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Dante’s Inferno é um jogo baseado na obra do poeta italiano Dante Alighiere, mundialmente conhecida como A Divina Comédia. Possivelmente escrito entre 1304 a 1321, o poema retrata a viagem de Dante ao inferno, purgatório e finalmente ao paraíso. Na verdade, a obra é muito mais do que este simples resumo. Recomendo a leitura à todos, principalmente aos que tiverem acesso ao livro com as maravilhosas ilustrações de Gustave Doré.

A Divina Comédia é uma obra de extrema importância para a literatura mundial. Foi retratada pelos maiores artistas do mundo e, até hoje, é uma forte referência sobre as crenças da idade média. Quando o jogo foi anunciado pela Electronic Arts, fiquei bastante preocupado. Mas quando soube que seria produzido pela Visceral Games, responsável por Dead Space, logo fiquei mais tranquilo. Com uma boa equipe de produção e uma excelente referência, o que poderia dar errado? Muitas coisas.

São diversos fatores que, na minha opinião, tornaram esse game um projeto inacabado. A começar pela adaptação do poema original. No jogo, Dante é um cavaleiro em missão pelas cruzadas. Quando ele retorna à sua terra natal após concluir uma missão, encontra em sua casa os cadáveres de seu pai e sua amada esposa Beatrice. Neste momento, aos prantos, Dante vê a alma de sua amada saindo do corpo e subindo aos céus. Surge então Lúcifer, tomando posse da alma em cobrança a uma promessa. Promessa feita por ela quando Dante ainda estava em sua missão. Beatrice apostou que Dante jamais trairia os seus votos de amor e fidelidade. Logo inconformado, Dante sai em busca de sua amada através dos nove círculos do inferno.

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A trama não é tão ruim quanto parece. Vale lembrar que foi lançado também um longa-metragem animado com a história completa do jogo, intitulado Dante’s Inferno: An Animated Epic. Um filme que mistura os traços de vários artistas, cada um responsável por uma parte do longa. Por ironia, o filme apresenta um caráter de viagem muito maior se comparado ao game. Isso sem comentar a atuação mais competente dos personagens e uma atenção maior aos motivos que levam Dante à sua jornada. Vale a pena conferir esta animação, mas lembre-se: assista SOMENTE após terminar o jogo.

Enquanto no filme de animação os personagens são bem explorados, no game eles são rasos e medíocres. Por ser tratar de um jogo adulto (para maiores de 18 anos), a Visceral deveria ter se preocupado um pouco mais com a profundidade dos personagens envolvidos na trama. Lúcifer, no jogo, é a personificação da maldade apenas no nome. No filme, ele é muito mais maldoso e ardiloso. E isso faz uma tremenda diferença. E olha que nem estou citando o poema original como base, apenas o material produzido para o jogo. Não entendo por qual motivo existe tanta falta de cuidado com o game. Poderiam então, neste caso, ter abandonado o poema de Dante Alighieri e usado um nome diferente. Até Virgilio, poeta da roma antiga que é o guia de Dante na Divina Comédia, sofre com a mediocridade: ele foi transformado num simples NPC para informações curtas e breves sobre cada círculo do inferno.

E por falar em qualidade, me lembrei da jogabilidade. Sim, se parece muito com God of War. Dante utiliza como arma uma foice, conquistada no início da aventura após enfrentar a Morte. Além desta arma, ele possuí também a cruz que recebeu de presente de Beatrice. Ambas as armas possuem um sistema de evolução separadas. Dante é capaz de perdoar ou condenar a alma dos inimigos, e cada ação corresponde a um tipo diferente de experiência. Ao perdoar, a experiência Holy aumenta permitindo evoluir a Cruz. Ao condenar, ganhamos a experiência Unholy, para a evolução dos combos da foice. Há ainda os artefatos mágicos espalhados pelos cenários, que podem conferir qualidades específicas aos poderes e combos de Dante. Até aqui, tudo normal. Porém os inimigos, por menores que sejam, conseguem deter a maioria dos combos de Dante. Dessa forma, perde-se aquela sensação de poder de destruição da arma ou do combo que demoramos tanto para conquistar. Isso te obriga muitas vezes a manter a briga com alguns inimigos sempre com combos aéreos, forçando combos repetitivos durante muito tempo. E isso é chato para cacete, principalmente ao jogar em dificuldades maiores.

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Agora falando sobre as fases, elas são dividas em nove círculos, cada um com a sua característica e inimigos específicos. Mas assim que descemos cada nível, alguns inimigos de círculos superiores, que nada tem a ver com o tema atual, estão ali. É um universo muito limitado de inimigos, que apenas recebem uma cor diferente ou uma “asa”. Existe um inimigo um pouco maior, de chifres. Você o encontrará o tempo todo, em diversas cores, com asa, sem asa, com escudo, etc. A repetição é tanta que é impossível não chamar os produtores de preguiçosos. Mesmo alguns chefes de fase sofrem do mesmo problema. Alguns são bem elaborados e apresentados em cenários interessantes. Outros simplesmente parecem inimigos tão comuns quanto os outros, mesmo sendo importantes na trama.

A trilha sonora é um dos poucos pontos positivos do jogo, com composições muito bem produzidas. Mas com o tempo, ela se repete assim como os inimigos. A câmera apresenta outro problema grave no game. O ângulo de visão é preso ao protagonista, o que poderia ser uma grande vantagem no desenvolvimento dos cenários. Ao invés de usar isso a favor, o jogo se limita a corredores estreitos e escuros e poucos ângulos abertos. A qualidade do jogo varia também em outros aspectos. A interface de telas é simples demais, os extras são patéticos, e até as referências à obra de Alighieri se resumem em frases curtas exibidas na tela de game over. É uma falta de respeito imperdoável.

Dante’s Inferno teve referências o suficiente para dar certo ou ser, pelo menos, um bom game do gênero hack and slash. Mas o que vemos é um jogo inacabado, feito às pressas. Se você procura por um jogo cujo objetivo é apertar botões incessantemente, este jogo é perfeito para você. Mas caso tenha lido (ou tentado ler) o poema, verá que a melhor escolha é mandar este jogo para o inferno.

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