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O ano é 1888, Londres. Uma névoa encobre a cidade, o canal do rio Tâmisa está imóvel, poucas pessoas perambulam pelas ruas e apenas alguns transeuntes caminham pelas vielas da grande cidade europeia, quando um homem desalmado comete o primeiro de seus crimes ao ceifar a vida de Mary Ann Nichols, uma cortesã da cidade e a primeira vítima de Jack, o Estripador. A história que gela o coração das damas da noite e cativa a mente dos investigadores até hoje é abordada em Dance of Death: Du Lac & Fey, um game onde o universo folclórico britânico toma vida.

Começando no reino de Rei Arthur e se expandindo até os anos de 1888 a 1891, o jogo traz o cavaleiro Lancelot Du Lac acompanhado de Morgana Le Fey, ambos vítimas da magia de Merlin e ambos imortais, porém Morgana se encontra presa no corpo de uma cadela, enfeitiçada pelo mago. Com a ajuda de Mary Jane Kelly, o trio irá enfrentar o mais perigoso assassino da história, um homem que possuiu diversos possíveis nomes e deixou apenas a marca na história, uma faca ensanguentada, a metade de um rim de uma de suas vítimas e a terrível carta intitulada “Do Inferno”.

Sangue, o elo universal da vida e da magia

Dance of Death: Du Lac & Fey é um ousado jogo de point and click da Salix Games e Tea Clipper Games Ltd, trazendo uma amálgama de seu folclore e fazendo com que diferentes personagens e criaturas se encontrem na cidade de Londres, mais precisamente no bairro de Whitechapel. O bairro, que foi cenário central para os cinco assassinatos canônicos de Jack e também era conhecido na época como “Avental de Couro”, se tornou infame e agora ganha vida no jogo ao receber magia em uma nova história.

Contando com um estilo de arte cartunesco, misturando modelos 3D e personagens 2D que dão diversidade visual e mais vida às ruas cinzas da cidade, o jogo consegue criar uma ambiente agradável e convidativo, tanto para os mais velhos quanto os mais novos. No jogo, podemos interagir com diversos habitantes da cidade, procurando pistas, informações ou apenas para descobrir mais sobre as pessoas que lá vivem e como se sentem. Para progredir e aproveitar ao máximo de Dance of Death: Du Lac & Fey, a curiosidade deve ser a ferramenta principal dos jogadores.

Morgana parece ter conhecido um lado de Arthur que as lendas não nos contam.

Para se entender o que o jogo retrata, é necessário entender pelo menos o básico da história do Rei Arthur e um pouco sobre Jack. Felizmente, o jogo traz essas informações. Enquanto acompanhamos Du Lac e Fey no começo, vemos que eles se encontram em um região do norte Europeu, e neste local um demônio acaba por atacar um padre e um camponês. Após lutarmos com tal criatura, Fey utiliza magia Wicca para prendê-la em um processo que permitirá que a mesma tenha visões sobre Merlin.

Nestas visões, vemos a igreja de St. Mary Maftelon, um coração e uma mulher com uma pequena capa vermelha, e tudo são indícios de que se quiserem encontrar Merlin, terão de encontrar Jack primeiramente. A mulher na visão se mostra sendo Mary Jane Kelly, uma cortesã da noite conhecida como Black Mary, e ela se juntará ao cavaleiro e a bruxa na busca pelo assassino em série, já que o mesmo pretende continuar matando suas companheiras de profissão e amigas.

Black Mary, a última?

No entanto, mal sabem eles que Mary possui suas próprias habilidades escondidas na manga, habilidades que nem ela conhece. Quando começamos a controlar a mesma pela primeira vez, vemos Mary tendo um conturbado sonho. Neste sonho febril, a garota vê os famosos Zeros – aviões Kamikazes da época da Segunda Guerra -, o naufrágio do Titanic e até mesmo a pegada deixada por Louis Armstrong na lua. Ou seja, nossa querida Mary possui dons paranormais mesmo que não tenha ciência disto.

Para refrear os sonhos, ela se dirige ao químico da cidade, Mr. Green, contando a ele dos terríveis pesadelos. O químico, que mais tarde revelará sua identidade para ajudar a garota com a poção, explica ainda mais do folclore e crenças místicas do povo inglês. Pouco depois, somos apresentados à história de Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda através de um vendedor de antiguidades. Dance of Death: Du Lac & Fey é como um livro, levando tempo para deixar o jogador a par dos acontecimentos e respostas que procura.

Quem é John Hunter?

Graças ao empenho dos devs, o jogo consegue ser um retrato com o máximo de fidelidade em relação personagens históricos, tanto os seres humanos, quanto as criaturas fantásticas que neste mundo habitam. Apesar de um ar um tanto quanto infantil às vezes, não deixe que isso o engane, pois o jogo retrata de maneira nua e crua os atos de Jack enquanto praticava seus assassinatos no bairro de Whitechapel.

