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Quando o primeiro Bravely Default lançou, admito que fui encantado instantaneamente. O pedido de socorro que vinha através dos cartões AR, todo o cenário parecendo ter sido desenhado à mão, as referências e homenagens à franquia Final Fantasy, tudo ali dava um ar especial e mágico que, infelizmente, se manteve apenas no Nintendo 3DS com o passar dos anos.

Mesmo com o lançamento de Bravely Second, em 2016, o original continuava a ser aclamado por todos e tinha o coração de uma legião de fãs. Não é para menos que a Square Enix viu no Nintendo Switch uma chance de continuar o seu legado e trazer uma verdadeira sequência para as aventuras em busca do cristal. Mesmo em terras diferentes e com personagens inéditos, a magia com certeza está ali.

Nostalgia e impacto

A primeira coisa que eu senti uma falta gigantesca em Bravely Default II foi da cena inicial do primeiro, que dava aquela sensação de perigo e impactava os despreparados. A princesa Agnés pedindo por ajuda e uma cidade inteira devastada foram o suficiente para manter muitos jogadores presos por horas naquele universo. Porém, neste não teve nada disso e me deixou completamente chateado com a ausência.

Meus amigos, eu mal sabia o que me esperava no prólogo. O encontro entre os quatro protagonistas, a apresentação de personagens secundários, da trama e toda a construção que levou à uma inesperada tragédia no capítulo me deixou igualmente intrigado a permanecer ali e me viciar de forma instantânea no jogo. Não tive outra alternativa senão ver toda a saga de Seth e seus companheiros até o fim.

Imagem do review de Bravely Default II
Haverá momentos muito bonitos, mas também há tragédia.

Sendo sincero com vocês, não sei dizer qual deles foi o melhor em sua proposta, o que eu sei é que ambos me fizeram respirar fundo e mergulhar no universo que estavam me mostrando. Esse foi o sentimento que me preencheu nas primeiras dezenas de horas e me fez conhecer cada um dos heróis e ouvir até as suas conversas mais bestas, através do Party Chat. Conhecê-los e entender suas motivações que é o importante.

Enquanto leem este texto, vão notar na internet uma sequência muito clara de reclamações, quais vi em alguns comentários em trailers e notícias. Os personagens continuarem com aparência chibi, a história e padrões de Bravely Default II serem um pouco clichê, a alteração da direção da arte, a ausência de alguma renovação no sistema de batalhas de turnos etc. Basta ler, está por toda a rede. O que as pessoas perderam a noção é que esse justamente é o charme do título.

Imagem do review de Bravely Default II
Não entendo o problema que existe com o design chibi…

Nem o primeiro e nem este surgiram para mudar tudo que uma indústria de JRPGs construiu. Apesar de oferecer um sistema distinto de Brave e Default, que se manteve até em outros games como Octopath Traveler, ele passa longe de ser revolucionário. Essa NÃO é a intenção da Square Enix. Basta um olhar para ver que ele é uma grande homenagem ao gênero, trazendo Final Fantasy como maior musa inspiradora para montar sua trama.

Convenhamos, quatro guerreiros da luz atravessando um mapa gigantesco atrás dos cristais, uma infinidade de jobs para aprimorar as suas habilidades e subtramas cheias de traição e reinos descreveria as duas obras do mesmo modo. Quer um exemplo mais claro disso? Basta caçar um pouco na internet para ver as remasterizações dos primeiros FF que chegaram ao Nintendo DS. Se me falar que não está vendo semelhanças claríssimas, está mentindo.

Imagem do review de Bravely Default II
A busca pelos cristais continua, assim como foi em Final Fantasy.

Não se engane, Bravely Default II reconhece todas essas falhas que, nesta geração poderiam ser encobertas de infinitas formas, mas isso retiraria completamente a identidade do que estão tirando inspiração. Seria o mesmo que pedirmos um Rogue Heroes: Ruins of Tasos que copiasse o conceito de um The Legend of Zelda: Breath of the Wild, não o clássico A Link to the Past, sabe?

O importante é que, mesmo não utilizando todo o potencial gráfico do Nintendo Switch, a obra te cativa e naquilo que eles podem ter uma liberdade criativa é algo impressionante. Neste caso, é a interação entre os personagens e o mundo que os cerca. Isso que o manterá por mais de 50 horas desenvolvendo aquela história e vendo eles crescerem e atingirem os seus objetivos. Ou caírem antes de chegar neles…pode acontecer. Esteja avisado.

Imagem do review de Bravely Default II
A arte é linda, independente do potencial do Switch.

Bravely Difficulty II

Mesmo com tudo isso, queria tocar em outro ponto que me chamou bastante atenção em Bravely Default II. Muita gente reclamou da demonstração, que trazia uma dificuldade completamente desnivelada. A versão final do título abrandou bastante nessa questão, mas não pense que isso tornará a sua vida mais fácil. Não posso afirmar que ele é muito difícil, mas se você não estiver preparado, será inevitável tomar vários baques durante a partida.

Para terem uma noção, com quase 20h de jogo eu ainda estava no capítulo 1. Não estou brincando, o Prólogo toma muito tempo e quando o Cap.1 começa, você já tem uma noção completamente diferente do que estava planejando. A verdade nua e crua é que, sem grinding, não avançará. Não tem choro, não tem caminhos alternativos, nada. Se quiser derrubar aquele chefão, será obrigado a treinar.

Imagem do review de Bravely Default II
Não está escrito quantas horas você vai ficar grindando no mapa.

A parte bacana é que o próprio game oferece várias ferramentas para que possa passar por isso sem muitos problemas. Durante o período noturno, por exemplo, a quantidade de monstros se multiplica. Há midbosses espalhados pelo mapa caso queira um desafio maior ou mais experiência. Também disponibilizaram itens que permitem atrair a atenção de mais criaturas, provocar batalhas sequenciais e garantir um bônus no XP.

