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Com a recente volta dos jogos temáticos de Samurai – Nioh, Sekiro, Ghosts of Tsushima, entre outros – Akane, do estúdio brasileiro Ludic Studios, aposta em uma combinação peculiar: os guerreiros do Japão feudal em um ambiente cyberpunk. A proposta é interessante, colocar a honra e integridade dos samurais em um ambiente decadente e imoral, mas infelizmente falta profundidade ao jogo, que deixa muito a desejar.

O ano é 2121. A cidade de Mega Tokyo está tomada pela Yakuza. Encarnamos Akane, uma samurai recém treinada que decide, em sua empreitada final, matar o máximo de mafiosos que conseguir antes de morrer. O contexto narrativo acaba aí; não descobrimos mais nada sobre aquele universo, nem as motivações da garota, nem os acontecimentos passados.

Jogabilidade satisfatória, mas limitada

O gameplay é relativamente simples: você deve sobreviver o máximo que conseguir as ondas de mafiosos que tentam te matar e, na medida que prossegue, completar alguns desafios para liberar novos equipamentos. A cada 100 mafiosos mortos o boss Katsuro, que é sempre o mesmo com uma certa progressão de dificuldade, aparece e após derrotá-lo o ciclo recomeça.

Com 40 minutos de jogo já tinha experienciado tudo que ele tem a oferecer. Os inimigos principais se limitam a 3 tipos diferentes: um mafioso normal com katana, um assassino que usa uma arma a longa distância e um tank que demora um pouco mais a ser derrotado. Nada muda entre as tentativas e os equipamentos liberados não oferecem mecânicas que realmente tem impacto na forma de jogar.

Imagem do jogo Akane
Katsuro é o boss que aparece a cada 100 mortes.

Ao matar os inimigos, uma barra de poder é carregada e de tempos em tempos é possível eliminar todos que estão no cenário, mas raramente isso é necessário e além de tudo não é possível guardar o poder para o boss, pois a barra é zerada quando ele aparece.

Apesar disso, a velocidade e o ritmo do jogo consegue prender, pois tudo é muito rápido e deixa o jogador sem tempo para respirar. Recomeçava automaticamente a cada morte e continuava como se nada tivesse acontecido. A progressão é impiedosa e até mesmo os desafios iniciais exigem muito. Não existe uma escalada de dificuldade de desafios que ajuda o jogador a se acostumar com o sistema ou aproveitar melhor as possibilidades.

O ritmo frenético é a parte mais satisfatória do jogo e o que mais impulsiona a evolução. A possibilidade de experimentar novos equipamentos é, inicialmente, um bom atrativo para prosseguir, mas com pouco tempo a repetição acaba enjoando. A mecânica é bem trabalhada e agradável de jogar, mas não é o suficiente: faltam novidades, novos desafios e possibilidades.

Imagem do jogo Akane.
O ataque especial destrói todos os inimigos no cenário.

A arte cyberpunk

O visual remete à obras cyberpunk, as cores lembram o visual de Blade Runner ou Akira e é notável a influência de Ghost in the Shell nos personagens, sempre com um tom que mistura anime e ficção científica. A pixel art é muito bem trabalhada e consegue transmitir a sensação de lugar desolado e decadente. Mas só existem dois cenários no jogo, a praça onde as lutas ocorrem e o dojo de treinamento que faz parte do tutorial.

A música parece parte da trilha sonora de Hotline Miami, uma espécie de retrowave agitada que até combina com a ambientação. Mas é apenas uma música, em looping eterno. Com meia hora de jogo eu já tinha me irritado com aquela repetição e retirado a música, deixando apenas os efeitos – entre eles o clássico Wilhelm Scream, grito imortalizado pelo cinema.

O design dos três personagens principais é interessante. Akane lembra vagamente a noiva de Kill Bill – inclusive sua “missão” parece um pouco com a da personagem de Uma Thurman – seu mestre no dojo, Ishikawa, é quase uma versão do Clint Eastwood velho com um tapa olho, mas destaco o ciborgue Katsuro como o personagem mais interessante.

Imagem do jogo Akane.
O mestre de Akane é uma espécie de Clint Eastwood samurai.

O potencial dos personagens carismáticos se perde com a falta de narrativa. Seria interessante conhecer o passado daquelas pessoas, suas ambições e paixões mas tudo isso se perde na falta de história. Sem isso as referências, influências e caracterizações se tornam vazias. Tudo é muito bonito, mas para por aí.

A Ludic Studios descreve o jogo como um “arcade slasher cyberpunk” e a noção de progresso no jogo que fica é essa mesmo, de sempre aumentar o número de mortes e acumular equipamentos. Quando todos forem conquistados, o jogo acabou.

Imagem do jogo Akane.
Só existem dois cenários, o dojo e a praça em que as lutas acontecem.

As inspirações em Hotline Miami não pára na arte ou na música: o gameplay também tem muito do jogo da Devolver, como o ritmo alucinante, a repetição rápida e a forma de matar ou morrer em apenas um ataque. A jogabilidade funciona no teclado e mouse, mas particularmente senti falta o tempo todo de suporte ao joystick, o que já foi anunciado para patches futuros.

A despeito de seus problemas, o jogo é divertido e até viciante mas falta o polimento de Hotline Miami. O estúdio é composto por três pessoas e isso gera limitações, mas a sensação que fica é a de um jogo inacabado, que apesar das belezas não entrega uma experiência completa.

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