O jogo relata como Jack retalhou e esquartejou suas vítimas passadas de maneira detalhada nos documentos que encontramos, falando de como acertou os pontos da jugular de Mary Ann de maneira precisa, ou de como removeu de forma cirúrgica o útero de Annie Chapman. No entanto, desta vez, parece que o assassino está em busca de algo a mais do que apenas matar, usando os assassinatos e pedaços em rituais de magia negra, e cabe ao jogador impedir que ele alcance seus objetivos.

Seria ele primo do Barbárvore?

Como dito anteriormente, o visual do jogo é peculiar, misturando um cenário 2D pintado à mão e com algumas personagens também compartilhando de apenas duas dimensões. O que atiça ainda mais a curiosidade, pois existem personagens 3D com as quais não podemos interagir e personagens 2D que podemos interagir, então o importante é procurar pistas e informações ao máximo.

O estilo de animação remete a antigos filmes animados como os clássicos da Disney, trazendo personagens muito bem detalhados e com cores vivas que saltam aos olhos. Os animais muitas vezes se encontram no plano 2D, mas interagir com eles é sempre interessante, afinal por serem animais acabam “falando” de maneira totalmente irregular e descompassada, como se estivessem em uma corrida contra o tempo e totalmente desesperados.

Dobram os sinos, Londres despertou ao som do Big Ben…

Dance of Death: Du Lac & Fey é um jogo de investigação, então paciência, curiosidade e perspicácia são a chave para avançar sem problema algum. Contando com apenas o mouse para controlar as personagens, o jogo consegue oferecer mecânicas que diversificam o gameplay. O jogador pode alterar entre controlar Du Lac, Fey e Mary Jane em determinados pontos, cada qual com suas habilidades. Fey, em especial, pode conversar com os animais, a fim de descobrir mais sobre os acontecimentos, mas às vezes isso é de pouca ajuda.

Os jogadores também podem utilizar o diário de Du Lac ou de Mary Jane para ler novamente pistas e informações, além de contar com um guia de objetivos. Em determinados momentos, o jogo apresenta pequenos minigames, como o momento em que Mary Jane se dirige ao químico e criamos um remédio através de misturas de ingredientes. Há também momentos de combate, onde somos apresentados a repetitivos quick-time events nos quais devemos clicar no momento certo para que Du Lac acerte seu oponente – algo que vem a calhar, já que o jogo é pouco focado em ação e mais em investigação.

Jornal, uma boa fonte de informações e pistas.

A trilha sonora do jogo é extremamente bem trabalhada, contando com o que se pode esperar de algo embasado no ano de 1888, contando com grandes clássicos – Verão de Vivaldi, Requiem de Mozart -, porém sem perder sua própria identidade. Muitas vezes o tom é soturno e dificilmente se vê uma música alegre, mantendo o clima sombrio. Outro grande ponto retratado é a falta de emprego e o número de imigrantes que perambulam pela cidade, tendo em vista que durante esta época Londres estava lotada deles. Algo que também achei interessante é ter colocado o nome “Leather Apron” antes de Jack the Ripper, tendo em vista que o mesmo deu a si a alcunha de Estripador.

Infelizmente, o jogo possui problemas que achei bem pertinentes. Começando pela movimentação dos personagens: algumas vezes quando clicamos em determinados pontos, eles negam se mover até os locais ou tomam caminhos absurdamente maiores ou mais complicados, realizando enormes arcos ao invés de andar em linha reta. Durante a movimentação, também é possível colidir facilmente com o que esteja no caminho, criando situações bizarramente cômicas onde Du Lac apenas sai arrastando tudo pela frente como um rolo-compressor ou fica completamente emperrado com Fey no caminho. O jogo ainda conta com quedas de FPS em áreas muito grandes, o que pode acabar tirando um pouco do atrativo.

No passado inimigos, agora parceiros e aliados em busca de justiça.

Outro grande problema é a falta de localização em português brasileiro, afinal de contas estamos falando de um jogo em inglês e, para agravar a situação, um inglês britânico de época. Com isso em mente, o jogador vai ter de saber inglês e um pouco das gírias da língua, então preparem-se para maratonar Peaky Blinders e outras séries antes de jogarem Dance of Death: Du Lac & Fey. Mas conversando com o time de desenvolvedores, os mesmos já disseram que planejam adicionar patches para incluir outras línguas.

Dance of Death: Du Lac & Fey é uma ótima aposta para aqueles afim de encarar Jack the Ripper mais uma vez no mundo dos games. A adição de elementos fantásticos ao projeto original serviu para que o jogo tivesse ainda mais destaque e pontos positivos, porém seus pontos negativos são bem notáveis na questão da movimentação das personagens, algo que pode ser resolvido com o tempo. Então caso queira fugir um pouco das explosões, tiroteios e embarcar em uma história de magia e investigação enquanto caça um dos mais notórios assassinos em série da história, este título merece sua atenção

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