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Achei que ficaria longe de JRPG por um tempo, mas quando vi o trailer de Destiny Connect: Tick-Tock Travelers a curiosidade falou mais alto. Ainda mais por oferecer combates por turno, uma paixão particular minha. Os personagens, incluindo um robô parecido com aquele verde do Android, imediatamente me resgataram o saudosismo dos tempos de Chrono Trigger e Breath of Fire IV. Sendo um jogo da Nippon Ichi Software (NIS), minha expectativa era bem alta.

Eis que Destiny Connect: Tick-Tock Travelers não é lá tão bom quanto parece. O começo é super lento, custando a empolgar o jogador com a história e introdução às primeiras batalhas. A trama gira em torno de uma garotinha chamada Sherry, que inicia sua aventura quando o tempo congela durante a contagem regressiva para o Ano Novo, em sua cidade natal Clocknee. A premissa é até interessante, permeando o bug do milênio (virada de 1999 para 2000), mas os diálogos e a própria narrativa não cooperam.

E o tempo parou…

Logo de cara fica visível que Destiny Connect: Tick-Tock Travelers foi concebido para atrair novos jogadores para o gênero. É um jogo leve, com gameplay fácil de dominar e que não sai da zona de conforto. E nada disso incomoda, exceto por um detalhe: o drama exacerbado e igualmente sem impacto. Mesmo nos momentos de maior tensão, o jogo falha em passar qualquer sensação de urgência ou excitação – mesmo com o excelente elenco de personagens.

Imagem do jogo Destiny Connect: Tick-Tock Travelers
Prepare-se para enfrentar inimigos como este, que não lava sua roupa direito.

O começo é basicamente um longo tutorial, que introduz o sistema de combate, habilidades, melhorias, gerenciamento de equipe, lojas, viagem rápida e assim por diante. A lentidão inicial da aventura ocorre por culpa deste cuidado desnecessariamente minucioso e compassado, que poderia ter sido aplicado de forma mais dinâmica – dando Tales of Vesperia como um ótimo exemplo. Mesmo as batalhas sendo o melhor do game, os primeiros adversários também não empolgam tanto quanto deveriam.

A aventura é focada em Sherry, ditando o tom do game em sua viagem no tempo contra máquinas invasoras. Ela é acompanhada pelo robô Isaac, montado por seu pai desaparecido para protegê-la, e seu amigo Pegreo, um atrapalhado inventor. O grupo, com a ajuda do cientista Dr. Cheatstein, viaja entre 1970 e 1999 para solucionar a origem do problema, enfrentando um pouco de tudo: TVs, liquidificadores, máquinas de lavar, telefones, torradeiras e até jukeboxes, entre outros eletrodomésticos possuídos. Os inimigos são bastante divertidos e me lembraram a maluquice da série Mother (Earthbound, aqui no ocidente).

Em termos de exploração, o jogo é bastante linear e apresenta um pequeno mapa para desbravar, exigindo que você complete os objetivos para avançar por áreas previamente bloqueadas. Tem viagem rápida pra tudo e dificilmente o jogador se perderá nas missões, de certa forma tirando qualquer margem para a curiosidade. É tudo muito raso, direto e reto, e até os NPCs são mal aproveitados, com diálogos que não aprofundam a história. No fim a aventura acaba sendo breve demais, mesmo com Truth e Altana ingressando o time, terminando em torno de 15 horas.

Imagem do jogo Destiny Connect: Tick-Tock Travelers
Isaac possui uma árvore de melhorias diferenciada, baseada em funções.

Potencial desperdiçado

Visualmente, o jogo tem seu charme mas certas decisões de design empobreceram a obra. Seja na versão de Switch ou PS4, ocorrem quebras de polígonos nos cenários, cinemáticas com queda de frames, a câmera vive bêbada durante a exploração e rola um exagerado efeito de desfoque em tudo. É assim também durante os diálogos, deixando os personagens praticamente flutuando na tela. Já os personagens principais e inimigos fazem jus ao estilo artístico escolhido, sendo seu ponto mais alto. Só não dá pra entender a falta de capricho no geral, uma vez que o jogo foi todo construído na Unreal Engine 4.

É no combate que o Destiny Connect: Tick-Tock Travelers brilha e mantém o interesse do jogador. As batalhas não ocorrem aleatoriamente; os inimigos estão visíveis nos cenários e podem ser evitados a qualquer momento. Se ele correr pra cima e encostar em você pelas costas, prepare-se para começar a batalha em desvantagem. A execução das habilidades os heróis promovem as melhores animações do game, possibilitando também a formação de combos. E como de praxe em jogos de RPG, você sobe de nível, ganha novas habilidades, passa a usar ataques elementais, equipar itens, mudar de roupa… Aliás, mesmo que Sherry use um secador de cabelo e Pegreo uma guitarra como arma, o robô Isaac rouba os holofotes em todos os combates.

Imagem do jogo Destiny Connect: Tick-Tock Travelers
Isaac deixa qualquer combate muito mais legal.

Isaac possui uma especialidade exclusiva: ele pode alternar entre 6 funções diferentes. Cada função muda seu visual, deixando-o ainda mais carismático. Ele se transforma em samurai, vaqueiro, boxeador e até bombeiro, cada função com habilidades distintas (curar, causar mais dano, etc). Suas melhorias envolvem vários níveis de engrenagem que você monta com peças adquiridas em combates e em baús. Sua importância é tão grande estrategicamente falando que, ao ser derrotado, você pode facilmente perder a batalha jogando com os demais personagens.

Embora Destiny Connect: Tick-Tock Travelers tenha seus defeitos, eu gostei da experiência. Claro, eu preferia um jogo mais robusto, com sistemas mais complexos, missões paralelas e uma história mais rica e inteligente. Vindo do Japão, é até estranho que este game seja tão simples em todos estes aspectos. Mas dá sim para se divertir, principalmente se você não se importar com a trama infantil ou estiver procurando um RPG descomplicado.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024