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Nas terras nipônicas, existe uma franquia de jogos razoavelmente antiga que domina o coração dos amantes de bullet hell: Touhou Project. Desde 1996 a série já conta com mais de 20 jogos que nunca saíram do Japão, mas que continuam sendo um grande sucesso por lá. A maioria dos jogos foram criados por um único homem, conhecido como ZUN, que é designer, programador e produtor da trilha sonora e conseguiu criar uma fanbase praticamente intacta com uma fórmula muito simples: menininhas de anime com personalidades extremamente estereotipadas, músicas ocidentais e muitos, mas muitos tiros comendo soltos na tela.

Eis que, como todo bom sucesso, logo em seguida vem os clones, e o último deles ficou a cargo do estúdio independente Unties, também japonês. Azure Reflections é o clone da vez e tem tudo que faz Touhou Project ser tão amado lá do outro lado do mundo, então será que ele é uma boa alternativa para os amantes da franquia que querem explorar algo “novo” ou é só mais uma cópia genérica do gênero?

O presente é o passado, e o passado é o presente

Se você esperava encontrar muitas fadinhas e bruxinhas lutando entre si neste jogo, pode se alegrar, porque você encontrou. Em Azure Reflections existe um jardim da escuridão conhecido como Scarlet Devil Manor, e lá vivia uma jovem muito malvada chamada Remilia, que espalhou uma névoa vermelha pelo mundo, mergulhando-o em caos e destruição. Duas garotas humanas conseguiram dispersar a névoa e salvar o destino da humanidade, mas algum tempo depois Remilia retornou com sua névoa e agora cabe a essas duas meninas (e uma fada) derrotarem-na novamente para que o mundo possa voltar à paz e a prosperidade.

Imagem do jogo Azure Reflections
Aquele círculo indica que está na hora de usar o seu dash.

Só de ler essa sinopse, você já percebe que o enredo é bem tosco e está ali só para dar as devidas motivações de cada protagonista do jogo. O modo como o game funciona é muito simples e, acredite se quiser, ele pode ser concluído entre 20 e 30 minutos. Jogos shmup (shoot ‘em up) não costumam ser muito longos, mas esse aqui realmente levou isso muito a sério – em compensação, ele não pega leve com o jogador, então pode preparar bem os seus reflexos, você vai precisar.

Diferente de Touhou Project, que usa um estilo de câmera visto de cima (onde a personagem avança na vertical), Azure Reflections preferiu explorar o estilo “side scroll” do gênero, onde nos movimentamos livremente pelo cenários, porém sempre na horizontal. De início, teremos três dificuldades disponíveis e apenas uma personagem jogável, e para desbloquearmos as outras duas devemos concluir a campanha com a primeira, mas não é tudo tão óbvio assim. Para conseguir terminar a campanha de verdade, você deverá passar por todas as fases e todos os chefes sem usar nenhum ‘continue’ – não confunda as coisas, você pode morrer à vontade, desde que não zere suas vidas. Caso você use algum ‘continue’ antes da última fase, o estágio final não é liberado e o jogo te obriga a começar tudo de novo.

Imagem do jogo Azure Reflections
As chefes se preocupam mais em fazer um show de luzes do que em te matar.

De início, isso é meio frustrante (ainda mais pelo fato do jogo só te avisar isso quando você concluir a penúltima fase), mas como a campanha é exatamente a mesma em todas as vezes, uma vez que você já souber o que te espera, não tem muito segredo. Além do mais, a dificuldade não influencia na história, então se você não for um exímio atirador de fadinhas pode jogar no Easy sem culpa, porque você conseguirá avançar do mesmo jeito. Seu objetivo é concluir a campanha com as três personagens jogáveis para que assim possa ver o final verdadeiro, mas não espere muito da história desse jogo, muito menos do seu gameplay. O desafio aqui não é terminar o jogo três vezes, e sim ter vontade de jogá-lo tantas vezes.

