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“Roda Crysis?” Taí um meme proliferado por muitos anos desde o lançamento do game da desenvolvedora alemã Crytek em 2007, usado principalmente para tirar onda com as placas de vídeo. Foi um game importante pra época, que virou referência em testes gráficos, trouxe novidades para o gênero FPS sandbox – como a destruição total das construções, as habilidades da nanosuit e a customização das armas em tempo real – e aprimorou o que foi visto no Far Cry original, cujo os direitos foram posteriormente adquiridos pela Ubisoft.

Crysis era um jogo tão pesado que demorou pra aparecer uma placa de vídeo que, combinada com um bom processador, fizesse o game rodar com 100% da capacidade. Era preciso ter o “PC da Nasa”, como muito se brinca até hoje em dia. Como eu já trabalhava com jornalismo de games na época, foi complicado arrumar um PC que rodasse o game relativamente bem. Em suma, rodei tudo na configuração mediana e sem medo de ser feliz.

Treze anos se passaram e o clássico retorna em versão remasterizada, com ray tracing e outras melhorias gráficas, só para aterrorizar aos entusiastas de PC mais uma vez. Aos que preferirem jogar nos consoles, o game saiu para PlayStation 4 e Xbox One. E rolou também um port milagroso pro Nintendo Switch, em julho.

Pesado demais ou mal otimizado?

Crysis Remastered é uma versão atualizada do game original rodando na CryEngine 5.6, a mais recente da Crytek. Ou seja, os gráficos receberam upgrade com iluminação global mais realista, ray tracing (proprietário da engine, não o da Nvidia), profundidade de campo aprimorado e texturas de altíssima qualidade. Na versão de PC há ainda uma opção pra rodar o game em resolução 8K (tem aí?) e outra pra testar os gráficos no talo, carinhosamente chamado de “Can it run Crysis”. Por consequência, Crysis voltou a ser referência em testes gráficos na atual geração de GPUs.

Imagem do jogo Crysis Remastered
Não tem nada mais satisfatório em Crysis do que explodir coisas.

O vídeo acima mostra parte da minha jogatina utilizando um processador AMD Ryzen 5 3600 (com OC em 4.2 GHz) e uma placa de vídeo Galax GeForce RTX 2080 Super (Work The Frames Edition), com as opções gráficas setadas em 1080p no High, rodando estável nos 60 FPS. No Very High, o FPS oscilou entre 50-45 FPS e começou a influenciar na fluidez do jogo. E no Can it run Crysis o desempenho ficou nos 30 FPS, totalmente jogável, mas com quedas em momentos de muita ação.

Fiquei na dúvida se o game é realmente pesado para as placas de vídeo atuais ou se é mal otimizado. Pois voltando lá em 2007, era um pouco das duas coisas. Mas, sendo justo, não demorou para o jogo original receber updates e mods que o deixaram incrível até para os padrões de hoje, competindo de frente com o remaster. Isso me impressiona tanto quanto ver a evolução insana do The Elder Scrolls V: Skyrim no PC, graças à empenhada comunidade de modders. De qualquer forma achei interessante as tecnologias empregadas no remaster, como o SVOGI (Voxel-Based Global Illumination). Aliás, o canal Digital Foundry fez um vídeo explicando bem as novidades.

O que eu não esperava é que o remaster fosse manter problemas comuns do jogo antigo, como bugs de física, texturas que não carregam direito e a inteligência artificial ficando doida. Crysis é um jogo desafiador, com inimigos bons de mira e com reações rápidas, mas quando a IA resolve bugar as coisas ficam bem engraçadas.

Imagem do jogo Crysis Remastered
Vem cá, me dá um abraço!

Guerra tecnológica

Na trama de Crysis o jogador assume o papel de Nomad, um soldado das forças especiais dos Estados Unidos. Fazendo parte da equipe Raptor e com tecnologia de ponta ao seu dispor – no caso a nanosuit, que confere habilidades especiais de velocidade, força, armadura e camuflagem invisível -, o protagonista precisa investigar as ilhas Lingshan, na Coréia do Norte, e impedir os planos do general Ri-Chan Kyong, que dominou o território para realizar pesquisas científicas em antigos fósseis de origem alienígena. Com uma força militar descomunal protegendo as instalações, é preciso estratégia e muita habilidade para avançar neste imenso paraíso.

A campanha consiste em dois arcos, um em que você enfrenta os soldados norte-coreanos em tudo quanto é canto, e outro contra os alienígenas despertados por eles. A história se desenrola de um jeito bem legal, dando liberdade ao jogador para completar os objetivos da forma que preferir. Você carrega armas que podem ser personalizadas a qualquer momento, bem como granadas, bazucas e os próprios punhos, pra fazer o inimigo de escudo humano ou dar aquela porrada dolorida com a força ampliada pela nanosuit. Dá até pra arremessar coisas contra os adversários e dar aquela zoada com sapos, galinhas e outros bichos da natureza.

Imagem do jogo Crysis Remastered
Na mira do Predador.

A ambientação é impecável e a trilha sonora, composta pelo veterano Inon Zur (Fallout 76, The Elder Scrolls: Blades, Outriders), dá um tchã extra na jogatina. Este é um daqueles jogos de tiro que você perde noção do tempo jogando, de tão envolvendo que é. Embora seja o mesmo game, este remaster não impressiona tanto quanto o original impressionou na época. Poderia facilmente ser melhor, especialmente na questão da performance. Ver uma GeForce RTX 3080 peidando pra conseguir manter os 60 FPS em 4K é algo inaceitável. E isso ocorre principalmente pela má utilização da CPU, independentemente de você ter a melhor do mundo.

Outra coisa que me incomodou foi o fato de terem eliminado o nível “Ascension” que, apesar de ser um combate aéreo simples, entrega cutscenes importantes pra história. E tiraram também a liberdade de salvar o game a qualquer momento no PC. Em um jogo desafiador como este, mesmo no nível Normal, faz bastante falta – ainda mais quando se toma tiro de sniper de um inimigo escondido do outro lado do mapa.

Imagem do jogo Crysis Remastered
Quem não curte uma boa batalha com tanques de guerra?

Se você jogou Crysis 2 e/ou Crysis 3 (ou nenhum deles), Crysis Remastered vale a conferida. Aos que pretendem revisitar o game de 2007, agora com gráficos atualizados, vale pela curiosidade. Nos consoles, em suas versões melhoradas (Xbox One X e PS4 Pro), há três opções para escolher: Quality, Performance e Ray Tracing. Ou seja, opções que influenciam nos gráficos e no desempenho. A escolha vai do gosto de cada um; eu prefiro o jogo rodando suave nos 60 FPS.

É curioso notar que, em muitos aspectos, a versão de Switch se sai melhor. O motivo? Dois times diferentes da Saber Interactive trabalharam nas versões do game, resultando em diferenças técnicas perceptíveis. É como se, na mesma empresa, dois times competissem entre si pra ver quem faria o melhor trabalho. Agora, se você dispôe de um PC master race, nem pense duas vezes qual versão obter: o game original com mods. Não, não tô brincando! O remaster tem sim suas qualidades e vale a compra, mas o original ainda garante uma experiência melhor.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024