Confesso que isso me adiantou bastante a vida, porém antes de começar a sua busca pelos cristais sagrados, já esteja ciente que Bravely Default II exigirá bastante da sua capacidade estratégica. Organizar os jobs, melhores armas, atributos, itens e vários outros fatores podem ser decisivos nos combates mais complicados. Se você não souber quem treinar naquele momento, qual técnica se sairá melhor em determinadas situações ou qual o set que segura mais a barra enquanto causa um dano maior, terá frustração.

Imagem do review de Bravely Default II
Organizar os jobs é apenas um dos passos em direção à vitória.

Como fã isso me empolgou bastante, até por já jogar vários RPGs e JRPGs. Mas vamos combinar, meus caros leitores, atualmente a dificuldade dos títulos gerais está absurdamente branda em comparação ao passado. Vocês sabem disso tão bem quanto eu. Aqui a Square Enix não te subestimou, encaixando os desafios conforme avança e te fazendo atravessar o limite para passar por eles. Há anos eu não entrava numa batalha que eu não fazia a menor ideia se venceria ou não e ter essa sensação foi excelente.

Porém, isso pode afastar bastante os novatos e pessoas que não estão acostumadas com o passado do gênero. Vivemos numa geração que, na primeira adversidade ou probleminha, abandonam a jornada e partem para algo mais fácil. Não são todos que possuem horas do seu dia para treinar, buscar itens especiais ou algo do gênero para garantir apenas uma vantagem. É mil vezes mais simples deixar de lado e pegar algo que te divirta no pouco tempo que tem. Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra.

Imagem do review de Bravely Default II
Se prepare para voltar muitas vezes aqui para comprar itens.

Agora imagina uma legião de jogadores assim, pegando um Bravely Default II e perdendo 2 ou 3 vezes para o mesmo chefão e sem perspectiva de vencê-lo de forma alguma. Quantos são os que vão parar, voltar para a dungeon ou para o mundo aberto para treinar, se reorganizar, trocar de jobs e evoluir suas características nele entre várias outras atividades? Se você não estiver disposto a fazer isso, sinto muito, mas dê meia volta que em BD2 será uma situação até que corriqueira.

E não digo isso para amedrontar vocês não, de verdade, longe de mim. Quanto mais pessoas jogarem e puderem mergulhar em tudo que ele oferece, é melhor. Só que, se já jogou o primeiro, sabe muito bem do que eu estou falando. Paciência e estratégia são as palavras-chaves para o seu sucesso na aventura. No fim das contas, são elas que te farão atravessar a longa jornada em busca dos cristais elementais.

Imagem do review de Bravely Default II
Aproveite cada vista bonita que ver, pois lá fora o couro vai ser arrancado.

Uma verdadeira obra-de-arte

A história de Bravely Default II, como afirmei anteriormente, é simples. Seth, o protagonista, é encontrado desmaiado numa praia e sem memórias. Destroços ao seu redor mostram que enfrentou uma tempestade, mas seria ele o único sobrevivente? Encontrado por Gloria, a princesa de Musa e seu fiel escudeiro, ele é levado para ser tratado e decide ajudá-los em sua missão: ir atrás das pedras sagradas. No caminho se deparam com Elvis e Adelle, não os músicos, completando a equipe.

Todos eles são extremamente carismáticos, cheios de reações e se relacionam de diferentes formas com aquele mundo. Além disso, em certas missões, você é acompanhado por personagens secundários, que te ajudam momentaneamente e surgem algumas vezes na batalha para aumentar o dano causado. Alguns deles, como o príncipe Castor, amigo de infância de Gloria, despertam excelentes debates. Por ser da realeza, ele despreza completamente a plebe e não aceita os outros três personagens.

Imagem do review de Bravely Default II
O Party Chat é uma das melhores funções para conhecê-los melhor.

Isso ajuda muito no desenvolvimento não apenas deles e destes outros guerreiros, mas oferece um imenso background cultural e mostra muito os ideais que carregam enquanto percorre o mapa. Após várias discussões e conversas, aí sim Castor percebe que tinha cometido um erro em suas atitudes e tenta se relacionar melhor com os demais. Apesar de você descobrir posteriormente as verdadeiras faces destes personagens secundários, levantar certas conversas são primordiais para tornar a experiência em algo mais rico.

Essas interações são a cola que te deixará grudado em Bravely Default II. Diria que os pontos mais importantes de um RPG, seja ocidental ou oriental, são firmar uma proximidade dos personagens com o público e desenvolver um enredo de forma que os cative. Nesse quesito, a Square Enix merece mais do que parabéns, entregando exatamente o que propuseram com todos os anúncios que realizaram desde a revelação.

Imagem do review de Bravely Default II
Cada pequeno detalhe dele se tornará inesquecível.

Mesmo com uma dificuldade elevada e um desenvolvimento que vai tomar bastante tempo, digo sem pestanejar que a sua experiência em BD2 não será algo menos do que inesquecível. O que verá atravessará todo o criticismo sobre os clichês, gráficos e outros pormenores que foram dirigidos para se comportarem desta forma para reafirmar suas origens e raízes neste vasto universo dos jogos eletrônicos.

Pode ter certeza que você verá, no fim de 2021, o título figurando entre os melhores RPGs deste ano e concorrendo aos mais diversos prêmios que são oferecidos à indústria. Dê uma oportunidade que garanto que não se arrependerá. Como o próprio game explica, apenas utilizando o recurso Default que você pode pular diretamente para o Brave e sair vitorioso. Às vezes um passo para trás significa dois para frente e isso não pode passar batido por baixo do seu nariz. Se já está inclinado a investir, apenas vá.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024