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“Uma experiência interativa pelas principais referências cyberpunk.” É dessa maneira que podemos resumir Dex: Enhanced Edition. Imagine como se escolhêssemos o que existe de melhor em Matrix, Blade Runner e, principalmente, Ghost in the Shell e William Gibson, para colocar no que poderia ser “o jogo dos sonhos”. O trabalho da produtora tcheca Dreadlocks consistiu em transformar os expoentes da cultura geek que ajudaram a definir muito dos produtos de entretenimento que temos hoje em dia, não no melhor jogo, mas sim em um bom metroidvania.

Com quase 12h de duração, a falta de originalidade na história acaba fazendo de Dex um apanhado de boas ideias executados com um belíssimo visual e trilha sonora agradável. Sempre com melhorias não pensadas para acompanhar a evolução que os games sofreram, este é mais um bom jogo indie que sofre por não acompanhar tendências da nova geração e que se encaixaria ainda melhor como um jogo de PSOne.

Mais um filhote de Neuromancer

Quando Matrix ganhou os holofotes do mundo, quem já conhecia o trabalho de William Gibson (autor de Neuromancer) percebeu que o filme dos irmãos Wachowski não tinha muita originalidade como todos comentavam. Entre os fãs de cultura cyberpunk, nada mais era do que uma releitura do Mito da Caverna, de Platão, com as ideias (e nomes) criados por Gibson em 1984.

Tecnologia, a solução e a ameaça para o ser humano.

Dex repete essa estratégia e reforça sua qualidade cultural ao trabalhar sobre elementos importantes desse universo. As barreiras entre o natural e o artificial são tênues e ocupam espaço na narrativa como consequência do avanço tecnológico por meio da atuação de grandes corporações; Estas responsáveis pelo futuro distópico e que funcionam como formadores do background para uma boa história futurista. Some a isso elementos como, por exemplo, super hackers, virtualidades, clonagem humana, implantes neurais e próteses biomecânicas.

A narrativa, além de apresentar características já conhecidas, também aborda temáticas já conhecidas: a decadência da sociedade, até mesmo como crítica social, a tecnologia como solução e ameaça, um vilão que surge como esperança da humanidade e um messias inesperado. A criatividade de Gibson ainda persiste depois de muitos anos, não pela falta dela, mas acredito que como forma de homenagem à este e vários outros expoentes. Prepare-se para encontrar tudo isso em um novo mundo a ser explorado, acompanhado de uma jogabilidade simples e com muitos diálogos.

Siga o coelho branco

Você está em sua janela, observando Harbor Prime banhada em neon ao longe, quando Raycast, uma inteligência artificial, entra em contato com você e pede para que você fuja das pessoas que logo em seguida surgem para captura-la. É com essa velocidade e senso de urgência que logo nos primeiros momentos do jogo você já conhece a base de toda a história. Infelizmente ela não nos dá muita abertura sem tocarmos em detalhes importantes e que podem soar como spoiler para quem quer ter toda a surpresa que o jogo reserva.

O grupo de heróis contra uma malvada corporação

No controle de Dex, a protagonista, você acaba se envolvendo em uma guerra entre hackers e o The Complex, uma organização responsável por manter a ordem, paz e, principalmente, o avanço tecnológico desse mundo. Toda tecnologia vem com um preço e cabe a você questiona-lo. Da noite para o dia você se torna uma messias responsável por evitar que os seres humanos percam sua humanidade e livre arbítrio.

Ao lado do ex-hacker Decker e Tony, um fanático por implementos tecnológicos, na primeira parte do jogo você precisará cumprir algumas tarefas que possam levá-la até Raycast e, consequentemente, ao desfecho do embate contra quem está por trás da corporação. Infelizmente quando o jogo arrisca em inovar e nos levar por um caminho novo nessa narrativa com tantos elementos conhecidos, o jogo chega ao fim, mas não antes de obriga-lo a explorar as diversas missões secundárias e as várias opções de diálogos. Tudo na tentativa de enriquecer ainda mais o jogo.

Mix de gêneros e erros

Gosto de conhecer novos títulos do gênero metroidvania, porém Dex não se contenta em ser enquadrado num único estilo de jogo. Para a minha surpresa, este título indie flerta com a jogabilidade do estilo plataforma, aventura e RPG. São vários elementos retirados de outros gêneros que compõem a maneira como conduzimos a protagonista contra a ameaça do The Complex.

Você não precisa de todas essas habilidades

O jogo conta com exploração 2D, com visitas e retornos aos quase 15 locais disponíveis em Harbor Prime, formando um mundo de possibilidades não-lineares que complementam a narrativa principal. Esse estilo de exploração retirados de Castlevania e Metroid acabam perdendo o sentido quando, após uma primeira visita, você pode fazer uma viagem rápida para os locais já visitados e eliminar a exploração por esse mundo. Por conta das várias missões paralelas, prepare-se para muito loading, mesmo que breve, entre teleporte e outro para as localidades do jogo.

