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Se Bulletstorm fosse um rogue-lite ambientado no mundo de As Mil e Uma Noites, o resultado provavelmente seria bem parecido com o de City of Brass, jogo da desenvolvedora australiana Uppercut Games (que é formada por algumas das mentes por trás de Bioshock).

Como um ladrão astuto, o papel do jogador é explorar a amaldiçoada “Cidade de Bronze”, avançando por 13 fases. Ao longo dessas fases, distribuídas em distritos, riquezas devem ser coletadas e inimigos devem ser combatidos. No final de cada distrito, um guardião maléfico deverá ser derrotado. Se houver sucesso nessa jornada, a cidade estará livre, mas caso resulte em fracasso, tudo começará de novo.

Mil e Um Obstáculos

City of Brass deixa clara sua natureza desafiadora desde as primeiras fases. Inimigos surgem em grande variedade e quantidade, as fases tem um limite de tempo para serem concluídas, armadilhas estão em toda parte e o pobre jogador tem pouca saúde para perder no processo. Felizmente essa sofrência toda existe com o propósito da diversão.

Imagem do jogo City of Brass
Com seu chicote, nenhum tesouro é inalcançável.

Para explicar um pouco mais a comparação com Bulletstorm, City of Brass apresenta um combate em 1ª pessoa baseado na velocidade e na astúcia, utilizando o cenário ao redor para destruir seus inimigos. Ah, é claro, há um chicote bem prático para ajudar nessa carnificina. Pareada com uma espada, a arma preferida de Indiana Jones pode ser usada de várias formas: desarmar, atordoar ou até puxar seus pobres inimigos para armadilhas brutais, além de servir como uma corda que impulsiona o jogador para partes inalcançáveis. Objetos arremessáveis como vasos e bombas também podem ser usados. No entanto, diferente do game da Epic, o foco do título da Uppercut não é só nas lutas mas também na coleta de tesouros, que permitem a compra de diversos benefícios temporários durante as fases.

Esses tesouros estão espalhados pelos diversos níveis de maneira suficientemente criativa. Alguns até mesmo pedem pôr uma exploração mais vertical dos cenários, fazendo uma combinação entre “parkour” e o chicote – o que ajuda também a evidenciar a profundidade de cada nível. Desviar do caminho principal pode ser extremamente recompensador quando há ouro o suficiente para comprar uma nova espada, armadura ou até mesmo um guarda-costas fantasma. Mas há um porém: o limite de tempo deve ser o centro da atenção, afinal tudo pode se perder ao desrespeitá-lo.

Imagem do jogo City of Brass
Fardos e Bênçãos permitem customizar a dificuldade do jogo.

Deixe-me voltar atrás só mais um pouco: City of Brass não é um game fácil, mas não precisa ser necessariamente difícil para todos. Uma das primeiras opções destacadas pelo próprio jogo é o sistema de Fardos e Bênçãos – encantamentos divinos que podem, respectivamente, aumentar ou diminuir a dificuldade da aventura. Enquanto todas as Bençãos já estão desbloqueadas desde o início, Fardos são destravados com o avanço do jogador. Esse tipo de customização torna City of Brass convidativo tanto para quem é obcecado em liderar pontuações online quanto para jogadores casuais que apenas querem se divertir.

Para dar uma ideia de como esse sistema influencia radicalmente a jogatina, darei dois exemplos. Lembram da pouca saúde que o jogador tem a seu dispor? Há uma Bênção que a aumenta substancialmente. Lembram do limite de tempo que restringia a exploração? Há outra Bênção que, por sua vez, remove a contagem regressiva por completo. A melhor parte: não há penalidade por usá-las além do bloqueio das tabelas de pontuação (leaderboards), permitindo ainda que o jogador adquira experiência e progresso.

Os gráficos são um ponto alto. Construídos com a Unreal Engine 4, os cenários são um deleite de se ver, com uma direção de arte cheia de vida mesmo com a morte tão presente em sua sombria história. Com isso, a exploração se torna ainda mais agradável e interessante.

Imagem do jogo City of Brass
As Éfiges Silenciosas são, de longe, os inimigos mais assustadores.

Os inimigos, por sua vez, são criativos e bem-animados, e vê-los se despedaçarem assim que morrem nunca perde a graça. Há soldados, feiticeiras, brutamontes e até alguns zumbis-bomba, numa variedade típica. Mas um deles, em especial, chega a aterrorizar: a Éfige Silenciosa. Não me considero um entendedor de Doctor Who nem de longe (é Whovian que chama?), mas essas malditas coisas trazem à memória os Weeping Angels, que como as Éfiges são estátuas que se movem e atacam quando estão fora do campo de visão da vítima (com direito a uma musiquinha tenebrosa). Ou seja, é melhor ficar de olho nelas.

Preso em um loop

Apesar de competentes, os controles poderiam ser um bocado mais responsivos, ainda levando em conta a taxa de 30 quadros por segundo. Ao menos na versão para consoles, ações como mover, mirar e atacar nunca são tão ágeis quanto deveriam, resultando em algumas situações frustrantes. Me parece que há um problema no tempo de resposta, uma “dead-zone” excessiva. Não é nada que acabe com a diversão jogo, mas é algo que pode se tornar irritante e que poderia ser mais polido.

Além disso, queira ou não, o game se torna repetitivo por natureza, mesmo com suas fases sendo geradas aleatoriamente. Contudo, a Uppercut Games parece saber disso e permite (assim que os guardiões de cada distrito são derrotados) que o jogador use até 3 desejos para pular para outros distritos, caso não queira repetir todos os níveis de novo, de novo e de novo.

Imagem do jogo City of Brass
A possibilidade de pular níveis é em si uma bênção.

City of Brass não é mais nem menos do que se esperava. Sua estrutura rogue-lite permite um ritmo de jogo bastante agradável e portanto uma alta probabilidade de diversão instantânea, como também pode deixar a experiência cíclica demais para alguns. As opções de customização e o baixo preço, no entanto, deixam o jogo da Uppercut mais abrangente e palatável ao público iniciante em títulos do gênero. Vale também mencionar que o game está completamente localizado para o português brasileiro.

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