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Quando anunciaram Atelier Ryza 2: Lost Legends & The Secret Fairy, só havia uma questão entre os fãs: trazer a sequência era algo necessário? Não vamos nos enganar, eu me perguntei isso, você também, afinal de contas o primeiro game tinha sido um sucesso total e mexer nisso poderia queimar a ótima imagem que ele passou ao público. E quem iria se arriscar a manchar a franquia após o glorioso game de 2019?

Anunciado há seis meses e com a adição da versão de PlayStation 5 no caminho, a Koei Tecmo e a Gust trabalharam incansavelmente para trazer a resposta de uma forma direta e sem muitos rodeios. A continuação era sim necessária e mostra que respeito ao material original e manter a sua base firme conseguem impulsioná-los adiante para uma aventura maior.

Uma aventura ambiciosa

Com um ar muito mais ambicioso que o original, Atelier Ryza 2 se propõe a engrandecer um RPG que já tinha aspectos épicos em sua essência. E não digo isso apenas em relação à diferença de idade que as crianças passam, agora se apresentando no início da fase adulta. As dungeons, cenários, monstros e os itens, por exemplo, mostram que houve uma enorme evolução de seu sistema e abraçam o jogador entre o que conhecem de seu antecessor e as novidades mais do que bem-vindas.

Minha sensação ao jogá-lo foi de que o primeiro título não passava de uma prequel para a verdadeira jornada daqueles personagens, um pedaço do que eles realmente planejaram. Não se engane, era um jogo completo e tão sólido que abocanhou uma nota 9.3 em meu review. Porém, é impossível olhar para esta segunda aventura e não afirmar de que é a experiência definitiva de Ryza e seus amigos.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
A aventura está maior e cheia de conteúdo novo.

Ao entrar nas primeiras áreas, você já pode sentir um pouco disso, com um ambiente cheio de ramificações, monstros distintos, itens novos e a inclusão de mecânicas inéditas. Desta vez você pode nadar e atravessar caminhos estreitos, o que permite uma abrangência maior de tudo que tem para ser explorado e conseguir peças raras para o seu arsenal. Até mesmo há mudanças climáticas, entre o sol de rachar e as chuvas torrenciais, que ocorrem de forma aleatória e alteram todos os cenários.

E não são as únicas novidades empolgantes que Atelier Ryza 2 carrega em suas asas. Após completar algumas dungeons, você também consegue montar numa criatura específica para encontrar e escavar materiais, além de dar mais velocidade, lógico. Isso garante uma nova dinâmica, que tira o peso da obrigação de usar os itens direto e te permite apreciar a beleza do mapa. Até mesmo a grandiosa cidade de Ashra-am Baird tem elementos distintos para aumentar os diálogos e trazer formas de te auxiliar no gameplay.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
A montaria agiliza bastante a exploração.

Outra coisa que me chamou bastante atenção foi o sistema de batalha, que retorna completamente reformado. Apesar de ter gostado bastante do anterior e visto o quanto era estratégico, vamos combinar, faltava ritmo. Agora não falta mais, te garanto. Os personagens batem mais por rodada, apanham na mesma proporção, seus combos são mais efetivos e os golpes especiais inclusive ganharam animações sensacionais.

Um dos elementos inéditos que Atelier Ryza 2 traz consigo nesse aspecto é a possibilidade de um ataque épico, combinando alguns dos itens para detonar a concorrência de uma vez por todas do combate. O Aggressive Mode das batalhas também está de volta, causando um show pirotécnico na sua tela. Caso tenha epilepsia ou se sinta mal, não deixe de procurar um médico. Piscou e verá raio e fogo vindo de tudo que é lado, nem pense em brincar com isso.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
As batalhas dinâmicas permitem um ritmo mais fluído.

Só isso já traz mais hype para aqueles que estavam ansiosos para ver o que a Gust trouxe, mas na verdade isso não passa raspando na maior evolução do game. Como disse anteriormente, tudo isso é o que foi proposto inicialmente para trazer algo maior e melhor em sua sequência. É muito bem-vindo, obviamente, mas o foco real dele e o que me  cativou mesmo foi a sua história.

Atelier Ryza Shippuden

Antes eram apenas crianças se aventurando, querendo descobrir hobbies e tentando se desvencilhar das expectativas dos adultos. Agora, o cenário virou. Mesmo com só três anos de diferença de tempo, isso impactou cada personagem que conhecemos de forma profunda e isso é trazido à tona com uma profundidade tocante. Os adultos dessa vez são eles e vão perceber que essa vida não é nada simples.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
Se o chefão é difícil, a vida adulta pode ser complicada também.

Ryza antes ajudava as pessoas da ilha para ser aceita, agora ela ajuda a cidade para manter o lugar onde mora. Tao deixou de ser uma criança medrosa e agora virou um pesquisador completamente competente e foi o mais afetado em quesitos visuais. Até mesmo Bos, um dos rivais da protagonista e que maltratava o grupo principal, agora auxilia Tao em seus estudos e o acompanha pela cidade como bons amigos.

Isso se estende a Lent e Klaudia também, que seguiram caminhos distintos e voltam a ter suas histórias entrelaçadas pelo enredo principal. Enquanto eles conversam e interagem com os amigos do passado e os personagens inéditos do jogo, a evolução como seres humanos é facilmente perceptível e vai pegar de jeito muito jovem que acabou de sair da escola e está observando pela primeira vez as pessoas próximas seguindo outra rota nas suas vidas.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
A maioridade permite criar bodes dentro de casa.

