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Fairy Tail chega num momento bem delicado dos games baseados em animes. Mesmo com um sucesso considerável, apesar disso a Bandai Namco saturou o mercado com o gênero de luta 3D sem muitas variações de um para o outro. Naruto, One Piece, My Hero Academia e vários outros seguiram por esse estilo. Porém a Koei Tecmo saiu do padrão e apresentou uma versão competente de Attack on Titan 2 e agora quer reproduzir a mesma experiência na guilda mais poderosa dos mangás.

Fugindo do estilo de luta e aventura, a história percorre o gênero de RPG para transmitir essa aura fantasiosa que a animação passa. Contando com vários personagens famosos da franquia, incluindo suas principais técnicas e habilidades e com vários ambientes para explorar, a ideia é criar a versão perfeita para os consoles de mesa. Porém, nem toda magia se sai bem e, mesmo com acertos, a diversão não parece ter tanto MP quanto deveria.

Conhecendo Fairy Tail

É impossível falar de um jogo de Fairy Tail sem explicar o contexto em qual está inserido. O mangá surgiu em 2006 e finalizou em 2017, com o anime sendo exibido entre 2009 e 2013, com outras duas animações vindo na sequência para mostrar os capítulos finais da história. Desde então, nenhum game foi desenvolvido para consoles de mesa. Versões dele para o universo dos jogos apareceram apenas via mobile, Nintendo DS e PSP. Ou seja, mesmo para algo relativamente antigo no Japão, um título desses sair para PS4, Nintendo Switch e PC em 2020 é algo inédito.

Dito isso, é hora de falar do game. Confesso que me desapontei muito nos primeiros cinco minutos dele. Você já começa no Arco da Ilha Tenrou, onde rola o exame para os magos subirem à classe S. E enfrentando o vilão final da saga. Ou seja, toda a história do início, do desenvolvimento dos personagens, de conhecer e se aproximar deles foi pulado por cerca de 100 episódios. Nem mesmo essa saga é respeitada, já que o início dele é justamente no combate final.

Imagem do review de Fairy Tail
Como essa galera toda parou ali? Ninguém explica.

Imagina alguém que está começando a ler ou a ver a animação agora, adquirir o título e tomar, no mínimo, uns cinco spoilers logo de cara, sem nem dar tempo de piscar. Não é o meu caso, já que acompanhei os quadrinhos em sua devida época. Porém sempre pensamos na variedade de ritmo das pessoas e isso desestimularia qualquer um que não tenha visto no mínimo essa quantidade de capítulos. E ouso dizer mais, achei completamente descabido, já que não houve nenhum game anterior ou recapitulação que mostre os eventos passados.

Com outro spoiler em mãos, infelizmente, você tem um salto temporal de sete anos desse arco para o próximo, com a guilda reduzida ao limbo e você sendo responsável por reerguer ela através das missões dadas pelos habitantes da cidade de Magnolia. A cada missão realizada, o ranking da guilda sobe e você vai ganhando itens e experiência para prosseguir. O objetivo é único, fazer a Fairy Tail ser a número 1 novamente.

Imagem do review de Fairy Tail
Você pode passear por Magnolia atrás de missões.

Porém, aí chegou o segundo baque que o título tinha a oferecer. Você começa com Natsu e Lucy, podendo realizar tarefas com outros membros para depois incluí-los em sua equipe. E aí que mora o perigo, já que esse trecho inicial de Fairy Tail é mais arrastado do que a espera para informações sobre a nova geração de videogames. E olha que estou sendo bonzinho, pois você passa fácil 4 a 5h completando missões genéricas e sem adição alguma no enredo principal.

Digo isso por que eu pulei a história, por já conhece-la, e avancei que nem louco para ver até onde essa enrolação prosseguiria. Também compreendi a razão de ser tão difícil produzirem RPGs de animes e mangás, já que os monstros que aparecem também são completamente descartáveis e sem carisma algum. Nenhum deles apareceu anteriormente no material original, o que é justificável por não terem sido criadas junto aos personagens. Eles servem só para você grindar e não prestar muita atenção nos detalhes ou em seu lore, de qualquer forma.

Imagem do review de Fairy Tail
O exército de criaturas genéricas ataca novamente.

A magia não está aqui

Apesar de tudo isso, o sistema de batalha é bem interessante e se destaca. Você tem um quadrado dividido em 9 áreas, cada uma preenchida com um monstro. Seus ataques tem uma abrangência, seja de dois quadros para os lados ou para trás, três em formato de L, um mega quadrado com quatro e por aí vai. Os monstros se movem por ele, gerando ainda mais estratégia e pensamento analítico para vencer os combates.

Os combos também são muito bem-feitos, contando com cenas animadas e os principais ataques e técnicas que você já deve conhecer do material original. Inclusive, participam personagens que não estão na sua equipe, mas te dão todo suporte nas batalhas. Isso achei muito bacana e realmente dá a sensação de que os heróis escolhidos estão fazendo parte de algo maior.

Imagem do review de Fairy Tail
Os golpes especiais são muito bem-produzidos e causam estrago.

Em todos os demais fatores, Fairy Tail mostra um trabalho mediano. O jogo funciona devidamente, tudo está em seu devido lugar como o ABC do RPG, porém não mostrou nada de extraordinário ou um nível de criatividade que chamasse atenção. A falha dele está mesmo nos erros de direção e escolhas que tomaram. Pular 100 episódios sem mais nem menos, não ter um tema de abertura, interações genéricas e não explorar a verdadeira magia da animação foram estruturas que não deviam ter sido concebidas dessa forma.

Até mesmo a exploração em Magnolia ou visitando a casa de Lucy parece algo sem vida e que faz apenas porque o roteiro ou o próprio jogo te obrigam. Essa é a principal palavra que enfrentei com ele, obrigação. Fui obrigado a fazer várias missões para desbloquear personagens, liberar funções da guilda, descobrir lugares novos e entender melhor as motivações daqueles magos que passaram sete anos desaparecidos.

Imagem do review de Fairy Tail
Nem o poder da amizade salva esse título.

O primeiro momento que consegui ter liberdade para explorar e fazer o que queria, já estava desencantado. Do nível 5/6 que estava preso nas tramas que o jogo te força a realizar, pulei para o 13 enquanto aprendia novas técnicas e expandia o potencial da minha equipe. Se tivessem deixado essa evolução do enredo junto à liberdade, apesar das falhas, teria divertido muito mais logo de cara.

Mesmo com as piadas, o humor e até o sex appeal desnecessário que carregam Fairy Tail não salvam o título de ser maçante e bem básico. Se você é muito fã e curte a franquia, recomendo com ressalvas. Se assistiu ou leu bastante, vale a pena e não terá problemas em avançar enquanto percorre os eventos do Torneio de Guildas em diante. Se não chegou nesse ponto, se poupe de levar spoilers e ficar confuso com algumas coisas que rolaram até esse ponto.

Lembro de até ter comentado com amigos, se tivesse inserido uma outra roupagem com personagens inéditos e uma história nova com essa mesma mecânica, teria empolgado mais. Porém, carregando o nome de uma série tão famosa do autor Hiro Mashima, infelizmente a expectativa era que tivesse avançado em alguns padrões durante o gameplay e não foi o que vi. Para alguém que jogou Jump Force, Dragon Ball FighterZ, Attack on Titan 2 e esperava uma baita homenagem a Natsu e aos demais, devia ter continuado apenas na memória.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024