Mesmo não sendo Deus Ex, Dex também aborda inteligentemente a presença dos implantes cibernéticos e as melhorias por meio da sua árvore de habilidades, ambas ligadas diretamente à narrativa do jogo. Mesmo contribuindo para a diversidade na maneira de jogar com a protagonista, esses são um dos problemas do jogo; seguindo a história e fazendo boa parte das side quests, você chegará ao nível 16 ou 17 (o que também dá direito à um troféu), porém quando você realmente começar a fazer uso das suas habilidades, o jogo chegará ao fim e você perceberá duas coisas: ou não precisávamos delas ou não teve tempo de se divertir com as melhorias.

Outro grande problema do jogo está no combate. Sem precisão e ignorando totalmente a física do jogo, sem contar alguns problemas por conta do cenário, os inimigos podem ser abatidos basicamente ao usarmos o pulo e chute, já que você precisará gastar um bom dinheiro com munição caso queira armamentos. Isso sem contar que a melhor arma do jogo só aparece bem próximo do fim e não nos deixa usa-la tempo suficiente.

Os mini-games de hacking são viciantes

Nem tudo são erros. Resgatando a virtualidade da Matrix, criada por Gibson, Dex é capaz de conectar ao cyberespaço sem precisar de qualquer aparato tecnológico, também conhecido como Jack (um plug neural). Basta apertar L3 para se conectar à rede e hackear dispositivos, câmeras, implantes neurais de inimigos e computadores. Para não deixar tudo muito simples e fácil, a Dreadlock foi muito inteligente ao criar um mini-game ao melhor estilo shoot ‘em up 2D, colocando você contra dispositivos de segurança e vírus que tentarão impedir a protagonista de roubar informações e dinheiro, além de liberar o necessário para prosseguir na história.

Charmoso à sua maneira

Um dos grandes destaques de Dex fica por conta do estilo artístico do jogo. Desenvolvido por meio de pixel art, a desenvolvedora tcheca acertou muito em interromper o jogo com sequências estáticas de quadros em aquarela e voice over para contar importantes acontecimentos. Muito bem detalhado durante o gameplay, todas as áreas do jogo são muito bem caracterizadas: os esgotos são realmente sujos em contraponto ao Red District, com sua luxuria. O mesmo acontece com a trilha sonora que pontua muito bem a característica de cada cenário, em alto e bom som, para auxiliar na imersão durante a exploração. Não somente os cenários são quase obras de arte pixeladas. Os personagens também acompanham todo esse cuidado visual e se tornam elementos muito bem detalhados; você conseguirá ver todos os detalhes da protagonista, inclusive durante a sua motivação.

Harbor Prime ao fundo no estilo visual de Dex

As duas áreas finais do jogo são muito bem construídas e complementam perfeitamente o desfecho do jogo. Tudo para fechar com chave de ouro a jornada da messias futurista e ambientar os vilões, os heróis e o local em que se encontra a salvação da humanidade, claro que sem antes te dar a possibilidade de questionar sobre qual caminho seguir. Ou seja, prepare-se para buscar por dois finais diferentes!

Como nem tudo são flores, o visual futurista do jogo tem uma grande falha (inexplicável) com queda de framerate durante os mini-games de hacking, fazendo com que a tela fique congelada por um segundo. Tempo suficiente para atrapalhar e causar a falha no seu progresso por conta do seu objeto ficar paralisado enquanto o restante do ambiente e elementos continuam se movendo em sua direção.

Edição definitiva

E por qual motivo um jogo lançado em 2015 merece a sua atenção somente agora, com o lançamento para os consoles dois anos após? Mesmo com a facilidade de salvar a qualquer momento do jogo, Dex possui uma história interessante e missões paralelas agradáveis, que complementam e aprofundam os personagens e o universo cyberpunk criado pela Dreadlock.

Dex, a Messias do futuro

Além disso, essa nova edição conta com três trajes especiais (InvisiSuit, Cyberwear e BattleRig), obtidos por meio das missões, além de melhorias do jogo lançado inicialmente para computadores. Melhorias na inteligência artificial dos inimigos, ainda longe do perfeito, a possibilidade de utilizar armas enquanto se movimenta e melhorias nos efeitos sonoros são diferenciais da Enhanced Edition.

Infelizmente muitos erros persistem mesmo com dois anos de oportunidade para arrumar o que já foi sinalizado anteriormente pelos fãs, porém acredito que o foco desse título está para os amantes desse universo e de jogos como Deus Ex e Shadowrunner. Um público seleto, até mesmo conquistando quem se mantém longe dos games e imerso na literatura, mas que pode encontrar na jogabilidade facilitada de Dex uma oportunidade de um novo conteúdo que entrega muito bem o universo criado por William Gibson.

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