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Só mais um investigador particular fazendo seu trabalho do dia-a-dia no que se tornou a América após a Grande Guerra. Os trabalhos vão ficando cada vez mais ralos conforme a bebida se torna cada vez mais frequente. Os pesadelos das trincheiras não passam. Mas seu dia de sorte está por vir. Um pai desesperado vem até você buscando respostas para a morte de sua filha, uma renomada pintora que havia se isolado em uma ilha esquecida pelo mundo. Sem ter muito mais o que fazer, você parte para descobrir o que se passou.

A Cyanide traz até nós Call of Cthulhu: The Official Video Game, a adaptação dos jogos de RPG de mesa que, por sua vez, são adaptações da bibliografia do escritor H.P. Lovecraft, expoente e símbolo máximo da literatura de horror psicológico.

Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh

Vamos começar dando um contexto melhor para quem não está diretamente familiarizado com a obra de H.P. Lovecraft. Segue trecho de seu verbete no Wikipédia: Howard Phillips Lovecraft foi um escritor estadunidense que revolucionou o gênero de terror, atribuindo-lhe elementos fantásticos típicos dos gêneros de fantasia e ficção científica. Lovecraft originou o ciclo de histórias que, posteriormente, foram agrupadas no Cthulhu Mythos e o grimório fictício conhecido como Necronomicon através do qual os seres humanos em suas histórias se comunicam com o panteão de entidades criadas pelo autor.

Lovecraft chamava seu princípio literário de “cosmicismo” ou “terror cósmico”, pelo qual a vida é incompreensível ao ser humano e o universo é infinitamente hostil aos seus interesses. Suas obras expressam uma profunda indiferença às crenças e atividades humanas, assim como uma atitude profundamente pessimista e cínica. Os protagonistas de Lovecraft eram o oposto dos tradicionais por momentaneamente anteverem o horror da última realidade e do abismo.

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
A ambientação é bem aos moldes do que se espera de H.P. Lovecraft.

Dito isso, caso você não soubesse que está em um universo lovecraftiano, o jogo poderia muito bem se passar por uma simples experiência investigativa, como qualquer adventure dos anos 1990. Mas claro que tendo esse nome singelo, simples e que escorrega na boca, Call of Cthulhu: The Official Video Game te deixa com uma pulga do tamanho de uma casa atrás de ambas orelhas.

Principalmente porque, de cara, tirando um ou outro comentário sobre coisas estranhas e uma visão BISONHA no começo do jogo, nada parece fugir do que se poderia considerar normal para uma cidade americana da década de 1920. É tudo estranho, mal iluminado e parece um calor permanente? Sim. Mas é bem isso aí mesmo.

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
Os diálogos são prazerosos, tanto pela quantidade de opções como pela dublagem.

Como era de se esperar, toda a estética visual do jogo gira em torno do que é tomado como noir, mas talvez seja só as fiações dos ventiladores que não são muito boas e fazem eles rodarem devagar. E isso é muito bem feito, principalmente porque tenho a impressão de que tudo é feito bem devagar, como os filmes da época. Curiosamente não vi quase ninguém fumando…

A construção da ambientação é muito bem feita nos cenários e situações. Em alguns momentos fogem do mero realismo e caem no realismo fantástico, onde as coisas não parecem condizer com o que estamos vivenciando (ou considerando o que está acontecendo, não dá mais para saber o que é real e o que não é).

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
É personalidade que chama, né?

Apesar disso, a ambientação não é, exatamente, perfeita. O aspecto técnico do visual, a evolução gráfica em si está muito abaixo do que era esperado de um jogo AAA. E por muito abaixo eu diria uns 4 ou 5 anos atrasado, um ponto consideravelmente decepcionante. Mas há também que se elogiar o que precisa ser elogiado. A dublagem de todos os personagens é muito boa. Todos têm personalidade, suas especificidades e esquisitices. Claro que muitos caem em arquétipos ou clichês, mas isso é absolutamente esperado em se tratando das histórias nas quais foram baseadas.

Iä! Iä! Cthulhu fhtagn!

Diferente de outras experiências com jogos investigativos, Call of Cthulhu: The Official Video Game, trabalha bem com o desenvolvimento do protagonista, Edward Pierce. No início você tem a possibilidade de escolher quais serão suas maiores habilidades e a exploração no jogo te permite melhorar o resto, sendo um belo motivador para explorar o mundo.

A exploração é parte fundamental para entender mais sobre esse universo, onde a impressão é de que se está em um universo paralelo ao que vivemos, apesar de ser estupidamente parecido e completamente diferente.

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
E vira um RPG quando você menos espera!

Outra mecânica bem divertida é o que o jogo chama de Reconstituição. Chegando em alguma área onde houve um acontecimento relevante e a cena não foi fortemente alterada, o jogo te pede para entrar neste modo.

Uma vez nele, o comportamento é semelhante à outros modos investigativos como na série Arkham, do Batman. Você encontra pontos de interação e com eles, Edward vai narrando os acontecimentos enquanto visões turvas se mostram para que fique de mais fácil compreensão. Assim que não há mais nada a ser explorado, é pedido que você saia novamente desse modo.

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
Uma espiadinha no modo Reconstituição.

Algo interessante a se adicionar é que em diversos momentos o jogo te mostra quando existe algo a ser obtido na sala e quando você já pegou tudo o que poderia ser pego. Pode ser visto como uma muleta, mas eu vejo como um fator que diminui a exaustão do jogador. Assim como em outros pontos, o jogo trata o jogador de duas maneiras diferentes: ele mostra o objetivo atual de forma muito simples caso você queira descobrir por si só e, nos documentos, tem uma descrição maior do pensamento do protagonista sobre como ele poderia resolver cada uma das situações.

Essa forma dupla de tratar acaba por agradar investigadores e cultistas ou gregos e troianos. Ou seja, não tratando o jogador como um incapaz, nem exigindo que ele tenha conhecimentos cósmicos para solucionar os mais banais dos quebra-cabeças.

Imagem de Call of Cthulhu: The Official Video Game
Sempre lugares agradáveis e bem arejados.

Falando desta experiência, de vivenciar Call of Cthulhu: The Official Video Game, quase que geram duas visões diferentes: uma para quem não conhece o Cthulhu Mythos e outra para quem já vive dentro deste turbilhão de dor e sofrimento.

Não sou particularmente fã de jogos com um ritmo lento como este. Caso o universo não fosse esse, é bem possível que não estivesse nem um pouco interessado. Porém, sendo um fã inveterado das obras de Lovecraft e do universo subsequente, admito que minha visão fica ainda mais enviesada.

Por fim, é um jogo de mediano a bom, dependendo do quanto você gosta do gênero de aventura/horror/investigação. Porém, se você é fã das obras de H.P. Lovecraft, Call of Cthulhu: The Official Video Game é obra essencial para se ter no currículo.

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