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É muito gratificante ver o resultado do trabalho, esforço e dedicação de um estúdio nacional dentro do cenário indie. Eliosi’s Hunt, desenvolvido pelos brasileiros Tiago e Daniel Zaidan, chega para PC e PS4 ocupando um importante espaço dentro do panteão de grandes representantes no mercado de games. O trabalho do estúdio TDZ Games comprova que nós também temos condições de desenvolver jogos que trabalham com elementos de jogabilidade das gerações passadas, além de acompanhar o que se exige atualmente em questão de gráficos e trilha sonora.

Uma divertida jornada que parece ter saído de algum seriado criado por J. J. Abrams, em que a exploração espacial vem acompanhada por personagens e ambientes com características e visuais marcantes. No papel de um pequeno caçador de recompensas alienígenas, você vai conhecer os mais belos e perigosos locais, cada um com seus desafios que com certeza vão agradar os gamers mais habilidosos.

Gênero: fan service

Com pouco apelo narrativo e com maior foco na jogabilidade, acompanhamos superficialmente a aventura de Eliosi e seu droide pela busca de criaturas e entidades que configuram as maiores recompensas. Isso é tudo o que você terá de história durante o jogo, começando com o anti-herói deixando de lado o seu descanso em um bar estelar para partir em busca dos seus alvos colhidos diretamente em um painel de anúncios. Também temos algumas poucas sequências animadas entre uma missão e outra, mas sem nenhuma adição à narrativa. O destaque realmente fica em como os desenvolvedores trabalharam as opções para level design, visual, jogabilidade e trilha sonora, focando em explorar influências que contribuíssem para criar um gameplay simples e fluído.

Tecnologia de ponta para caçar criaturas

Mesmo optando pela visão isométrica, Eliosi’s Hunt consegue trabalhar características que lembram Crash Bandicoot e Zelda, ao misturar elementos do gênero plataforma e aventura, com o personagem principal precisando ultrapassar obstáculos, plataformas elevadas e até mesmo correr para sobreviver ao perigo que vem destruindo o cenário atrás de você! Com maestria, também temos o resgate de jogos shmup como Enter the Gungeon e Dead Nation, trabalhando com os dois analógicos para o ataque à distância. Esses são alguns jogos que com certeza fizeram parte da infância de Tiago e Daniel Zaidan, além de nortearem o estilo de combate mais atual, e que hoje servem de recursos para enriquecer a experiência durante as 5 horas que esse lançamento nos proporciona.

Engraçado perceber que mesmo estando na atual geração, a TDZ se limitou como se estivesse na mesma época das suas referências vindas do PSOne e SNES; com uma jogabilidade linear e sem muitas opções, que se resumem ao caminho principal e pequenos desvios para instigar a exploração em busca de colecionáveis, o desafio fica por conta de se manter vivo, achar todos os itens escondidos e, na minha opinião o mais difícil, cumprir o tempo estabelecido para passar de fase. Esse último é praticamente uma indicador da sua habilidade e competência, já que em alguns cenários você tem apenas cinco minutos e, no meu caso, me sentia um completo incompetente por realizar a mesma façanha em 40 minutos. O que não estava claro de início é que esse tempo só é possível depois de realizar diversos upgrades na árvore de habilidades e se beneficiar do power-up existente nos checkpoints.

Apenas como curiosidade sobre o desenvolvimento do jogo, as referências chegaram até os irmãos e fundadores do estúdio tupiniquim através de Fernando Zaidan, o pai dos responsáveis por Eliosi’s Hunt. Tiago e Daniel passaram horas assistindo o pai jogar Crash e outros jogos, sem contar o apoio dele ao acesso quando crianças. Não se resumindo apenas ao apoio financeiro e familiar, mas também como gerente do projeto e do estúdio, o Sr. Zaidan participou direta e indiretamente com grande importância para recebermos um jogo recheado de elementos familiares e gratificantes ao serem reconhecidos como herança de um passado gamer.

Criatividade para matar, morrer e retornar

Durante sua caçada, você enfrentará diversos inimigos e precisará ultrapassar obstáculos utilizando suas habilidades básicas de tiro, pulo e dash. Para não ser mais um jogo desse estilo com as mesmas mecânicas de sempre, a criatividade é um dos pontos fortes e também o destaque na proposta de inovação que um título indie merece. É fácil perceber que todas essas questões de ataque, movimentação, habilidades e equipamentos foram pensadas para acompanhar o ritmo frenético dos combates e as possíveis maneiras que encontramos para sobreviver.

As batalhas contra os chefes realmente são desafiadoras

Talvez algumas possam até ser irritantes como, por exemplo, não carregar duas ou mais armas diferentes ao mesmo tempo, porém essa limitação dá mais dinâmica ao jogo e exige um maior senso estratégico de quem está jogando; afinal, nunca sabemos o que vamos encontrar pela frente. O único problema desse artifício é perceber que você pode limpar um cenário até o chefão (sem morrer) e voltar para pegar suas armas, inclusive durante a luta do chefe, caso o cenário permita, para usar armas mais poderosas. Para isso basta você escolher corretamente o seu checkpoint ou morrer próximo a ele e deixar a arma mais forte para o seu próximo respawn.

