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Alguns jogos se apoiam quase que inteiramente sobre um único e curioso conceito. No caso de Bomb Chicken, desenvolvido pela Nitrome, esse conceito é controlar uma galinha que bota bombas – os únicos dois comandos no jogo são de andar para os lados e soltar bombas. Isso leva a questões fundamentais: do que se trata uma boa jogabilidade? Será que ela consiste apenas de um layout complexo do controle? E por que galos e galinhas estão em alta nessa última semana no Gamerview?

Quando à segunda pergunta, o ótimo Octahedron já reforçou anteriormente que não, contando também com apenas dois comandos básicos mas criando situações bastante distintas através do criativo design de suas fases. Felizmente, o caso de Bomb Chicken é semelhante, exigindo paciência e criatividade por parte do jogador, que deve ultrapassar os mais diversos obstáculos com as mesmas habilidades do começo ao fim – algo que também acaba sendo em detrimento do jogo, que se torna repetitivo já pela metade (Octahedron ao menos evitou isso com seus upgrades de ataque).

Para jogar isso aqui, é bomba

Imediatamente perceptível é o quão charmoso o visual de Bomb Chicken pode ser. Com uma pixel art caprichada e repleta de cores vivas, o jogo da Nitrome aproveita os baixos requisitos técnicos de seus gráficos para entregá-los com grande fluidez, o que por sua vez torna os controles mais precisos e portanto prazerosos. Muita atenção foi dada à direção de arte, que apresenta com clareza um universo bastante estranho.

Imagem do jogo Bomb Chicken
Uma fuga eletrizante.

Por falar nesse universo, Bomb Chicken é ambientado em uma realidade na qual os vegetais criaram uma gigantesca rede de fast-food, a BFC, que serve suas refeições com um misterioso molho azulado. Ao entrar em contato com o mesmo molho, um ovo choca e dele sai uma rechonchuda galinha, que desde então é capaz de soltar bombas pela cloaca – mas veja bem, ela não é invulnerável às próprias bombas! Contatada por uma força superior, ela parte em uma missão para sabotar as operações da BFC e descobrir o segredo do molho.

Nada do que foi dito acima é apresentado no jogo de maneira tão concreta, somando mais pontos à clareza dos visuais e o level design propostos pela Nitrome. Nenhum dos cenários, formados majoritariamente por fábricas e abatedouros, chegam a ser especialmente memoráveis, no entanto há uma consistência que condiz com a proposta da narrativa.

O que não são consistentes são os desafios ao longo do caminho – uma fase simples é sucedida de outra que é ridiculamente desafiadora, enquanto esta última é sucedida por outro nível simples. Além disso, apesar de nunca injusto, o jogo exige tanta precisão em cenários tão apertados que acaba limitando o potencial de exploração do jogador, que pode encontrar joias azuis (algumas em baús) ao longo de cada fase, porém nada mais que isso.

Imagem do jogo Bomb Chicken
Fazer uma oferenda a uma entidade desconhecida? Tô dentro!

Essas joias, no entanto, permitem que o jogador aumente o número de vidas da galinha, que retorna ao último checkpoint após falhar um salto ou tocar em um inimigo. Quando todas as vidas são esgotadas, retorna-se ao início da fase. No entanto, Bomb Chicken ainda dá uma ajudinha e mantém todos os itens coletados pela fase até então – como cartões de acesso para portas mecanizadas e as próprias joias azuis-, permitindo que o jogador não tenha que repetir alguns desafios e seja mais objetivo em seu trajeto. Já que o jogo, apesar de visualmente fofo, é realmente difícil, essa se prova uma boa escolha da Nitrome, que não consegue evitar a repetitividade mas ao menos mantém o ritmo sempre acelerado ao longo das 29 fases.

É um bom lanche, mas poderia ter sido um combo

Infelizmente, além do aumento no número de vidas e a diversão instantânea, não há muito o que fazer depois de zerar Bomb Chicken. Sei que já estou no limite com as comparações, mas Octahedron, além de oferecer quase o dobro de fases, contava com recursos bastante interessantes de fomento ao replay, como modos de corrida contra o tempo e pontuações baseadas no número de plataformas usadas, etc. A Nitrome poderia muito bem oferecer atualizações gratuitas ao seu jogo, como um modo de time trial e placares de pontuação baseados na performance de cada jogador, além de novos inimigos e chefes – dos últimos, há apenas três no jogo todo.

A pouca variedade de ações e técnicas, por sua vez, limita o fator de replay ao mesmo tempo em que estimula o jogador a pensar em soluções criativas. Além de botar as bombas e usá-las como plataformas, a galinha pode empurrá-las horizontalmente (inclusive em colunas) para destruir obstáculos ou matar / atordoar inimigos, além de usar estes como plataformas em certos momentos. Algumas fases introduzem novas interações com o ambiente, como cantos que quicam as bombas atiradas e o próprio molho azul, que em contato com uma explosão solta perigosas ondas de calor em direção à ave. No entanto, não há uma progressão clara entre as habilidades exigidas por cada fase, deixando a sensação de que não houve um grande avanço ou aprendizado pelo final.

Imagem do jogo Bomb Chicken
Uma das poucas (e boas) batalhas com chefes.

Exclusivo temporário do Nintendo Switch e produzido por desenvolvedores veteranos, Bomb Chicken prometia bastante e consegue, em boa parte, cumprir com seu potencial. No entanto, em um ano repleto de indies com mecânicas inteligentes e desafios mais consistentes, o jogo da Nitrome teria dificuldade em se destacar caso não contasse com, ora, uma galinha que bota bombas em seu centro. Ainda assim, realmente espero que Bomb Chicken receba as atualizações caprichadas que merece e que sua desenvolvedora expanda suas ambições dentro do gênero plataforma, que continua capaz de se renovar.

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