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É curioso notar como o campo dos indies se tornou cada vez mais desavergonhado ao longo dessa atual geração, encontrando muitas vezes uma maneira de se destacar através de um senso de humor único ou pela autoconsciência. Muitos pensam diretamente na Devolver Digital quando falamos disso, mas é ótimo ver também que outros projetos nada tímidos surgem de diferentes estúdios e publishers. A Square Enix Collective, perdeu força com o tempo, mas rendeu ótimos games como Forgotton Anne e Octahedron. Felizmente, existem pequenas publishers como a Plug In Digital, que agora lança o aguardado Double Kick Heroes. 

Desenvolvido pela adequadamente chamada Headbang Club, o game se apresenta de forma bastante peculiar, sendo um híbrido de jogo de ritmo com shoot ‘em up. A cada fase, há uma faixa musical para a qual o jogador deverá executar comandos ritmados, no estilo Guitar Hero – só que horizontal. Mas existe um detalhe: a banda está a bordo de um cadillac armado até os dentes que corre de hordas de zumbis, animais infectados, gangues pós-apocalípticas e criaturas infernais. Portanto, além de fazer a melhor pontuação com a música, acertar os ícones no ritmo certo faz com que o veículo efetue disparos em direção aos zumbis, que não devem de maneira alguma encostar no carro. 

Bate pé, bate cabeça

Claro que há mais do que isso para o gameplay. Em Double Kick Heroes, não basta acertar os ícones e disparar contra os mortos-vivos, mas é necessário ter precisão caso não queira ser logo massacrado. Cada acerto preciso enche uma barra de ataque que se divide em três níveis, passando de um fraco disparo de pistola a um tiro mais espalhado de shotgun e, por fim, aos projéteis poderosos de um lança granadas. Isso, no caso, serve para os ícones amarelos, que representam os pedais da bateria. No caso dos pratos, os ícones se tornam vermelhos e enchem uma única barra que dá ao jogador uma granada para despedaçar as hordas cada vez mais populosas. 

Imagem do jogo Double Kick Heroes
Não é só um coelho.

Quanto melhores os acertos, mais rapidamente essas barras se enchem. Mas dependendo da dificuldade escolhida, existem outros aspectos para a jogatina que remetem a títulos tradicionais do shoot ‘em up. Durante as batalhas com chefes, por exemplo, por vezes é necessário conduzir o cadillac para desviar de um ataque poderoso, trocando de faixa com o movimento vertical do analógico esquerdo. É aí, no entanto, que surge um problema: apesar da caixa onde devemos pressionar os ícones alertar visualmente sobre a necessidade de desviar de um ataque, inclusive indicando para qual direção, é neste momento que notamos o quão pouco pode ser aproveitado das telas em pixel art do jogo. 

Como o próprio preview do nosso Felipe Vairo apontou, o jogador estará sempre olhando para um mesmo canto da tela a fim de acertar os ícones no ritmo certo, e esse processo, a meu ver, mostra-se rapidamente cansativo para os olhos devido à nossa incapacidade natural de acompanhar os ícones na velocidade extrema com que passam pela tela, logo tornando-se um tanto borrados e difíceis de acertar 100% do tempo.  Esse movimento constante da visão da direita para a esquerda realmente gera um pouco de fadiga, mas sabemos que este jogo não seria tão possível com uma faixa vertical para os ícones. Então acaba sendo uma questão de costume, que inclusive pode ser aliviada pelas diferentes opções de dificuldade e velocidade disponíveis. 

Mesmo que as telas não sejam devidamente aproveitadas em meio a essa correria doida, Double Kick Heroes consegue chamar bastante atenção pela quantidade de easter eggs que traz em sua ambientação pós-apocalíptica. Em um certo momento, houve até uma referência impagável ao clássico Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado, e no restante das fases não faltam pequenas homenagens inspiradas como essas exibidas abaixo (veja atentamente e logo vai encontrar). O jogo até corre o risco de se apoiar demais sobre as referências e esquecer da originalidade, mas é tudo geralmente tão espirituoso e bem encaixado que esse humor autorreferencial não soa totalmente como uma muleta. 

Imagem do jogo Double Kick Heroes
O jogo dos sete easter eggs.

Nada substitui uma personalidade

Aproveitando o tópico do parágrafo anterior, vale dizer que o modo história de Double Kick Heroes é muito bem apresentado, com a premissa rapidamente estabelecida e um elenco de personagens cujas interações são sempre divertidas de acompanhar. Dividindo as fases através de um mapa que remete a um tabuleiro, a campanha intercala os níveis com pequenos ambientes internos por onde os protagonistas passam para descansar. Cada um deles apresenta novas personagens coadjuvantes e expande o contexto da maluquice que ocorre, e tais ambientes são lotados de novos easter eggs e diálogos adicionais. É uma boa escolha para dar ao jogador um respiro entre os surtos de metal. 

Só é uma pena que a desenvolvedora não soube estruturar sua campanha tão bem assim em alguns momentos. Às vezes, me vi completando um nível para voltar a um desses ambientes seguros, para depois ir a outro nível e retornar ao “hub” novamente, só para apertar um botão que executa uma linha de diálogo e habilitar uma nova fase no mapa. Não é algo tão frequente, já que a campanha se move bem rapidamente, mas a história poderia ter ganhado um ritmo ainda mais alucinado caso conseguisse condensar alguns desses momentos expositivos e resolver mais detalhes da história na estrada. Mas repito: é apenas uma pequena insatisfação. 

Falando em satisfação, Double Kick Heroes oferece bastante conteúdo além do modo campanha. Tirando o modo arcade, que traz as fases sem os momentos de história no meio, há os modos Portão do Inferno, que traz músicas de artistas convidados para desbravar, e Estrada da Fúria, que conta com corridas diárias onde podemos desbloquear novas peças de customização para o cadillac e disputar com outros jogadores numa leaderboard. São duas boas maneiras de manter o jogo ativo, já que como a maioria dos bons jogos de ritmo, é muito fácil sentar e começar a jogar só pra dar aquela relaxada após um dia estressante. 

Imagem do jogo Double Kick Heroes
As músicas dos convidados prometem trazer ainda mais valor ao jogo.

Imperfeito mas esbanjando personalidade, o jogo da Headbang Club tem aquele ar pulp irresistível que marcou tantas obras despretensiosas do cinema de gênero, como Evil Dead, Todo Mundo Quase Morto e metade da filmografia de Peter Jackson. São, afinal, produções simples que superaram seus baixos orçamentos por meio da criatividade. Por isso, Double Kick Heroes consegue fazer um balanço admirável entre suas qualidades e limitações, sendo no fim das contas um título com intenções muito honestas e diretas. Ou seja, se você foi cativado pela premissa deste game, é muito provável que o resultado final não irá te decepcionar, e sim aquecer seu coração com metal nestes tempos difíceis.

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