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Venho acompanhando de perto uma geração que a cada dia ganha mais títulos do gênero metroidvania e roguelike. Hollow KnightThe Swords of Ditto, Salt and Sanctuary e agora chegou a vez de Dead Cells. Jogos com identidade e estilo próprios, sempre bebendo das melhores referências para trazer o que existe de melhor em gameplay. O recente lançamento para consoles da Motion Twin, após uma longa temporada em Early Access, é o responsável por cruzar certas barreiras e misturar diversos elementos que fazem desse jogo algo que vai além dos dois gêneros citados, brincando com mecânicas que dão um ritmo interessante e ao mesmo tempo desafios que farão você passar horas na frente da tela.

Criando pesos distintos entre desafio e recompensa, Dead Cells chega ao PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch fazendo você vibrar a cada cenário ao mesmo tempo em que destruirá toda sua estratégia e esforço em segundos. Aqui a morte pode não ser um ensinamento, mas sim algo muito maior e frustrante, inibindo o fator replay do jogo.

Célula por célula

Fica fácil tentar falar que a história desse jogo foi inspirada em Dark Souls, por deixar diversos fragmentos espalhados pelos cenários, dependendo do gamer encontrá-los para formar uma narrativa coesa. No entanto Dead Cells possui uma história mais rasa e fácil de remontar: você controla um guerreiro morto que retorna à vida após um amontoado de organismo (ou geleca nojenta) entrar em seu corpo. O que descobrimos além disso é que um estranho experimento científico foi feito nesse castelo e ilha em que você está preso, que por sinal possui livre-arbítrio para mudar sua forma a cada novo herói renascido. Com o uso indevido de cogumelos, uma contaminação em massa foi feita após um vírus ser espalhado por insetos em toda a ilha; por conta disso, guerreiros e humanos foram contaminados e transformados em zumbis ou seres ainda mais grotescos. Agora você precisará achar o caminho correto para “sua salvação”, porém o final desse jogo seja mais um pedaço para o amontoado de frustração que você possa ter.

Imagem do jogo Dead Cells
Dead Cells é bem bonito e possui uma excelente trilha sonora.

“Mas por quê tudo é tão frustrante?”, você pode estar se perguntando. Afinal o trabalho gráfico da Motion Twin criou ambientes e personagens muito coloridos, com cores fortes e cenários impressionantes. Sem contar o excelente level design que esse título indie consegue oferecer, com exploração vertical extremamente trabalhada e sem receios de causar a morte do protagonista num piscar de olhos, caso nos empolguemos demais e tudo fique muito frenético a ponto de você ser descuidado ao descer mais fundo em cada região do castelo.

Para acompanhar a beleza do game, temos uma trilha sonora impecável que não enjoa após ouvir muitas vezes. Tudo parece perfeito, porém a frustração maior acontece ao morrer e perder o caminho percorrido, ainda que parte do progresso do seu personagem seja mantido. A cada vez que um inimigo derrotá-lo, você aparecerá como uma geleca verde caindo pelos dutos do alojamento e se arrastando até o corpo de um guerreiro morto. Com isso você perderá seu dinheiro, armas e itens, mantendo apenas o que você conseguiu desbloquear na sala que existe entre um cenário e outro, em que um personagem o ajudará a gastar as células coletadas de inimigos derrotados.

Imagem do jogo Dead Cells
Esse local seguro será sua opção para destravar melhorias e upgrades.

Toda vez que você recomeçar, seus status e HP serão resetados. Ou seja, o level up nesse game só é feito através de pergaminhos pelas fases para aumentar um dos três tipos de arma/ataque que você tem e, consequentemente, fortalecer seu personagem. Isso faz com que não só o castelo/ilha se transforme, mas cada corrida que você fizer será diferente uma das outras, pois não temos como prever quais armas e itens você encontrará pelo caminho. Por conta disso a frustração pode ser cada vez maior ao montar sua estratégia para o herói conforme você vem aprendendo com o passar das tentativas. E quando achamos ter algo próximo do perfeito, a derrota pode estar numa primeira sala cheia de inimigos protegidos por magia. Esse sentimento negativo de ter que começar tudo novamente e, pior do que isso, sem saber como ou quando você vai encontrar todos aqueles itens que facilitariam sua vida, faz com que talvez você abandone Dead Cells rapidamente. Quem sabe se tivéssemos uma maneira de recuperar as células ou até mesmo guardá-las para que as coisas fossem um pouco melhor programadas de partida em partida, o jogo poderia ser ainda mais recompensador e agradável.

Rápido e mortal

Abusando do visual, os desenvolvedores conseguiram atravessar os estilos reunidos nesse título com uma jogabilidade baseada em jogos hack and slash, fazendo com que tudo seja mais rápido e menos cadenciado ou estratégico. O esmagar de botões é inevitável, com explosões de cores quando inimigos são exterminados, portas estouradas e até mesmo ataques do ar para o chão, tudo para fazer com que você consiga atacar de todos os lados, inclusive com armas e itens à distância. Ser 2D e ter um bom level design favorece não somente a exploração, mas permite que todo o ambiente ao seu redor possa ser utilizado no combate, seja para esquivar ou atacar de maneiras mais eficientes. No entanto o frenesi faz com que a inspiração vinda da série Souls seja desperdiçada por não exigir um combate mais calmo e estratégico, perdendo espaço para a agilidade em atacar, esquivar e contra-atacar nos momentos oportunos.

Imagem do jogo Dead Cells
Esse misterioso Rei aparece no início e está ligado ao final de Dead Cells.

No fim o que permanece é um título independente que comprova a evolução dos jogos indies, merecedores de um lugar ao lado dos lançamentos AAA, cada vez mais completos e mais competentes em sua proposta de nos entreter. Com certeza Dead Cells conseguirá prender você por boas horas em diversas partidas, mesmo podendo ser finalizado em uma ou duas horas e com apenas quatro chefões.

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