. the World: The Game, o jogo apresenta o quarteto como guardiões com poderes elementais. Na descrição do próprio game: Izzy é fraco mas veloz como um raio, Juras é equilibrado e fluido como a água, Evans é lento mas forte como a rocha e, por fim, Bruno é equilibrado e versátil como o fogo. Estes atributos não mudam ao longo da campanha, mas é possível destravar e melhorar 8 combos diferentes e comprar vidas gastando os pontos obtidos. Além dos quatro, há outros sete personagens secretos para destravar, incluindo personagens femininas e um com o elemento ar.

A trama coloca os guardiões na luta contra um chefão que roubou o artefato das 99Vidas, que confere o poder das vidas infinitas. Ao total são 6 fases temáticas (mais 2 bônus) e independente da dificuldade que escolher – como o “Izzy”, piadinha antiga do podcast – o game é bastante desafiador. E, claro, há referências do podcast pra todos os lados: nas vestes dos guardiões, em suas vozes e diálogos, nos cenários, nos inimigos, e assim por diante. Quem nunca ouviu o podcast irá boiar legal, mas nada que tire a diversão.

Dona Graça, uma das histórias do podcast que virou personagem no game.

É muito colorido

Taí uma piada do próprio game. O visual pixel art é bem desenhado e as animações são bem fluidas, principalmente nos especiais de cada um. São dois tipos: um que gasta duas barras, mais forte, e outro que gasta apenas uma barra, mais fraco. A interface é bem simples, com barra de energia, contador de vidas, pontos e etc. O famoso “Go” dos Beat ‘em up foi abrasileirado para “Bora” e há nome de lojas, barracas e pichações com mais referências para observar e rir. Alinhado com o visual está a excelente trilha sonora, inspirada nos jogos 16-bit e com batidas típicas da música brasileira.

Embora o game entretenha com as várias referências, inclusive nos diálogos (que mudam conforme o guardião escolhido), o jogo peca em outros detalhes importantes como os inimigos. Há pouca variedade e eles se repetem demais, em outras cores. Pra piorar rola bullying com os inimigos obesos, que são chamados – no idioma em português – de Bola, Rolha (de poço) e Chupeta (de baleia). Não há como negar que uma parcela dos jogadores, acima do peso ou não, se sentirão ofendidos. Felizmente os chefes são bastante criativos e únicos, como o Sr. Roberto (um argentino que foi dono de locadora), apresentado como um vilão ultrapassado de 8-bit.

Piada boa com um outro jogo financiado que não deu nada certo.

Voltando à piada do “É muito colorido”, eis que o jogo se prejudica com sua própria piada. Em alguns trechos o excesso de cores realmente atrapalha bastante. É o caso de um cenário todo desenhado com canetinha em folhas de caderno. A ideia é boa, com um filtro bem legal aplicado sobre a arte original, mas a poluição visual fica evidente. O mesmo ocorre na Fase 4, cujo as cores são tão escura que quase mesclam os detalhes do cenário, composto por uma orla e barraquinhas de vendedores ambulantes com o pôr do sol ao fundo.

Dificuldade pra cabra macho

Taí uma coisa que funciona muito bem no jogo 99Vidas, a dificuldade. Os inimigos não são bobos e encaixam golpes quando você menos espera, mesmo jogando com a ajuda de amigos. Confesso que joguei a campanha toda sozinho e apanhei mais do que o normal. Aliás, faz parte da curva de aprendizado você perder suas vidas e ter que recomeçar a fase, já que não há continues diretos. Ao perder tudo, você volta pra tela inicial do jogo tendo que escolher a opção continue para recomeçar à partir da fase em que parou.

99vidas_04
Homenagem ao protagonista macaco de JuJu Densetsu (Toki, no ocidente).

Seguindo as normas de um bom Beat ‘em up, você encontra itens para usar como arma, “comidinhas” pra recuperar a saúde, tem carros passando pelo cenário, fase no trem com placas de sinalização pra pular, tem opção de ligar ou desligar o fogo amigo, entre outros elementos que não poderiam faltar. Os chefes (6 ao total) são o ponto mais forte do game, com manhas para descobrir como derrotar cada um.

99Vidas é um jogo bem produzido, divertido e desafiador na medida certa. Apesar de eu ter morrido umas boas vezes, o jogo não me deixou frustrado a ponto de desistir. Na real, são os chefes que irão testar a sua paciência pra valer, mas de forma recompensadora. A campanha dura um pouco mais de 3 horas e, após concluir o game, você pode tirar uns contras no tradicional modo Versus. Tem até uma galeria com as artes dos fãs, na opção de Extras. O jogo está disponível no Steam (PC) por R$ 30 e deve sair em breve também para Xbox One, PS4 e PS Vita.

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