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Em meio a esse mar de títulos violentos que abastecem a indústria de games, é sempre bom poder experimentar algo com uma proposta mais leve, que nos tire um pouco dessa rotina de explodir cabeças e desmembrar nossos inimigos. Concrete Genie é um desses jogos que servem como um respiro, a calmaria após a tempestade.

Provavelmente, esse é o exclusivo de PS4 menos comentado ou conhecido dos últimos meses (ou até anos), mas ele não faz menos que os outros AAA que compõem a biblioteca do console. Esse é um jogo feito com paixão que, mesmo com suas limitações, consegue te encaixar muito bem em seu mundinho mágico e colorido. Concrete Genie definitivamente merece a sua atenção.

Pintando o mundo

A história gira em torno de Ash, um menino que vive sozinho em uma cidade abandonada chamada Denska. O motivo da cidade ter sido evacuada e de apenas alguns jovens morarem ali compõem os mistérios do jogo, mas logo de cara podemos perceber que a poluição e a agressão ao meio ambiente foram fatores cruciais.

Ash não está sozinho em Denska. A cidade também é habitada por um grupo de jovens que também estão por conta própria ali, porém eles não simpatizam muito com nosso protagonista. Ash é um artista nato e adora desenhar, mas se vê perdido quando os valentões destroem seu caderno e espalham suas folhas por toda a cidade. O que ninguém sabia é que esses desenhos iriam ganhar vida e ajudariam nosso personagem a recuperar a beleza daquela cidade em ruínas.

Essa cidade precisa mesmo de uma corzinha.

O diferencial do jogo está justamente nessas criaturas (chamadas de Gênios) e na ideia de embelezarmos Denska, um lugar completamente cinzento e sem vida. Ash possui um pincel mágico que pode criar pinturas vivas, assim como novos Gênios, e tudo é customizável nesse jogo.

Você libera novos desenhos, formas e características para seus Gênios explorando a cidade e coletando as folhas perdidas do caderno de Ash. A partir disso, você pode criar seus bichinhos como bem entender e customizá-los a hora que quiser. Cada um possui uma habilidade específica para te auxiliar na exploração e avanço do jogo, o que é definido pela cor (vermelho para fogo, amarelo para eletricidade etc.). Junto com seus Gênios, você resolverá vários puzzles e terá que aprender a lidar com eles.

Essas criaturas não deixam de ser desenhos, então elas só podem se locomover por paredes. Elas pedem desenhos específicos o tempo inteiro, o que serve de incentivo para pintar os muros da cidade e ainda agradar os seus amigos. É necessário estar sempre atento ao que seus Gênios querem, pois alguns desses desenhos servem como colecionáveis e ainda existem interações exclusivas em determinados locais, o que também pode te recompensar.

Tudo isso são detalhes muito legais que tornam o jogo ainda mais único. Os Gênios são criaturas vivas que pensam e agem ao seu próprio modo, além de embelezar ainda mais os cenários com sua presença.

Hipnotizante.

Lidando com o bullying

A parte de pintar a cidade também é agradável, apesar de não ser nada demais. Você usa o sensor de movimentos do Dualshock 4 para movimentar o pincel e assim vai criando as gravuras que deseja – desde que você já tenha aquele desenho no inventário. Já houveram jogos que exploraram isso melhor, como o pincel de Okami ou até mesmo os trechos de grafite de Infamous Second Son, em que tínhamos que segurar o controle como se fosse uma lata de spray (isso sim era surpreendentemente legal).

O ato de pintar não é grande coisa, mas o resultado final sempre é. Por mais maluca que seja a combinação de elementos que você desenhe na parede, sempre vai ficar incrível, com todos se mexendo e dando mais vida ao lugar. As obras-primas são ainda mais impressionantes, pois elas espalham várias partículas pelo cenário, sintetizando toda a magia de Concrete Genie em um único mural. Você se sente um verdadeiro artista!

Essa é a parte boa do jogo, mas como tudo na vida, existem seus contras. As falhas ficam por conta das limitações do orçamento do projeto e como consequência, do seu desenvolvimento. Afinal, o PixelOpus não é um dos maiores estúdios da Sony, então já era de esperar.

Saca só esse squad.

A movimentação de Ash é bem travada, principalmente nos momentos de parkour. Ao pular de um ponto a outro, ele praticamente é arrastado no ar sem fazer nenhum movimento brusco, o que é bizarro. Como faremos bastante isso ao longo do jogo, fica difícil ignorar essas limitações em seus movimentos, mas não é nada que vá estragar sua experiência.

Apesar do jogo ser totalmente amigável e inofensivo, isso não significa que não teremos que lidar com ameaças pelo caminho. Os jovens bullies estarão na espreita o tempo todo, zanzando pela cidade e procurando nosso protagonista para fazer mais maldades gratuitas. Ao mesmo tempo que exploramos, precisamos esquivar deles o tempo todo, porém o stealth do jogo é bem fraco.

São muito raros os momentos em que eles conseguem te detectar. É possível passar do lado deles sem que eles sejam alertados, ou até ficar pendurado literalmente em frente a algum deles sem correr nenhum perigo. Nos poucos momentos que eles te encontram, ocorrerá uma perseguição tão tosca que é até difícil de levar a sério. Todos os valentões são bem mais lentos que você, então despistá-los é tão fácil quanto evitá-los.

Quando você agrada seus Gênios, é recompensado com Super Tinta.

Os gráficos são cartunescos e bem charmosos ao seu próprio modo, o que também é um reflexo das limitações do jogo. O que se destaca no visual são as pinturas e todas aquelas partículas mágicas que embelezam o cenário. A trilha sonora é meio tímida, não tendo nada de muito notável, apesar de estar sempre presente.

Concrete Genie peca em alguns aspectos, mas ainda oferece uma experiência bem satisfatória. É um jogo fácil e relaxante que atende a todos os públicos, desde crianças até adultos. Apesar de ser um exclusivo mais discreto, ele merece todo o reconhecimento. Afinal, como dito no início desta resenha, foi um jogo feito com amor.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024