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Nos dias de hoje, vemos cada vez mais jogos tentando ultrapassar a barreira de simples ferramentas de diversão para experiências tocantes, emocionantes e memoráveis. Seja por meio de mecânicas inovadoras ou histórias comoventes. Então o que esperar de Distortions? O jogo da brasileira Among Giants vêm recebendo atenção desde que se mostrou o grande destaque no BIG Festival, sendo inspirado por grandes obras tanto do cinema quanto dos videogames, tais como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Onde Vivem os Monstros, Silent Hill 2, The Legend Of Zelda e Shadow of the Colossus. Será que o Distortions realmente responde às expectativas que foram criadas?

Infelizmente não. Exatamente igual ao que ocorre à protagonista, o jogo é uma verdadeira catástrofe. Mesmo com os 9 longos anos de trabalho do time brasileiro, a experiência final não consegue deixar de ser algo bem raso. Minhas esperanças eram de encontrar uma experiência incrível e tocante, tal qual Hellblade: Senua’s Sacrifice. Porém foi algo mais como algum tipo de minissérie produzido pela rede Globo, aonde acompanhamos uma garota sem nome e com personalidade de uma pessoa recortada em papelão interagindo com a lembrança de seu ex-namorado, uma pessoa misteriosa que deixa anotações; tudo isso acompanhado de uma anta gigante ciclope e algumas sombras que irão pular em você até a morte.

Parece que começamos bem logo de cara.

Memórias distorcidas

No início do jogo somos bombardeados por cenas do que irá acontecer neste mundo no qual fomos inseridos, sendo algo como um sonho para a garota, que agora está presa neste vale de lembranças. Pouco depois descobrimos que ela se encontra nesta situação após sofrer um acidente mágico e inexplicável de carro – um acidente que mesmo meus anos de experiência em mecânica automotiva não conseguem achar razões para ocorrer. Somos introduzidos lentamente à história da menina (através da voz de um psicólogo), o monstro que está no centro de tudo e as constantes aparições da memória de seu ex-namorado, que se encontra preso neste vale de memórias distorcidas.

Parece confuso, certo? Melhor ir se acostumando, pois o jogo inteiro é assim. Após essa pequena exposição do que é este mundo, o que o monstro e seu ex-namorado possuem em comum e o famigerado acidente de carro, prepare-se para uma constante busca de páginas de um diário espalhado por este mundo. Porém como o próprio nome do jogo diz, muita das informações estão ou são distorcidas pelo fato de serem lembranças da garota. Seu nome? Esquece… A única informação que recebemos sobre a protagonista é que ela tinha uma irmã e que tocou em uma banda punk (os motivos dela ter esse violino e a capa de chuva).

Em alguns momentos somos levados aos “Locais brancos”. Geralmente é nessa hora que o ex-namorado da garota surge, com revelações sobre o passado que tiveram, sobre si mesmo, sobre ela e o porquê de tudo estar como está. Infelizmente o tema é mal abordado e tratado em relação a outros títulos que fazem alusão a temas semelhantes, como o já citado Hellblade: Senua’s Sacrifice.

Alem de toda a confusão que a história consegue gerar na cabeça do jogador, certos acontecimentos simplesmente não batem com a realidade, como a história contada sobre um rei, que para poder impressionar seus visitantes criou uma sala feita toda de mármore em seu palácio. Porém em uma reviravolta “filosófica” temos a revelação de que tal empreitada fora em vão e que o rei desperdiçou todo seu tempo matando elefantes em vão. Como a Among Giants deixou passar no produto final a confusão entre mármore e marfim? Outra grande dúvida que ficou na minha mente foi a questão do acidente: nem se a roda saísse do cubo, a junta homocinética estourasse e a bandeja quebrasse simultaneamente faria com que o carro desse um mortal desses.

Momento exato em que o carro incorpora a Daiane dos Santos.

Controles distorcidos

Os controles de Distortions são algo a se notar, além da rigidez com a qual a garota se move. Vemos que andar, pular e correr são tarefas árduas, pois para nossa heroína (que parece fumar 12 carteiras de cigarro por dia) após 6 segundos de corrida já temos de parar para recuper o fôlego. Isso sem falar do grave caso de artrite que a mesma sofre, pois dobrar as pernas enquanto toca o violino e movimentar os dedos em volta do braço do instrumento e da haste se mostram tarefas imensuráveis. Tudo isso combinado com sua rigidez monolítica, capaz de fazer com que mesmo após receber na cabeça um pedaço de entulho ou madeira sequer recua ou move a cabeça, se mostrando uma verdadeira porta de aço.

O mundo ao redor da protagonista realmente é interessante de se observar, enquanto o cenário das montanhas é algo muito diferente, utilizando uma paleta de cores amarela e roxa e algumas cenas bem trabalhadas. Mas acaba por aí… Os locais no quais o jogador realmente interage com o mundo parecem tirados de antigos jogos de exploração. Ilhas, cavernas, florestas e o oceano com sua jangada totalmente disfuncional no qual pilotamos ao pisar em setas.

Eu realmente esperava que o violino fosse um instrumento interessante de se utilizar, porém foi exatamente o contrário. Durante o jogo temos acesso a cinco músicas, que nos tornam inaudíveis, criam barreiras, pontes, iluminam o caminho ou levantam objetos. Tirando isso em alguns poucos momentos que podemos contar nos dedos podemos utilizar o modo livre, aonde seguindo as notas escritas em paredes ou no diário podemos alterar algo naquele mundo.

O combate é inexistente, não há nada que se possa fazer contra as sombras a não ser correr. Caso elas te alcancem você será sarrado até a morte por elas, então aconselho usar a música silêncio e correr como se não houvesse amanhã. Quero dizer, se o jogo permitir – constantemente caí em buracos que surgiam do nada, movimentos da câmera que empurravam a personagem para quedas, objetos “clipando” pelo cenário, incluindo o jogador, saídas que resetavam a cena e mapas que não renderizavam.

Contando com músicas de bandas como Labirinto, Dredg e Hopesfall em determinados momentos do gameplay, e uma trilha original do game em si, para um game musical eu tenho que admitir que em certos momentos ele consegue ser extremamente silencioso. Em determinadas partes do jogo, caso você esteja perdido é possível procurar por “pistas sonoras” que irão lhe guiar pelo caminho certo.

“Dona, eu já disse que não vou tocar Pais e Filhos!”

Promessas distorcidas

Infelizmente Distortions foi um daqueles jogos que prometeu muito, jogou o hype lá em cima, porém não cumpriu metade. Não há momentos que remetam a Shadow of the Colossus, e os momentos que deveriam nos deixar tensos como Silent Hill 2 mais me estressaram com as mecânicas quebradas do que assustaram. Ao meu ver, entrar em caverna para achar música, maçã ou páginas de diário não lembra The Legend of Zelda. Em relação à suas inspirações cinematográficas, Distortions me lembrou mais The Room do que Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.

Eu realmente não consigo me ver indicando este game para ninguém, o que é uma pena. Sinceramente eu queria que este jogo fosse um grande sucesso. Após 9 anos de desenvolvimento as expectativas eram altas, porém o jogo não passa de uma experiência prepotente. Perto de grandes jogos lançados no Brasil, Distortions fica como uma experiência apagada e totalmente suscetível a um esquecimento distorcido.

“Ô dona! Libera eu aqui rapidinho! Só quero ir ali comprar um cigarro solto e fazer um jogo da Mega”

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