A maior inovação fica por conta do checkpoint que, além de você poder salvar o seu progresso até determinado ponto de cada missão, você também tem a escolha de destruí-lo para deixar Eliosi mais rápido; quase como uma mecânica de bônus para XP. Sem usar a zona segura de alguma fase, você precisa montar sua estratégia: se vale a pena ficar mais rápido para enfrentar o que vem pela frente e, caso fracasse, percorrer novamente uma área maior, ou se usa normalmente o checkpoint e conta com sua velocidade padrão. Nunca consegui passar de três upgrades de velocidade em uma única fase, porém confesso que não notei uma diferença muito grande no quão rápido meu personagem passou a se mover.

A estranha árvore de habilidades e os upgrades que farão você retornar ao jogo diversas vezes

Todas esses fatores e inovações, além dos equipamentos extras como, por exemplo, pulo duplo e jetpack, servem prioritariamente para um fator importante de Eliosi’s Hunt: replay. Seja pela quantidade de vezes que você vai morrer, e sim, você com certeza morrerá inúmeras vezes, você precisará retornar nas missões após obter vários upgrades. Para consegui-los você precisará explorar cada cenário atrás de colecionáveis, senão não será possível instalar as melhorias mecânicas em seu alien caçador de recompensas. A importante questão é: será que vale a pena eu buscar todos os itens sendo que com poucos upgrades eu consegui chegar até o quinto cenário? Mesmo com várias derrotas, nada é impossível, afinal você pode usar seus checkpoints para favorecer seu progresso. De qualquer maneira, seja morrendo várias vezes ou retornando por vontade própria, esse é um jogo com alto fator replay e acompanhado de troféus para premiar os mais persistentes.

Beleza que engana

Desenvolvido em Unreal Engine 4, o visual não decepciona em momento algum. Colorido, diversificado entre as missões e com detalhes muito bem representados visualmente como, por exemplo, a movimentação dos inimigos ou o andar e pular do nosso anti-herói. Tudo para favorecer um level design que possui diversos itens obrigatórios para tornar a jornada de Eliosi ainda mais complexa: plataformas móveis e falsas, lasers, labaredas, rios congelantes, armadilhas escondidas e muitos inimigos pela frente. São esses detalhes, muito bem executados visualmente e posicionados estrategicamente, que podem irritar até mesmo os gamers mais experientes.

Tente pular e tente em vão

Infelizmente, o gameplay possui algumas falhas na movimentação, principalmente na física ligada ao pulo do personagem, em que com certeza você morrerá por ele ser catapultado pela própria velocidade pré-salto ou ao achar que vai pousar em algum determinado local e errar por ajuste que o jogo impõe ao personagem. Pular em pilastras, atravessar correntezas através de plataformas que derretem ou por cipós que se movem, inevitavelmente virão acompanhados de morte nas primeiras tentativas. Sem contar a dificuldade em reconhecer onde você está quando o personagem se afasta do chão, não necessariamente ao enfrentar um obstáculo, mas também quando precisa pular para escapar de algum inimigo ou ataque. Mesmo sendo o principal ponto fraco do jogo, acredito que seja possível de ser arrumado com patches de atualização.

Talvez devido ao frenesi da correria e por ser um jogo que busca pela ação ininterrupta é que ele cometa esses pequenos erros. Prova disso é a trilha sonora que acompanha brilhantemente e em momento algum acaba se tornando um chiclete por ser repetitiva. Com certeza ela foi muito bem trabalhada para acompanhar o crescente que todas as fases possuem, da calmaria no começo para as batalhas insanas contra os chefões e suas diversas formas de comportamento e ataque.

Uma possível guerra nas estrelas

Com um desafio imenso a ser vencido e poucos deslizes, que são passíveis de atualizações, Eliosi’s Hunt realmente impressiona por comportar uma jogabilidade agradável e simples. Tire o pequeno alienígena e coloque qualquer Caçador de Recompensas do universo de Star Wars e o estúdio brasileiro TDZ Games teria a oportunidade de criar algo para Greedo ou qualquer outro personagem da franquia pelo seu universo expandido. Diferente da franquia Souls, esse jogo mantém a questão de recompensa e aprendizado, porém entrega uma experiência divertida e visualmente agradável, sem perder o charme dos jogos indies. Com certeza um mérito do esforço e capacidade dos desenvolvedores nacionais, que merecem cada vez mais oportunidades.

Já vimos isso em Crash Bandicoot

Por esse motivo deixo os meus parabéns para o estúdio e espero que as críticas construtivas possam otimizar o trabalho já realizado para que cada vez fique mais divertido passar algumas horas no papel desse pequeno e azulado alien. Quem sabe com mais fases via DLC, não é mesmo?

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