Déjà vu

O jogo conta apenas com cinco fases, das quais cada uma mal chega a ter 5 minutos de duração. Os trechos onde enfrentamos ondas de inimigos são muito curtos e bem tediosos no geral, pois a variedade de oponentes é quase inexistente e os cenários são sempre bem pobres, deixando tudo mais monótono ainda e te dando aquela sensação de que é sempre exatamente a mesma coisa. Tudo que você enfrenta são fadinhas ou livros, ou fadinhas segurando livros, e isso se repete ao longo de todas as fases e ainda nas fases extras, que se passam em dimensões alternativas (e possuem sempre o mesmo background, reforçando o que foi dito antes).

Os movimentos das personagens são bem limitados e dá pra aprender tudo sem a necessidade de jogar aquele tutorial chato. Você pode: atirar para a esquerda e para a direita; dispersar os tiros inimigos usando o touchpad do seu Dualshock 4; dar um dash que destrói vários inimigos seguidos, criando combos; e por fim usar um Spell Card, que são os ataques especiais do jogo. Os únicos inimigos que também possuem Spell Cards são os chefes, e é possível roubar os cards deles caso você consiga fazer as coisas no tempo certo durante a batalha.

Imagem do jogo Azure Reflections
Ferrou…

O que gasta bastante tempo da sua jogatina são os diálogos, que tomam mais tempo do que o gameplay em si. Assim que você conclui os trechos com inimigos, uma outra fada aparece e tenta te impedir de chegar ao lar de Remilia e, antes da boss fight começar, sempre haverão diálogos imensos antes da luta… e depois também! Esses diálogos não acrescentam nada à história e são super irrelevantes, tendo o intuito apenas de serem engraçados no estilo anime de ser, então provavelmente apenas os otakus terão paciência de acompanhar todos. Quem estiver lá só para jogar, pode pular tudo sem medo porque não estará perdendo nada.

As batalhas contra as chefes são o ponto alto do jogo, porque aí sim nossas habilidades são postas à prova e teremos que desviar de milhares de tiros na tela ao mesmo tempo em que tentamos atacar. Todas as lutas seguem um padrão, divididas em várias etapas nas quais as meninas sempre usam sequências de tiros diferentes, e como é sempre a mesma coisa, esse fator facilita ainda mais sua vida quando for zerar com as outras personagens, pois você já saberá exatamente como cada chefe ataca e como você deve contra-atacar.

Imagem do jogo Azure Reflections
Por que diabos ela está segurando um pepino???

Uma coisa bem bizarra nesse jogo é a hit box (onde os tiros acertam), pois mesmo depois de ter concluído a campanha três vezes, eu continuava sem entender como ela realmente funciona. Aparentemente o único ponto com 100% de chance de acerto na sua personagem é o peito, pois caso os tiros relem em outras parte do corpo, é possível que você escape ileso… ou não. Para morrer em Azure Reflections, basta levar dois tiros em sequência – o primeiro te atordoa, deixando sua personagem tonta e imóvel, e o segundo a faz cair e perder uma vida. O que definirá quantas vidas você tem é o nível de dificuldade, que também influencia no quão resistentes os inimigos serão, e caso você seja maluco por desafio ainda é possível liberar um novo nível de dificuldade, o Lunatic, que como o nome já diz é só pra lunáticos mesmo.

A trilha sonora é completamente genérica e esquecível e os gráficos seguem a mesma onda. Não que um bullet hell precise de gráficos bonitos, afinal você não terá tempo para ficar apreciando a paisagem, mas fora o level design fraco, o visual do jogo também peca bastante.

Imagem do jogo Azure Reflections
Kame… Hame… HAAAAAA.

Azure Reflections acabou por ser um clone genérico de Touhou Project, o que é bem bizarro considerando que os jogos nos quais foi inspirado são muito simples e carregam sua fama quase exclusivamente por conta de suas personagens e personalidades estereotipadas. Apesar de tentar fazer isso e ainda assim manter um gameplay mais caprichado que o de Touhou, o game falha ao tentar socar sua repetitividade goela abaixo do jogador em um universo pouco trabalhado e sem carisma. Os amantes de anime e de Touhou Project são o público que mais pode tirar proveito deste título, mas o restante pode passar longe com tranquilidade, pois até quem ama o gênero shmup pode achar Azure Reflections bem maçante e pouco divertido. Talvez seja por essas e outras que Touhou Project nunca veio para o ocidente.

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