Uma enxada, um regador e um rifle. É só isso o que temos para enfrentar o que sobrou depois do Apocalipse. Se fosse só o fim do mundo e tal, tudo bem. O problema é que depois que as bombas caíram, as plantas ficaram… Digamos… Um pouco agitadas… E os animais ligeiramente mais violentos. Ligeiramente.
A Bird Bath Games, em parceria com a Raw Fury, trouxe ao mundo Atomicrops. Venho acompanhando o desenvolvimento desde muito tempo, vendo as pequenas mutações desde querido simulador de fazenda roguelite – o que, por si só, já é uma mutação bisonha – e ver esse bebezinho crescendo e a radiação criando novas partes foi algo bonito de se ver.
O relógio do Apocalipse
A vida pós-apocalipse não é nada fácil. Definitivamente. O que a gente sempre pensa em um mundo assim é construir um refúgio e iniciar o plantio do que conseguirmos. O problema chega quando uma quantidade cavalar de radiação se junta à essa brincadeira e os animaizinhos que antigamente subiam de dois em dois, agora buscam ativamente te estraçalhar.
Como todo roguelite, Atomicrops possui um loop de gameplay bem definido. A partida se inicia após selecionarmos um dos 3 personagens, o que satisfizer mais seja nossos sentidos ou a nossa estratégia. Somos jogados entre um poço e um quadrado de 3 por 3 para o plantio. E é esse o nosso meio de vida daqui para a frente.
No meio tempo, entre nascer e morrer, dividimos nosso tempo na fazenda entre plantar, matar e casar. Bom, basicamente a vida padrão do agropecuarista brasileiro. Se bem que esta envolveria muito mais lobby político, cometer dezenas de crimes e aplicação de insumos e agrotóxicos proibidos em qualquer país sério.
A humanidade, como sempre, precisa se alimentar. É o seu papel nesta proto-sociedade plantar essas comidinhas e garantir que suas leguminosas não serão devoradas por moscas-borboletas bocudas ou por larvas-porcas-lesmas – sério, é a melhor maneira que eu consigo descrever estes bichos.
O solo não é mais o mesmo. Não é só chegar com suas sementinhas recebidas em uma apresentação da última feira de ciências que tu foi e alguma coisa vai surgir. Foi-se o tempo do “em se plantando, tudo dá”. Agora, além da dificuldade de conseguir as tão sonhadas sementes, precisamos também das picaretas, ferramentas que abrem o solo e permitem que tenhamos mais espaço para o plantio.
Dentre os 8 tipos de pacotes de sementes, existem variações sobre o quanto de água cada uma delas precisa equilibrando essa carência com a velocidade de crescimento. Balancear quais delas seria melhor selecionar ou, na possibilidade de comprar todas, escolher quais plantar antes é fundamental para ter um aproveitamento melhor do seu reservatório de água e maximizar seus rendimentos.
Misturando os espaços para plantação com os quadradinhos para torretas e espantalhos, associar esses cálculos com os animais que conseguimos de apoio – por exemplo vacas ajudam na irrigação, abelhas na fertilização, porcos preparam a terra e galinhas comem ervas daninhas – ajudam a ter uma fazenda quase que automática e independente.
Se quer paz, prepare-se para a guerra!
Se esse fosse o único problema, até que tudo se daria jeito. O ponto é que sabe-se lá o que aconteceu, mas a maioria dos animais simplesmente nos odeia. Mais uma vez, se esse fosse o único problema… A merda é que agora eles carregam armas. Das grandes. E como diz o poeta: Si vis pacem, para bellum.
Assim sendo, a maior parte dos recebimentos vindos da venda das plantações é destinada a se armar corretamente. Existe uma bela variedade de armamentos disponíveis, cada uma delas completamente diferentes entre si. Além disso, cada uma delas ainda possui 4 níveis de melhorias. Então, no fim, em uma contagem básica, são 33 tipos diferentes de armamentos com velocidades, munições e dano.
Com certeza essa contagem não é um exagero, porque são tantos tipos diferentes de inimigos com altíssimo grau de periculosidade que nenhum exagero é desnecessário. Até porque as armas quebram após um dia de uso – ou dois no caso de um dos personagens – então selecionar quando é o melhor momento para gastar pesado em armamentos define sua sobrevivência.
Estes momentos são importantes porque o ciclo maior de jogabilidade de Atomicrops gira em torno de um ano. Ano esse que é dividido em 4 estações de 3 dias cada, mais um extra de inverno nuclear no final. No final de cada uma das estações, terminando o terceiro dia, precisamos enfrentar um chefe e aí sim as armas pesadas se fazem importantíssimas.
Conforme terminamos cada ano, enfrentando o grande chefe do inverno nuclear, o grau de dificuldade aumenta exponencialmente, dando mais sentido para manter o jogador se aprimorando passo a passo. Permitindo também o avanço a longo prazo do hub de seleção de personagens, melhorando a casa lá presente, assim como alguns tipos de plantas-troféus.
Em um respiro de toda essa preocupação e responsabilidade, chegamos ao terceiro ponto de Atomicrops: relacionamentos. Durante as plantações, além de alimentos, podemos plantar também rosas. Ao fim dos dias, podemos encontrar alguns habitantes específicos da vila e entregá-los rosas. Para cada uma entregue, recebemos benefícios e aumentamos o grau de relacionamento, até chegarmos ao casamento e termos a companhia deles no campo.
São ao menos 5 tipos de possíveis companheiros, variando entre: humano, um inseto, uma demônia, uma coelha e um sereio – sim,sereio, me processa. Cada um possui uma personalidade própria e esbanjam carisma a tal ponto que eu realmente gostaria de maiores interações com cada um deles.
Tendo acompanhado Atomicrops desde um dos primeiros lançamentos de Early Access e o crescimento do jogo foi absolutamente absurdo. Até o último update pré-lançamento era um jogo bom, mas ainda faltava muita coisa, detalhes de personalidade inclusive. Porém, este lançamento oficial fez maravilhas para o resultado final.
Por fim, Atomicrops não é só um bom roguelite. Não é só um bom jogo de tiro e ação. Não é só um bom jogo de plantação. E não é só um bom pseudo-dating sim. É tudo isso junto, mais uma pancada de personalidade, trilha sonora fantástica e gráficos com um misto de fofura e estranheza. Atomicrops é absolutamente incrível!