Os novos membros do grupo são responsáveis por bater a realidade na cara deles e mostrar que a vida não é mais como nas Ilhas Kurken. Clifford é um caçador de tesouros, qual passou toda a sua jornada sozinho e agora se une a eles para encontrar riquezas nas ruínas. Patricia é a aprendiz de Tao, carregando um sentimento conflitante pelo seu mentor e a misteriosa Serri deseja recuperar a flora do seu lar, devastada pelas ações devastadoras da humanidade.

Por mais que pareça uma imensa festa entre eles, não é bem assim que funciona. Quando retornam para a cidade, todos se separam e vão cuidar de suas vidas. Você pode encontrá-los e ajudá-los em seus problemas, mas é facilmente lembrado que tem os seus próprios para resolver e acaba vendo algumas sequências acontecendo de forma paralela.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
Clifford é um dos personagens inéditos.

Um dos meus trechos favoritos é pelo olhar de Dennis, o ferreiro da cidade que rapidamente faz amizade com Ryza. Ele pretende participar de uma grande competição e está tentando criar um item especial para o evento. Quando ela se oferece para montar algo usando alquimia, ele nega prontamente e diz que tentará resolver por conta própria, pois o torneio está testando a sua capacidade, não a dela. Um baita tapa na cara para quem está acostumado a salvar o mundo todo a cada RPG.

E esta fase não é responsável apenas por nostalgia e mostrar que, mesmo distantes, amigos continuarão fazendo parte de nossos corações. Um grande mistério envolvendo ruínas antigas e uma criatura que está sendo cuidada por Ryza, Fi, une o grupo novamente para desvendar o que causou a queda de uma civilização inteira no passado e como isso pode afetá-los no presente. Cada um tem a sua motivação, mas continuam seguindo juntos para resolver esse quebra-cabeça, com muita investigação e exploração.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
O misterioso Fi acompanha Ryza por sua jornada.

Popularidade é um saco

Em quesitos técnicos, Atelier Ryza 2: Lost Legends & The Secret Fairy avança um pouco mais do que o anterior, mas não mostra muita diferença na versão de PlayStation 4. Algumas quedas de frames continuam ocorrendo, assim como alguns bugs visuais são facilmente perceptíveis, porém em nenhum momento isso me causou problemas.

A minha maior reclamação e o que me tirava a paciência é o fato de Ryza ser extremamente popular. Isso irrita, por mais incrível que pareça. Um exemplo do que rola com frequência, você está reunindo materiais para criar itens, volta pra casa e tem uns três diálogos porque todos resolvem te visitar ao mesmo tempo. E não estou brincando, às vezes você acabou de pisar lá e já estão batendo na porta. Aí essas pessoas vão embora, você acaba percebendo que está sem um ingrediente e sai para comprar na esquina e lá vem mais duas cutscenes enormes de outros personagens que estavam passando na rua.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
A casa da Ryza não tem regras, todos aparecem o tempo todo.

Haja saco, isso acontece em basicamente todos os lugares da enorme cidade. Você viu que falta pontos SP para obter uma receita nova, vai no café para pegar missões e leva mais conversas por ter alguém lá que deseja te pedir outras coisas ou te contar um pouco do que andou ouvindo por ali. O conteúdo e a profundidade são riquíssimos, eu tenho de admitir, informação e background são o que não faltam. Mas em excesso atrapalha um pouco quando tudo que você quer é só se divertir um pouco na rotina comum.

Apesar da sexualização das personagens e de todo o fetiche japonês, principalmente para cima das jovens, eles mantiveram o nível do primeiro Atelier Ryza e não abusaram desse fator. Em nenhum momento houve uma falta de respeito ou algo que realmente forçasse a barra para colocá-las em situação vergonhosa. Mesmo existindo, acaba não sendo nada tão escancarado,  porém ainda falta bastante para vermos produções que não se utilizem desse recurso para vender.

Imagem do review de Atelier Ryza 2
Ah, os japoneses e essa mania…

A trilha-sonora também podia ser um pouco menos repetitiva, contando com as mesmas faixas em vários momentos de sua aventura. Isso não impede ela de te surpreender, como no caso de alguns chefões cujo som me arrepiou do mesmo jeito como se eu estivesse jogando algo da Square Enix, por exemplo. Mesmo assim, o geral vai te enjoar com facilidade.

Podem ser pontos que ajudariam bastante a melhorar a experiência, mas confesso que mesmo assim ele é um jogo extremamente melhor do que o primeiro. Eu me surpreendi positivamente, acreditando que veria mais do mesmo e me deparando com uma dinâmica e com tantos recursos que me fizeram sentir que estava me divertindo durante o gameplay.

Marcando sua estreia na nova geração, chegando também ao PlayStation 5, Atelier Ryza 2 mostra que dá sim para desenvolver um excelente RPG sem fugir muito de suas raízes, tornando a aventura em algo mais grandioso e trazendo uma história que vale a pena ser contada, seja pelo mistério da trama ou pelo carisma de seus protagonistas. É, de longe, um dos melhores jogos deste início de 2021.

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